França: muito além de Paris

França: muito além de Paris

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:30

Apesar de ser conhecida mais pela sua capital, Paris, a França permanece fiel aos seus costumes no interior. É nos recônditos lugares que esconde uma riqueza sem igual, nos vilarejos provincianos, cheios de uma vida atrelada à terra, às estações do ano e à busca pela perfeição, que transparece na sua produção meticulosa de vinhos e que Van Gogh captou em suas mais belas pinturas.

São várias as regiões que produzem os seus respeitados vinhos: a Borgonha, no sudoeste, o Vale de Loire, no centro-oeste, e a região da Dordonha e a cidade de Bordeaux, no sudoeste do país. Os conhecedores e apreciadores de vinhos procuram pelos novos, velhos, brancos e tintos, por todos os vinhos que lá são produzidos. À riqueza no trato que as vinícolas têm para preparar cada um deles soma-se uma história de milênios desse país, que começa no Neolítico, há 14.000 anos, e passa pela Idade Média, de imensos castelos, pela igualdade, liberdade e fraternidade de uma conturbada Revolução que mudou a história da humanidade, até a Segunda Guerra Mundial e o desembarque no dia D.

Recentemente, a França tem sido uma nação protagonista na evolução das férias, do bom viver e das bicicletas. Hoje, hospedar-se em um castelo medieval é uma realidade na França, mas comer trufas, foie gras e apreciar um bom vinho em sua sala de jantar é apenas um detalhe de toda a viagem. As estradas percorridas para se chegar de uma caverna com pinturas do neolítico a um castelo medieval são um tapete e pedalar tendo por pomares, florestas de pinheiros ou campos de lavanda é uma experiência inigualável. Beber seus vinhos é inebriante, ver sua história é uma experiência iluminista e subir o Mont Ventoux pedalando é se sentir em um dos principais palcos do Tour de France.

Principais atrações

Provença (região sudeste)

Luberon: essa é uma região francesa radicalmente rural e os itinerários de bicicleta são fabulosos e se entremeiam por estradas vicinais que levam até fortes, recôndito dos antigos trovadores, e vilas medievais ficam no topo das colinas com vista para os campos e vinhedos recortados por estradas sinalizadas para cicloturistas interessados em embarcar por uma viagem mágica. O Parque Regional de Luberón passa por algumas cidades como Ménerbes, Gordes e Roussillon.

Ménerbes: localizada no topo de uma colina, a 40 Km de Avignon, nessa cidade de pedra foram encontrados indícios comprovando a presença humana na área desde o período Neolítico. Os dolmens podem ser encontrados nas proximidades. São enormes estruturas tumulares construídas a partir de monolitos para abrigar uma grande quantidade de cadáveres, portanto com um caráter coletivo. De lá, podem ser vistas a vila de Gordes, ao norte. O Museu do Saca-rolhas é peculiar - vale uma visita.

Gordes: dona de um patrimônio humano invejável, essa pequenina cidade de 2.000 habitantes guarda casas trogloditas, sobrepostas nos flancos das falésias, além de suas ruelas de pedras passarem por todos os cantos da cidade. Já foi um importante centro de tecelagem e cordoaria, mas hoje é o turismo o motor da economia dessa que é uma das mais belas vilas francesas. O Museu da Lavanda é ponto de passagem obrigatório para receber a devida ciência sobre a flor símbolo da região da Provença. Existe ainda o Museu do Óleo de Oliva, que preserva a moenda mais antiga do mundo do gênero, movida à tração animal. O museu Pol Mara, de pintura contemporânea, vale por estar abrigado no castelo mais majestoso da cidade.

Roussillon: rodeada de florestas de pinheiros e marcada pelo vermelho que tinge todas as suas contruções, é considerada, assim como Gordes, uma das mais belas vilas francesas. Todas suas antigas construções ornam com as ruas estreitas que podem ser percorridas até acabar as possibilidades de itinerários escolhidos, porque é um lugarejo mesmo. Possui um antigo relógio do século XIX e um sítio arqueológico importantíssimo com vestígios do homem neolítico.

Lacoste: 6 Km a leste de Ménerbe, essa cidade abriga o famoso castelo do Marquês de Sade, que ele tomou posse de herança do pai e possibilitou que fugisse de Paris, quando seus contos eróticos tomaram proporções escandalizantes. As ruínas do castelo ficam abertas à visitação. Além disso, a cidadezinha é charmosa e tem várias casas antigas em processo de restauração.

Isle-sour-la-Sorgue: 25 Km a sudeste de Avignon, os numerosos canais e ramificações da cidade deram-na o apelido de Veneza de Comtat. Pitoresca, é conhecida por suas lojas e vendedores de antiguidades e produtos de segunda mão. As barracas nos fins de semana contam com 300 tendas e, na Páscoa e em 15 de novembro, esse número sobe para 500.

