Egito e seu problema de relações públicas de turismo

Egito e seu problema de relações públicas de turismo

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:19

Quando a Primavera Árabe se espalhou pelo Egito em 25 de janeiro, culminando com a derrubada do presidente Hosni Mubarak, 17 dias depois, isso provocou um senso eletrizante de realização e – como turistas e operadoras de turismo sabem muito bem – um efeito colateral desagradável: a debilitação do setor de turismo egípcio, a maior fonte de receita e empregos do país.

Um total de 14,8 milhões de turistas visitaram o Egito no ano passado, injetando US$ 13 bilhões na economia. Mas o número caiu 80% no primeiro mês após a revolução e o setor provavelmente encerrará o ano com uma queda de 25%, segundo o ministério do Turismo. Isso representa uma perda de mais de US$ 3 bilhões.

“Nós cancelamos todas as nossas partidas para a primavera”, disse Tom Armstrong, diretor de comunicações da Tauck Tours, que normalmente realiza uma dúzia de viagens de luxo ao Egito por ano. Atualmente, com o início da alta temporada, “os negócios estão voltando, mas não ao patamar histórico”, ele disse.

“A longo prazo nós estamos otimistas”, ele acrescentou, notando que a promoção “agressiva” pelo governo tem ajudado a restaurar certo grau de confiança.

Esses esforços incluem propaganda em TV, viagens pagas para membros da imprensa e campanhas de marketing em feiras de turismo na Europa, Estados Unidos e outros lugares. Mounir Fakhri Abdel Nour, o ministro do Turismo e ex-líder do maior partido de oposição do Egito, disse que passou grande parte do ano “realizando tudo o que era viável para trazer os turistas de volta”, incluindo visita a todo Oriente Médio e Europa para espalhar a notícia de que o país está seguro. Uma campanha de lobby foi bem-sucedida em fazer com que a cidade de Aswan, no sul do Egito, fosse escolhida como sede no mês passado da cerimônia do Dia Mundial do Turismo, um evento muito importante do setor.

“Nenhum turista foi ferido ou teve qualquer problema desde 25 de janeiro”, disse Abdel Nour. No meio da revolução, faixas na Praça Tahrir pediam, segundo ele, “para que os turistas não partissem e prometiam que seriam protegidos, o que comprova o quanto os egípcios prezam o turismo”.

Nos Estados Unidos, empresas de turismo como Abercrombie & Kent dizem que estão vendo um aumento do interesse, particularmente entre pessoas que nunca visitaram o país, que querem aproveitar os baixos preços, viajantes politicamente conscientes, que desejam demonstrar apoio à democracia egípcia, e turistas que já visitaram o país, interessados em explorar locais cujo acesso agora é permitido, como a Avenida das Esfinges em Luxor, um trecho de 2,7 quilômetros ligando o Templo de Luxor ao Templo de Karnak, previsto para ser plenamente restaurado nesta estação.

A Abercrombie & Kent realizou todas suas nove excursões previstas para o Egito em outubro. Todas estiveram próximas de sua capacidade máxima de 20 a 24 pessoas cada, disse Pamela Lassers, a diretora de relações de mídia da empresa. Dezenas de excursões previstas até o Ano Novo de 2012 estão quase lotadas, ela disse, a empresa adicionou duas novas partidas no ano que vem para sua excursão para toda a família, “Pirâmides, Múmias e Templos”.

A Tauck e a Abercrombie & Kent encheram suas páginas no Facebook com depoimentos de visitantes recentes ao Egito, muitos dos quais citando a ausência da lotação habitual nas Pirâmides, na Esfinge e no Museu Egípcio; e o “espírito otimista” e “bom humor” das pessoas. “Agora é um ótimo momento para uma visita”, escreveu um visitante em setembro. “Não está lotado e há ofertas incríveis no momento.”

Os guias da Abercrombie & Kent começaram a incorporar os eventos recentes em seus itinerários. “Há muitas pessoas que querem ver os efeitos da revolução”, disse Lasser.

Mas tranquilizar os viajantes de que o Egito está seguro pode ser um desafio. Os eventos recentes mostram que a recuperação do turismo dependerá da estabilidade política, que permanece difícil. No final de junho, choques entre manifestantes e a polícia nos arredores da Praça Tahrir deixaram centenas de feridos. Em setembro, a morte de cinco oficiais de segurança egípcios por forças israelenses, após um ataque de militantes na fronteira entre Egito e Israel, provocou um ataque por uma multidão contra a embaixada israelense no Cairo. Três egípcios foram mortos e mais de mil ficaram feridos. E no mês passado, 24 cristãos coptas foram cercados por veículos militares ou mortos a tiros durante um protesto no Cairo.

Rami Girgis, o gerente de produto da Abercrombie & Kent para o Egito e Norte da África, que acabou de voltar do Cairo, disse: “As forças de segurança são visíveis por toda parte, não apenas a polícia, mas o exército.”

Mesmo assim, Armstrong, da Tauck, disse que os clientes “estão telefonando, expressando uma mistura de interesse com um pouquinho de preocupação” de que protestos ou outros distúrbios possam atrapalhar os horários de funcionamento ou forçar o fechamento de museus e outros pontos turísticos.

Algumas autoridades de turismo e operadoras estão promovendo Alexandria – onde ocorreram os protestos dos coptas em outubro, mas nada próximo da violência no Cairo – como uma aposta mais segura. A cidade mediterrânea, fundada por Alexandre o Grande em 331 a.C., nunca foi de grande atrativo para os ocidentais modernos. Preservacionistas e o governo egípcio têm tentado mudar isso nos últimos anos.

Em 2002, a nova Biblioteca de Alexandria abriu no Corniche, perto do local de sua antecessora, que foi construída no século 3 a.C. e foi incendiada pelos romanos em 30 a.C. A biblioteca, um imenso disco de vidro e aço que inclina acentuadamente na direção do Mar Mediterrâneo, ganhou elogios por seu desenho ambicioso e inovações, como a Máquina Expressa de Livros, que pode reproduzir quase qualquer volume, completo com capas em sete cores e encadernação com cola, em minutos.

As autoridades municipais também estão planejando o primeiro museu submarino do mundo, que ofereceria vislumbres das esfinges, navios naufragados e fragmentos do que se acredita que seja o Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Sarah Nabil, gerente de relações públicas do Four Seasons Hotel Alexandria, disse que a cidade estava se preparando para um grande afluxo de turistas do Ocidente e do Oriente Médio antes da revolução. “Era supostamente para começar neste ano, o que não aconteceu, é claro”, ela disse.

Primeiro ocorreu o atentado mortal no Ano Novo contra a Igreja dos Santos, por radicais islâmicos ligados à Al Qaeda. Então veio a revolução. Como no Cairo, a polícia se retirou e os prisioneiros escaparam em massa, com a ocorrência de choques violentos. Os turistas fugiram da cidade e, com exceção de turistas árabes e norte-africanos, eles em grande parte a evitam.

Nabil disse que os planos da cidade de modernizar os hotéis e restaurantes estão no aguardo. “A cidade estava começando a elevar seu nível, mas agora foi tudo adiado”, ela disse.

Todo mundo no Egito, de Nabil até os manifestantes na Praça Tahrir e autoridades do governo, depende de turistas estrangeiros que considerem o Egito como sendo um lugar seguro. Até o momento, este tem sido um desafio tão grande quanto estabelecer uma democracia plena.

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