Final de semana em Paris por US$ 100

Final de semana em Paris por US$ 100

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:52

Em uma sexta-feira em Paris, decidi tentar a façanha de passar um fim de semana na Cidade Luz com apenas US$100. Foi preciso esquecer a cerveja durante o show no Satellit Café e, ainda, do Louvre no domingo e do vinho no jantar de sábado. Mas, quem precisa de cerveja com um som tão legal? Quem precisa do Louvre com o fascinante e gratuito Musee Carnavalet? E quem precisa de vinho com um delicioso confit de pato no prato?

Mesmo com essas opções, Paris é um lugar difícil de ser comedido. Como no fim de semana em Nova York com US$100, eu exclui o custo da hospedagem – desta vez fiquei na casa de um amigo, na Bastilha. Fora isso, tudo foi incluído, do bilhete do metrô à aspirina que eu pensei que precisaria para vencer a ressaca do vinho - que acabei não podendo me dar ao luxo de tomar.

No dia em que cheguei a Paris, US$100 era o equivalente a 74,29 euros. Calculei cada centavo do orçamento, aproveitando ideias de amigos e leitores, e mergulhando no guia “Paris Pas Cher” ( com o pouco do francês que restou da época da faculdade, traduzi como “Paris Econômica”). O resultado foi um itinerário interessante, com algumas surpresas que tornaram o final de semana bastante “animado”.

SEXTA-FEIRA

A primeira surpresa foi bem agradável: uma nova amiga chamada Yoann, que me ajudou com a pronúncia de “pinte” quando pedi uma cerveja por 3,80 euros no Le Megalo – um dos bares lotados na região da Bastilha com promoções no happy-hour. Outras pessoas se juntaram à conversa sobre o sistema de saúde francês e o americano. Isso me ajudou a enrolar tanto com uma única bebida que acabei chegando atrasado ao show no Satellit (10 euros de couvert artístico). Saí correndo do bar e, na esquina, ainda comprei um crepe de presunto e queijo por 5,50 euros, que comi pelo caminho.

SÁBADO

Em Paris, a melhor hora do dia para conseguir segurar o orçamento é o café da manhã. Caminhei até a boulangerie da esquina e pedi um croissant (90 centavos) para comer ali mesmo. Comprei também uma baguete de 90 centavos para levar.

Minha esperança era usar o Velib' (sistema de compartilhamento de bicicletas) para me locomover. Com um euro você pode usar uma das bikes espalhadas em estações por toda a cidade, e devolvê-la em 30 minutos em qualquer um dos locais. Desta forma, eu poderia circular por Paris para descolar um museu gratuito, almoçar, fazer uma pausa no Musee d’Orsay e entrar na fila de ingressos da tradicionalíssima Comedie-Française.

Porém, a ideia da bicicleta era inviável para mim. Para utilizar o sistema Velib' é necessário fazer um depósito em cartão de crédito. As máquinas que se encontram em cada ponto de retirada e devolução de bicicletas só aceitam cartões com chips. Todos os que eu tinha eram com tarja magnética, algo quase tão prosaico na Europa como o sistema métrico americano de pés e polegadas.

Caminhando eu não chegaria muito longe, então precisava mesmo pegar o metrô – por 1,70 euro cada viagem. Adeusinho, domingo no Louvre! Fui caminhando até o Musee Carnavalet, que ocupa duas mansões históricas do Marais a 20 minutos a pé de minha residência temporária. Entre uma dezena de museus gratuitos administrados pela prefeitura de Paris, esse oferecia uma boa pincelada do passado da cidade, contado através de trabalhos de pintores de cada época e de recriações históricas. No passado, quando o índice de alfabetismo em Paris era mais baixo, o comércio tinha de criar placas que informassem o nome do estabelecimento por meio de imagens. Entre os destaques, um gato preto assustado em uma lua crescente do famoso Chat Noir, cabaré de Montmartre do século 19, e as enormes tesouras das alfaiatarias.

Depois disso, fui almoçar com uma antiga colega de trabalho com quem havia entrado em contato por email, Mildrade Cherfils. Ela me levou a um bistrô bem simpático chamado Cave La Bourgogne, no 5º Arrondissement, e me falou que eles serviam uma salada por 10 euros, tão grande que eu ficaria satisfeito até a hora do jantar. Mas, quando ela pediu o confit de pato por 14 euros, desisti imediatamente da salada. A perspectiva de saborear um delicioso pato com batatas crocantes era irresistível. O prato não me decepcionou nem um pouco, mesmo que tenhamos morrido de inveja do casal ao lado, que também pediu o confit, só que acompanhado de scotch e vinho.

Despedi-me da Mildrade e fui correndo para o Musee d’Orsay, o maravilhoso templo da arte parisiense que ocupa uma antiga e grandiosa estação de trem. No piso térreo, estátuas clássicas em poses incríveis se misturam aos visitantes, que arriscam suas próprias poses.

O museu fechava às 6 da tarde. Apressei-me para chegar ao outro lado do Sena e entrar na fila de ingressos da Comedie-Française, que começava uma hora antes da apresentação. Como cheguei com duas horas de antecedência (para assistir “As Três Irmãs”, de Chechov), era o primeiro da fila – pronto para combater o marasmo com um livro em punho.

Desnecessário. Logo apareceram três excelentes companhias, entre elas uma moça de 25 anos e rosto iluminado chamada Nadege. Conversamos sobre política, arte, teatro e seu interesse em trabalhar no escritório administrativo da Notre Dame. Após duas horas tentando desenterrar o francês há muito tempo enferrujado em meu cérebro, imaginei que talvez conseguisse pescar alguma coisa da peça, principalmente porque já tinha lido o livro na escola. Sem chances! Meu assento de 5 euros na primeira fila do segundo balcão tinha uma vista espetacular para observar a plateia e me integrar ao ambiente, mesmo não conseguindo assistir a peça: eu estava tão distante do palco que não podia enxergar mais do que 20% da (incompreensível) ação que se desenrolava.

DOMINGO

Minha poltrona no teatro era bem ao lado da Nadege – bastante fortuito, já que ela se ofereceu para me mostrar o bairro de Marais no dia seguinte. Nós começamos com um almoço barato no Chez Papa, uma pequena rede parisiense que serve comida típica do sudoeste da França. Eu pedi uma salada gigantesca, recoberta de presunto e recheada de batatas - e uma jarra de água - por 10 euros, sobrando 2,12 euros restantes no meu orçamento.

Começamos a perambular pelo bairro, mas acabamos atraídos pelo Le Temps des Cerises, um bistrô em uma casa de dois andares cujo exterior deteriorado, balcão de zinco e mesas de madeira desgastadas nos encantaram. “Parece que estamos em outra época”, disse Nadege, que cantarolava as canções que saíam das caixas de som enquanto eu gastava meus últimos dois euros em um café.

Logo segui para a Notre Dame para assistir a um concerto gratuito, às 4 da tarde, de um organista de Caen. A música era maravilhosa, para quem gosta de órgão (o que não é o meu caso). Porém, eu estava contente de poder relaxar, observar e admirar, não somente os arcos góticos altíssimos e os complexos vitrais da catedral, mas também tudo o que eu tinha conseguido ver, fazer e comer na cidade com um orçamento tão apertado. Eu teria outras oportunidades de tomar vinho!

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