Avignon: localizada às margens do Rio Reno, é conhecida por ter sido a cidade dos papas e já foi a capital do ocidente medieval. Hoje, representa um importante centro cultural e hospeda um festival de teatro anual, criado em 1947 por Jean Vilar. Desde então, tornou-se um evento cultural muito conhecido do verão francês, e oferece apresentações por toda a cidade. Os monumentos sacros são o ponto forte da paisagem urbana como o suntuoso Palácio do Papa, o Pequeno Palácio (Petit Palais), a igreja Saint Pierre, em estilo gótico (só a fachada e as belas esculturas da porta principal já merecem a visita), além de outros como a Ponte de Avignon, os muros da antiga cidade medieval e o Forte Saint-Andrés, localizado acima do Reno e tem uma bela vista da cidade.

Saint-Rémy: localizada a poucos quilômetros ao sul de Avignon, essa é a cidade que inspirou Van Gogh em muitas de suas pinturas e muito se fala a respeito da luz que paira sobre ela. O que mais impressiona nessa cidade é o modo como a gente vive, mais ligada às suas raízes e à economia local, tanto que é comum encontrar com pastores e rebanhos pela cidade e arredores. O mercado de Saint-Rémy, a torre da igreja da cidade velha, o monastério de São Paulo, que abrigou Vincent Van Gogh, o museu dos alpes, e os cafés locais cheios de gente que não tem pressa em sair do seu lugar, são algumas opções oferecidas por esta tranquila cidade.

Monte Ventoux: o nome poderia ser traduzido para algo como ''Monte da Ventania''. Já foram registrados ventos de 320 Km/h ao seu redor. O monte, a 20 Km de Avignon, tem sido reflorestado desde 1860 e sua fama vem de sua ligação com o Tour de France. A subida é incrível e a sensação de estar no topo é a mesma que transmite um deserto gelado. A torre de telecomunicações no fim da pedalada pode ser vista em diversas partes do trajeto. O monte fica na região dos Alpes, mas não existem outros que disputam com ele em altitude, que chega aos 1.912 metros de altura.

Gargantas de Nesque: localizada entre Sault e Viles-sur-Auzon, essa é uma estrada cênica de 22 Km que desce em espiral, com túneis naturais de pedra à beira de um abismo: uma pista perfeita para o ciclismo. O único tráfico que é encontrado durante a rota são os locais pedalando e pessoas procurando as belas paisagens do lugar. O seu ponto culminante é em ''Le Belvédère'', a 734 metros de altitude.

Dordonha (região sudoeste)

Périgord Noir: ocupa a porção sudeste do departamento de Dordonha, uma região de planalto, colinas de formação calcária e belos vales. Atravessam pelo território os rios Dordonha e Vézère. Os destaques ficam por conta das grutas pré-históricas, castelos e sua rica gastronomia, conhecida internacionalmente pelo foie gras, as trufas, o champanhe e os patês.

Sarlat: capital da região de Périgord Noir, centro de sua arte e história, foi tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade. É a mais visitada das cidades da província, pois seu patrimônio conseguiu se preservar ao longo do tempo, apesar das invasões vikings e da participação da cidade na Guerra dos Cem Anos. Recentemente, foi beneficiada com uma lei de proteção à arquitetura, em 1962. Hoje, é a cidade européia com maior número de construções tombadas por Km². O patrimônio religioso é também bastante valorizado nessa cidade medieval em construções como a gótica Catedral de Saint-Sacerdos, o Jardin des Enfeus e a Lanterna dos Mortos. Não menos atrativos são os mercados locais, com produtos como a trufa e o foie gras. Ocorre próximo da cidade um sazonal, de dexembro a fevereiro e um dentro da cidade, de terça-feira a domingo).

Pomerol: esse não é o nome de uma cidade, mas de uma comunidade que se estende do porto de Libourne até a parte norte do rio Dordogne. Fazem parte de Pomerol algumas pequenas vilas e as principais atrações são seus castelos, espalhados por todos os lados, além de pertencer a uma região rica em vinícolas, que tem sua origem com os romanos. As vinícolas de Pomerol fazem divisa e se confundem com as de Saint-Émilion.

Font-de-Gaume: essa gruta é um importante sítio arqueológico e antropológico, descoberto em 1901. Homens que viveram na Idade das Pedras durante a última era glacial, há 25.000 anos, deixaram vestígios. Hoje, são permitidas 200 visitas por dia em seu interior. A entrada é apenas uma fissura formada por rochas sobrepostas e os caminhos internos levam até a primeira pintura: um bisão, que dá a impressão de movimento, bem menos primitivo do que se imaginaria quando se fala em pintura primitiva. Muito material de pintura foi encontrado dentro dessa caverna, junto com as pinturas.

