Neste ano, o Conselho Federal de Medicina autorizou o Sistema Único de Saúde (SUS) a cobrir a cirurgia de readequação sexual de transexuais femininos, ou seja, mulheres que desejam se transformar em homens. No Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, o processo, entre cirurgias, tratamentos psicológicos, psiquiátricos e endocrinológicos dura em média quatro anos.
Desde 1998, a operação em pessoas transexuais masculinos foi liberada no Brasil, entretanto, era como experimento em hospitais públicos e universitários. Mas, apenas em 2002 a cirurgia em transexuais femininos foi autorizada.
De acordo com a dra. Elaine Frade Costa, endocrinologista Clínica e médica assistente do Serviço de Endocrinologia do HC, dos 350 pacientes atendidos, cerca de 30% são transexuais e podem realizar a cirurgia. "O transexual é um indivíduo que faz tudo para se transformar no outro sexo, não importa o que você imponha para ele", explica.
O diagnóstico, que é o primeiro passo, precisa ser feito com atenção. O dr. Alexandre Saadeh, psiquiatra do HC e professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo afirma: "A diferenciação é importante, pois nem todos podem ir para a cirurgia e se beneficiar com ela. Alguns podem se desestabilizar e até mesmo enlouquecer nos casos extremos." Ele completa que a pessoa que deseja realizar essa cirurgia não deve ter outro diagnóstico psiquiátrico grave.
Após ter certeza que a mulher é transexual, começa o tratamento de reposição hormonal com a testosterona, que é responsável pelo aumento da disposição física e do desejo sexual. Esse processo acontece durante toda a vida do paciente, com intervalo de 15 a 21 dias e não pode ser interrompido. "A falta do hormônio, tanto no sexo masculino,quanto no feminino causa danos. Ele pode desenvolver osteoporose e fraqueza muscular", explica a endocrinologista.
Passos da Cirurgia
Enquanto o corpo e a mente vão se transformando gradativamente, acontecem o processo cirúrgico de readequação sexual . Ao todo são quatro cirurgias irreversíveis, que se realizam com intervalos de seis meses, totalizando dois anos.
A primeira intervenção cirúrgica é a retirada de mamas. Nela, as aréolas também são redefinidas para que fiquem semelhantes às masculinas. Segundo a dra. Elaine, os seios incomodam muito aos pacientes, que antes da cirurgia chegam a esconde-los com faixas e roupas largas.
Em seguida são extraídos o útero e ovários e a parte superior da vagina por laparoscopia ( introdução de uma lente por uma cisão no abdômen). Essa cirurgia é importante porque a reposição hormonal pode vir com o tempo determinar mais doenças uterinas, esclarece a dra. Elaine.
A próxima operação é a colpectomia, que é o ressecamento e a retirada do canal vaginal. Na sequência realiza-se a genitoplastia, quando os grandes lábios passam a ser uma bolsa escrotal, que envolve duas próteses de silicone, simulando os testículos.
A ortofaloplastia é a última cirurgia e pode ser uma das mais impactantes. Nela, o clítoris é liberado da pele que o prende a pelvis, e torna-se um pênis com quatro ou cinco centímetros. A uretra, canal por onde passa a urina, é alongada e colocada no orgão. A partir dessa cirurgia, a pessoa pode urinar em pé, ter ereção e ejacular o líquido que anteriormente umidecia a vagina.
Satisfeita, dra. Elaine, que acompanha todo o processo de tranformação dessas pessoas, afirma que se realiza com seu trabalho. "São pacientes sofridos, que foram muito discriminados. Eles sempre vêm , acham que todo mundo quer matratá-los. Me sinto realizada e acho que faço um bom trabalho, porque os meus pacientes foram todos muito bem adaptados", finaliza a médica.
As pessoas transexuais que desejam passar pelo processo de readequação sexual podem entrar em contato com o Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS) do HC pelo telefone (11) 3069-6576 e marcar a triagem. Elas são realizadas às sexta-feiras, a partir das 08h30 com o direcão do dr. Alexandre Saadeh.
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