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Saúde

Unesp testa nanodrogas após cirurgia de catarata

Unesp testa nanodrogas após cirurgia de catarata

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:30

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um tratamento com nanodrogas que poderá substituir o uso de colírios em pacientes submetidos a cirurgia de catarata - opacidade parcial ou total do cristalino e principal causa de cegueira reversível do mundo.

O grupo de pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Hospital de Olhos de Araraquara avaliou a eficácia da nanoterapia em estudo realizado com 168 pacientes - 135 receberam a aplicação de nanodrogas e 33 foram tratados da maneira tradicional, usando colírios.

Os resultados apontam que nenhum dos pacientes tratados com a nanodroga desenvolveu infecção pós-cirúrgica e que a inflamação regrediu mais rápido do que entre aqueles que receberam o tratamento convencional. Os resultados serão publicados na revista científica "Investigative Ophthalmology & Visual Science".

O trauma cirúrgico sempre provoca uma inflamação nos olhos - daí a necessidade do uso de colírio por pelo menos 30 dias. Além disso, ainda há risco de o paciente desenvolver uma infecção na parte interna do olho (local de difícil acesso às drogas convencionais).

Nas terapias com nanodrogas, o princípio ativo do medicamento fica envolvido por um minúsculo polímero (espécie de cápsula formada por um material biodegradável que envolve o medicamento) e é aplicado diretamente no local.

A tecnologia foi desenvolvida pelo farmacêutico Anselmo Gomes de Oliveira, do Departamento de Fármacos e Medicamentos da Unesp.

Sem prejudicar a visão do paciente, as cápsulas com o medicamento são injetadas dentro do olho e começam a se degradar e liberar o medicamento cerca de seis horas depois da aplicação. "As nanopartículas eliminam a participação do paciente nessa etapa do tratamento. Os resultados são mais eficazes e há menos efeitos colaterais, já que a terapia é localizada", diz.

No caso do tratamento convencional, os colírios com antibiótico e anti-inflamatório devem ser aplicados de três a quatro vezes por dia, por isso o sucesso do tratamento depende exclusivamente do paciente.

"É muito difícil um paciente seguir à risca um tratamento prolongado. Muitos não compram os colírios, outros aplicam de maneira descontinuada, outros aplicam incorretamente. Tudo isso prejudica a evolução clínica da cirurgia", diz o oftalmologista José Augusto Cardillo, da Unifesp e do hospital de Araraquara.

Para o oftalmologista Newton Kara José Junior, chefe do Setor de Catarata do Hospital das Clínicas de São Paulo, o trabalho dos pesquisadores brasileiros está seguindo uma tendência mundial da oftalmologia moderna, que tem como objetivo desenvolver tratamentos mais seguros e que tragam mais conforto para o paciente.

"A ideia de criar uma técnica que evite que o paciente tenha que usar colírio depois da cirurgia é muito boa. Existem outras pesquisas no mundo com o mesmo objetivo", diz.

Ele ressalta, entretanto, que é preciso avaliar os possíveis efeitos colaterais da nanoterapia durante um período mais longo. "Os colírios podem provocar reações adversas em alguns pacientes. Nesses casos, a terapia é interrompida. Como interromper o tratamento depois que as nanodrogas já foram injetadas?"

Kara José diz que os pesquisadores também precisam avaliar se essa medicação pode ser tóxica para alguma estrutura dos olhos. "A camada interna da córnea, por exemplo, é muito sensível. E só o tempo vai dizer se a terapia é tóxica", diz.

Dois anos

Oliveira afirma que os tratamentos com nanodrogas ainda estão em estudo e, por isso, ainda podem demorar pelo menos dois anos para que sejam disponibilizados para tratamento clínico efetivo.

A nanotecnologia é uma das técnicas mais promissoras para a criação de drogas menos tóxicas e mais eficazes. A tecnologia está sendo estudada no país há pelo menos dez anos. Um dos objetivos dos pesquisadores é tentar diminuir a toxicidade de medicamentos quimioterápicos e antifúngicos.

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