Château de Beynac: a 3 Km cidade de Beynac, esse castelo está situado em uma posição de dominância na Dordonha. O interior é magnífico e inspira a imaginação do que representa a guerra dos 100 anos para os franceses. O dono do castelo expressou abertamente que o castelo deva ser valorizado pelo povo francês, mais do que um simples atrativo turístico.

Vinícolas: desde a Idade Média, as regiões da Aquitânia e Dordonha foram tomadas pelos vinhedos, que moldaram a paisagem da região. Saint-Emilion foi construída para servir como fortaleza e outras cidades surgiram em torno dessa economia, como Saint-Julien, Saint-Éstephe e Margaux. Bordeaux é o expoente dessa cultura e se tornou a principal cidade, onde se comercializava a produção e até hoje permanece como centro cultural desse enorme ''corredor de vinícolas''.

Borgonha (região centro-leste)

Routes des Grands Crus: essa é uma rota turístida na região da Borgonha que atravessa os vinhedos e vinícolas das Côte de Beaune e Côte de Nuits, em um percurso total de 60 Km. A tradição da região tem mais de 1.000 anos e, apesar de pequena, os vinhos produzidos são muito variados e apresentam uma complexidade que dificilmente é encontrada em outro lugar do mundo. Essa rota começa em Dijon e termina em Santenay, mas pode ser percorrida partindo-se de outras cidades, caso o trecho escolhido seja menor. Conheça algumas das cidades da rota:

Beaune: capital do vinho da Borgonha, essa cidade inspira os sentidos. As lojas vendem de geléias caseiras a roupas desenhadas por estilistas locais. É famosa pelos eventos do decorrer do ano, como o Festival de Música Barroca, que acontece em todos os finais de semana de julho, o festival de jazz, em setembro, a degustação de vinhos no Hospice de Beaune, em novembro, e o Festival de São Vicente, padroeiro do vinho, todo mês de janeiro.

Nuits Saint-Georges: essa comunidade de 15.000 habitantes deve sua fama aos vinhos produzidos por lá. A cidade fica próxima de Beaune e Dijon. A cidade é aconchegante e espaçosa - uma das crateras nomeadas pela missão Apolo XV recebeu seu nome. Confira na cidade e nas proximidades: o Museu da cidade, o sítio arqueológico de Bolards, a igreja Saint-Denis e o mercado local, com produtos frescos da região.

La Rochepot: é uma pequena vila medieval de 260 habitantes. Morro acima, encontra-se um importante castelo do século XII com um telhado policromado com uma fantástica sala de jantar e um terraço que tem excelentes vistas da região. Uma parte do castelo fica aberto à visitação. A igreja beneditina do século XII também vale uma visita.

Chassagne-Montrachet: é o último setor do extremo sul da Cote de Beaune. De lá, vem o famoso vinho branco Montrachet. Duas cidades, Puligny e Chassagne associam seu nome ao Montrachet, essas duas vilas dividem as vinícolas na produção das 30.000 garrafas de vinho branco que são colocadas no mercado todo ano. A qualidade do vinho é explicada pelo composição do solo, pela altitude e pela exposição ao sol durante o ano. O Mont Blanc pode ser visto da região.  

Volnay: é uma pequena cidade localizada no alto da íngreme Côte de Beaune. As atrações da cidade são tipicamente medievais: uma igreja restaurada do século XIV, uma estátua de Notre-Dame-des-Vignes e uma capela do século XVI.

Pommard: a 2 Km de Volnay e a 5 Km de Beaune, essa é uma das regiões da Borgonha que só produz vinhos tintos, mais fortes do que os encontrados em Beaune e Volnay. São 315 hectares para produzir anualmente uma média de 1,8 milhão de garrafas. A idade das garrafas varia de 5 a 15 anos.

Loire (região centro-oeste)

Vale de Loire: é considerada a região vinícola mais bonita da França e foi tombada pela UNESCO como patrimônio histórico francês. A região é extensa: começa em Auvergne, no maciço central e acaba na costa Atlântica, em Nantes. O rio Loire é largo e profundo e a canoagem é praticada em vários pontos de seu percurso. O vale é formado por várias diferentes regiões com esse grande rio em comum para conectá-las.

