Beleza natural e baleias franca na Praia do Rosa

Beleza natural e baleias franca na Praia do Rosa

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:20

Ver baleias franca de perto pode ser uma experiência transformadora. Existe uma grandeza singular no jeito que elas se movimentam, brincam, saltam. E uma audácia ainda maior na sobrevivência da espécie a séculos de caça às baleias. Quem vê tem certeza de estar diante de seres superiores da natureza. As baleias franca austrais migram da Antártida para a Argentina, para o sudoeste da costa africana, para Austrália e Nova Zelândia, e também, que sorte, para o sul do Brasil, para Santa Catarina, onde literalmente convivem com moradores e turistas, de julho a novembro.

A Praia do Rosa, no município de Imbituba, 80 km ao sul de Florianópolis, é o principal destino turístico para a observação de baleias franca no país. O balneário tem farta estrutura de hospedagem e acesso fácil para outras praias onde os mamíferos gigantes são avistados com freqüência, como Ibiraquera. No Rosa, é possível ver baleias desde os chalés de algumas pousadas, como as localizadas no Caminho do Alto do Morro, ou a qualquer hora do dia, na beira da praia.

No Brasil, a caça às baleias é proibida por lei federal desde 1987. Sete anos depois, o governo de Santa Catarina declarou a baleia franca como Monumento Natural do Estado e, em 2000, foi criada por decreto a Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca. A APA abrange cerca de 130 km de costa, praias e lagoas, desde o sul de Florianópolis até o balneário de Rincão.

Com este entorno receptivo à reprodução dos mamíferos, sem trânsito de grandes embarcações ou poluição sonora, a presença de baleias franca no país vem crescendo a cada temporada. Em setembro de 2008, pesquisadores em vôo de helicóptero contabilizaram 156 baleias franca no sul do Brasil, a maioria delas em Santa Catarina. Em toda a costa da América do Norte, o número de baleias franca boreais, ameaçadas de extinção, não passa de 400.

Os turistas não precisam sobrevoar os mares e podem enxergar várias baleias por dia de duas formas, de julho a novembro: desde as praias como Rosa e Ibiraquera, onde elas circulam em águas rasas, a apenas 50 m ou 100 m da orla, ou fazendo a observação embarcada, em botes especiais que partem da Praia do Porto e se dirigem a áreas com grande concentração de baleias, em alto mar.

As viagens de bote se realizam desde 1998 e são seguras, cheias de adrenalina, mais uma aventura do que um plácido passeio. O bote sacoleja muito e fica difícil fotografar. Dica: é melhor filmar, para garantir alguma imagem completa. O biólogo da tripulação registra cada baleia avistada e vai explicando o comportamento dos animais. Os filhotes, por exemplo, batem com a cabeça no corpo da mãe pedindo para mamar, e a fêmea expele dezenas de litros de leite na água, um líquido quente e espesso. As baleias que viajaram milhares de quilômetros para dar a luz estão sempre na cola dos bebês de quatro toneladas, impedindo que eles se percam. Usam a comunicação sonora e são capazes de gestos de extrema ternura, como boiar de barriga para cima carregando o filhote no corpo, mexendo as nadadeiras peitorais como quem passa a mão no dorso do bicho.

Um salto de baleia franca é uma imagem próxima do sobrenatural. Não há guindastes em alto mar, nem motores envolvidos na operação, e de repente um corpão de 40 toneladas vem do fundo e se ergue, por vezes de costas, o que configura um salto mortal. Os machos em busca de acasalamento chegam a fazer isso repetidas vezes quando há fêmeas nas redondezas, para impressioná-las com sua força e agilidade. Não deve ser fácil seduzir uma baleia.

Encerrada a temporada anual dos cetáceos, no inverno e na primavera, as estrelas da Praia do Rosa voltam a ser os surfistas, as namoradas dos surfistas, as pranchas dos surfistas e a geografia especial do balneário, considerado uma das 30 baías mais belas do mundo.

Dependendo da localização da hospedagem, caminhar até a praia significa percorrer trilhas de mata nativa, coloridas por jardins floridos, morro acima e morro abaixo, e ainda atravessar uma lagoa de canoa. Grande parte das estradas e ruelas não tem calçamento. Quando chove, a lama toma conta, as pedras deslizam, e caminhar à noite até um restaurante deixa o visitante se sentindo um desbravador. Lanternas são tão essenciais quanto binóculos para enxergar baleias.

O conforto rústico-chique do Rosa se revela nas suas pousadas e no aconchego de vários de seus restaurantes, uns com vista para o pôr-do-sol nas montanhas, outros com janelões abertos para as baleias brincando nas ondas. Das sofisticadas às simples, as hospedagens integram a arquitetura à natureza, e em lugares assim o primeiro impulso é abrir as cortinas para que o verde das árvores entre logo no quarto.

Bucólica, a paisagem preserva inesperados retratos da zona rural, com bezerros e bovinos de grande porte pastando no quintal das casas ou na beira das lagoas. As lagoas, aliás, algumas a poucos passos do mar, são outra face da Praia do Rosa a encher os olhos dos turistas. E a presenteá-los como lugar do banho das crianças ou de exibições de kitesurfistas e windurfistas.

As baleias, aquelas fofas, não vêm no verão, quando a alta temporada lota as praias de corpos bronzeados e a vida noturna passa a existir. O inverno registra as baixas temperaturas tradicionais dos Estados sulistas, os nativos circulam de ponchos, e nessa época a Praia do Rosa fica meio deserta, mesmo nos finais de semana. O calor possível vem da visão das baleias franca. Pergunte a um morador por que razão as baleias fazem piruetas, e quem as vê todos os dias, há anos, tem a resposta pronta: 'Porque elas são felizes aqui'.

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições