Croácia de braços abertos para o turista

Croácia de braços abertos para o turista

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:11

DUBROVNIK - No começo de setembro, uma turista chegou a Dubrovnik, num vôo da EasyJet que saiu de Londres, e levou um susto. Quando desceu os degraus e pôs os pés na pista, fotógrafos, jornalistas e autoridades locais a aguardavam, como se fosse uma celebridade. A inglesa não tinha ideia da saudação especial que a esperava, até ser informada de que era a milionésima pessoa a desembarcar no aeroporto da cidade este ano, marca alcançada 29 dias antes do registrado em 2009. Entre os mimos que recebeu, estão tíquetes da companhia aérea para retornar à cidade no próximo ano. O.k., ser recebido assim é o mesmo que acertar na loteria, mas a Croácia, e Dubrovnik em particular, não tem decepcionado os visitantes que estão (re)descobrindo o país nestes tempos de retomada do turismo pós-guerra.

No ano passado, 9,3 milhões de turistas estrangeiros seguiram esse caminho, número que, até agosto, já havia sido ultrapassado em 11%. Os investimentos no setor parecem estar surtindo efeito. Em capitais europeias como Paris e Londres, não é difícil se deparar com anúncios de agências enaltecendo as paisagens do país. Revistas, não somente as especializadas em viagem, têm apregoado os encantos de alguns de seus principais ímãs de turistas, e lembram as celebridades de verdade já atraídas por eles, como Sean Connery, Sharon Stone, Gywneth Paltrow e Pierce Brosnan (as nossas também têm andado por lá: em julho, Luciano Hulk e Angélica postaram no Twitter uma foto tirada numa ilha croata). Este roteiro passa por dois desses destinos: Dubrovnik, chamada recorrentemente de "pérola do Adriático", e a ilha de Hvar (lê-se Ruar), aclamada como "uma nova Saint-Tropez", ambas numa costa que, apenas de ilhas, conta mais de mil. Cidades como Zagreb, a capital, e Split, a segunda maior do país, entraram no mapa apenas de passagem. O que só deixou uma certeza: a Croácia tem muito mais.

Teleférico e passe de museus e transportes são novidade em Dubrovnik

Quando se chega a um local turístico pouco familiar aos brasileiros - e até aos europeus - como a Croácia, uma tendência natural é buscar referências e lembranças de outros lugares. Em Dubrovnik, uma das cidades mais visitadas do país, é assim: às vezes parece Capri, às vezes parece Marselha ou Monte Carlo, às vezes parece até Lisboa. Até você se dar conta, o que não demora muito, de que não precisa mais de referências. Debruçada sobre o Mar Adriático e com um centro histórico que é Patrimônio da Humanidade, ela sempre encantou quem a conheceu. Entrou para a História, por exemplo, uma frase de 1929 de Bernard Shaw: "Se querem ver o paraíso na Terra, venham a Dubrovnik."

Ninguém precisa ser a turista inglesa do início deste roteiro para concordar. Um dos sinais de que a cidade está preparada para receber os visitantes está no próprio aeroporto, no embarque dos táxis. Placas já informam quanto custará o trajeto de cerca de 20 quilômetros até o centro (entre 250 kunas e 300 kunas, em torno de 35 euros), o que não deixa de ser um alívio para quem está apenas se acostumando à moeda local. O paraíso custa caro? Custa, mas é sempre bom saber, antes, o preço.

O setor de turismo lançou um cartão com duração de um dia (130 kunas) ou uma semana (220 kunas), que permite usar o transporte público local e dá ingresso a atrações culturais e históricas, a maior parte uma ao lado da outra, na chamada Cidade Velha. O limite do cartão dá a ideia do ciclo turístico em Dubrovnik. Na alta estação, no verão, a cidade é inundada pelos passageiros de cruzeiros que têm ali uma de suas principais paradas. O cartão de um dia, portanto, seria o ideal para este público, que volta para pernoitar em seus transatlânticos.

Para quem pretende ficar mais tempo, a cidade oferece acomodações de todos os tipos, desde quartos em guest-houses a hotéis estrelados como o Hilton Imperial Dubrovnik, uma construção outrora histórica que foi destruída e reerguida, e outros que ficam mais distantes da parte antiga, como o ainda mais estrelado e novíssimo Bellevue, com ar de hotel-butique e acesso a praias quase exclusivas. Em qualquer caso, é bom ficar atentos aos preços. Nos últimos anos, os custos na cidade - como observam os moradores e os turistas que já estiveram aqui - subiram à proporção de sua fama. Há pesquisas que indicam que alguns hotéis da cidade têm diárias tão altas quanto as de cidades como Paris e Rio.

Ficar mais tempo, no entanto, é essencial para apreciar com calma tudo o que Dubrovnik oferece. Ainda que se possa cruzar a Cidade Velha em não mais do que dez minutos (se a multidão de turistas não atrapalhar o percurso), a pressa vai obrigá-lo a observar apenas a fachada de atrações como o Palácio do Reitor, o monastério e museus como o de História Natural e o Marítimo. Quem tem a agenda apertada acaba escolhendo um único passeio, que é obrigatório: percorrer as muralhas que envolvem toda a área histórica, e de onde se registra a maior quantidade de fotos por minuto, com um ângulo novo e deslumbrante a cada virada de cabeça. Leva-se no mínimo uma hora para percorrê-las de uma ponta à outra, mas não é difícil se distrair e levar muito mais.

Das muralhas, tem-se uma vista ampla e superior de Dubrovnik: as casas dos moradores, que penduram suas roupas em varais externos como em Lisboa ou Veneza; as ilhas ao redor e os transatlânticos que ancoram longe do pequeno porto da cidade; os restaurantes dos mais diversos, virados para o mar ou para as construções antigas (como o sofisticadíssimo e caro Gil's, com sua localização privilegiada, encostado na muralha); os monumentos recuperados depois da guerra; e o movimento dos turistas que entram e saem dos portões Pile e Ploce, as principais entradas para a Cidade Velha. Logo no acesso às muralhas (o ingresso custa 30 kunas), um painel informa que, de cada três prédios, dois foram integral ou parcialmente destruídos em bombardeios em 1991, durante a guerra civil na antiga Iugoslávia. De cima, é impossível não constatar isso. Procurar os telhados mais antigos em meios a tantos novos faz lembrar o horror pelo qual a cidade passou durante o período de guerra.

Para quem fica hospedado mais dias, um prazer extra é observar a cidade ficando mais vazia conforme cai a noite, e aproveitar para circular aliviado por ruas e vielas mais livres. É quando se percebe o quanto podem ser lisas as pedras que formam a via principal, Stradum. Nela, adultos e crianças se divertem igualmente deslizando como se estivessem num rinque de patinação. Lembrando: isso à noite; durante o dia, espaço para deslizar é praticamente impossível.

Ter mais tempo também abre a possibilidade de fazer passeios pelas ilhas próximas, com paradas em praias e restaurantes (há diversas opções, em roteiros que levam mais ou menos tempo) ou dar uma escapada para restaurantes nos arredores que, além da invariável oferta de pratos com frutos do mar, têm locais para dar um mergulho enquanto se espera o peixe na brasa ficar pronto (uma dica é o Ankara, a cerca de 30 minutos do centro histórico). Outra "brincadeira" é seguir o que indicam alguns guias turísticos e pegar um ônibus comum da cidade, o de número 4, que leva até bairros como Lapad. No trajeto, o turista pode conhecer um pouco mais do cotidiano de quem vive fora da Cidade Velha e os hotéis com estrutura de resort que têm se multiplicado.

Os contrastes de novo e velho, passado e presente, não são clichês em se tratando de Dubrovnik. O esforço para resgatar o que se perdeu é notável. Uma novidade deste ano, para citar mais um exemplo, é um centro de lazer com teleférico moderno: são duas cabines com capacidade para 30 pessoas cada, capazes de fazer um percurso de 778 metros em menos de três minutos - bem diferente da estrutura que foi construída pela primeira vez em 1969, que depois ficou em ruínas. Do alto do Monte Srdj, a parte antiga parece ainda menor, vista que também pode ser desfrutada do táxi, assim que o carro começa a se aproximar do centro da cidade. De qualquer ângulo, a impressão é a mesma: isso é só o (re)começo de Dubrovnik.

Programa aquecido

Um turista desavisado poderá se surpreender com atrações ao ar livre e eventos que não fazem parte do roteiro tradicional em Dubrovnik. Dentro do esforço para dinamizar e incrementar o turismo, a cidade tem investido numa programação cultural que vai além de teatros, museus e galerias (e olha que não é raro chegar aqui e encontrar um show ou exposição bacanas). Um exemplo é o Festival de Verão de Dubrovnik (é preciso ficar atento às datas, conforme o calendário do ano). Por vários dias, ora as margens do pequeno porto dão lugar a palcos para peças de teatro e shows, ora as ruas são tomadas por manifestações com dança e casamentos folclóricos, ora hotéis e restaurante montam na rua principal um festival gastronômico.

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