Montbazon: essa cidade é marcada por um castelo feudal do século X. Ele começou a ser construído em 991 para o temido Conde D´Anjou e com certeza foi um dos primeiros castelos da França. A construção foi finalizada em 994. A torre foi criada para vigiar as cidades circundantes que estavam a perigo. Montbazon foi a primeira cidade fortificada construída por Foulques Nerra, o conde D´Anjou, entre muitas outras.

Rio Vienne:  percorre 370 Km por terras francesas, nasce no Maciço Central e vai para o oeste, passa Limonges, e segue para Loire. Em muitas partes de seu percurso, abriga ainda uma vida selvagem e belas reservas. Pássaros e veados podem ser vistos. Podem ainda ser praticados vários esportes ao ar livre como canoagem, natação e pesca.

Chinon: essa cidade abriga um exemplo típico de enorme castelo medieval, de tamanho e escala impressionantes. Localizado às margens do Rio Vienne, poucos quilômetros ao sul do Rio Loire, fica em um ponto alto do vale, o que facilitava a sua defesa de bárbaros e pessoas não bem-vindas. Em 1429, foi no castelo de Chinon que Joana D´Arc encontrou pela primeira vez o Rei Carlos VII, e tentou persuadí-lo a enviar tropas a Orleans em ajuda contra o cerco formado pelos ingleses.

Rivau: localizado no centro do Vale de Loire, essa cidade guarda um importante castelo medieval, que foi casa dos Beaveau por séculos, durante os anos do Conde D´Anjou, o então suzerano das terras daquela família; prestaram obediência mais tarde também ao rei da França, quando vários dos Beaveau deram à vida pelo país; na Guerra dos Cem Anos, o castelo serviu como provedor de bons cavalos e equipamento de guerra para que Joana D´Arc chegasse bem ao cerco de Orleans.

Normandia (litoral norte)

Bayeux: essa cidade concentra muitas histórias sobre a segunda grande guerra. Lá, encontram-se algumas praias do desembarque da batalha na Normandia e museus que explicam toda a Guerra detalhadamente, como o importante Museu Memorial da Batalha da Normandia, o Museu do Desebarque, Arromanches 360º, o Museu do dia D, e muitos outros.

Arromanches: essa cidade balneária também teve caráter estratégico na guerra: serviu como porto artificial de desembarque de mantimentos e equipamentos para os soldados ingleses. Os vestígios do porto improvisado ainda estão na área, os mesmos que deram fama à cidade. Ela foi escolhida para as comemorações do sexagésimo aniversário do fim da Guerra. Hoje, é um local turístico, com museus e locais de interesse histórico.

Ponte do Pégaso: em 1944, essa ponte adquiriu uma importância estratégica na retomada dos territórios franceses pelas tropas aliadas. O principal objetivo na tomada da ponte era o de garantir a segurança do flanco ocidental e impedir um contra-ataque fulminante das tropas alemãs. O nome Pegasus foi dado em homenagem à operação aérea que foi bem sucedida em seu objetivo de conquista. A história é muito instigante e pode ser acompanhada do Airborne Museum Pegasus Bridge, inaugurado no ano 2000 para contar a história do dia D. O museu fica aberto de fevereiro a novembro.

Praia da Espada: essa é a praia mais a leste das cinco que viraram campo de batalha no dia D. Caen, a principal cidade francesa da região, que possuía as principais vias e pontos de escoamento para outras cidades, ficava a 16 Km dessa praia, a nordeste. Como essa praia estava menos protegida que as outras praias, como a de Omaha, por exemplo, que contava com uma artilharia alemã bem equipada. Veteranos franceses da Segunda Guerra dão explicações no local sobre como a praia foi tomada por tropas aliadas inglesas e um memorial contém relatos dos protagonistas dos eventos ocorridos na praia.

Praia de Omaha: é conhecida pelos americanos como ''Bloody Omaha'', por causa das 2.200 baixas nas tropas americanas no desembarque do dia D. O terreno de altas colinas e a defesa fortificada dos alemães fez com que fosse vista como um grande objetivo a ser consquistado. Hoje, pode-se visitar o Museu da Praia de Omaha, que explica todos os acontecimentos da guerra por lá, o palco mais sangrento da Normandia.

Cemitério Americano: localizado na praia de Omaha, esse é um memorial dedicado aos americanos que morreram na Segunda Guerra Mundial. Depois da batalha na Normandia, existiam mais de dez cemitérios americanos na área. A Comissão Americana dos Monumentos de Guerra havia repatriado 60% dos corpos para os Estados Unidos da América e construiu dois memoriais para os outros corpos remanescentes, um na Inglaterra e o outro, na Normandia. Com aproximadamente 80 hectares, esse cemitério conta com 9.387 corpos de homens e mulheres que serviram os Estados Unidos na guerra.

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