Gostoso e Galinhos, as boas do verão no Rio Grande do Norte

Gostoso e Galinhos, as boas do verão no Rio Grande do Norte

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:07

A pergunta talvez seja o maior clichê do turismo brasileiro. Assim que o bugueiro entra no Parque das Dunas, em Genipabu, a 25 quilômetros de Natal, ele pergunta aos seus passageiros: "Com ou sem emoção?". Nós também viajamos para o Rio Grande do Norte em busca de emoções. Mas não essas. Há outras, pouco conhecidas e ainda mais divertidas. O roteiro passa por São Miguel do Gostoso, que começa a ganhar projeção internacional por causa dos fortes ventos que atraem centenas de praticantes de kite surfe e windsurfe.

Ainda bem menos badalada, e mais distante de Natal, estão as vilas de Galinhos e Galos, localizadas numa belezura de península, e que seguem a mesma trilha, apresentando ótimas condições para a prática de esportes a vela. Pode anotar aí: esse lugarzinho logo vai estar muito falado. Porque é lindo, uma rara paisagem de duna, mangue, salinas, ruas de areia e mar de água limpa. Mas não ficamos apenas na preguiça da beira-mar. Saindo do litoral potiguar, circulamos pela região do Sertão do Seridó, em um programa que teve de rapel a visitas a minas de scheelita e observação de pinturas rupestres. Mas o que é scheelita, você deve estar se perguntando. A resposta está nas próximas páginas, acompanhada de muitas novas emoções.

Galinhos não é uma ilha, mas quase isso. Pelo menos em termos práticos - e turisticamente falando. Porque para se chegar até lá só de barco, ou de 4x4, viajando pela praia, na maré baixa, e cruzando umas dunas. Quem não tem veículos capazes de vencer os obstáculos naturais que isolam Galinhos do restante do mundo precisa estacionar em Pratagil, a cerca de 160 quilômetros de Natal, de onde saem barquinhos que navegam até lá numa travessia de 20 minutos por águas tranquilas e abrigadas. Tínhamos Land Rovers, mas acabamos indo de barco mesmo.

Pratagil é um lugar feio. Para se chegar até ali, porém, passamos por um cenário agradável, com salinas e fazendas de camarão. Já o caminho de barco é lindo de morrer, com dunas, salinas e mangues. Nas árvores baixas e retorcidas descansam garças, brancas em sua maioria, mas também as azuis, mais raras e belas. Neste ambiente natural fantástico uma das coisas que mais chamam a atenção não são os bichos nem as plantas ou a cor das águas: são as montanhas de sal que se acumulam no terminal de embarque de navios.

- Certa vez veio até aqui uma equipe de Hong Kong para fotografar um ensaio de moda. Só que eram roupas de inverno, o sal virou neve - lembra Marcelo Ayres, carioca que mora em Natal, um dos guias da Tempo de Aventuras, agência que organiza vários roteiros pelo estado.

O Rio Grande do Norte é um dos maiores produtores de sal do Brasil. Há quem faça seu tipo mais nobre por ali, a flor de sal (muito boa a versão potiguar, por sinal). Em Galinhos, um das principais zonas produtoras do estado, a flor de sal pode ser encontrada em caixinhas, com ou sem tempero de ervas. É o tipo de presente baratinho que vai agradar em cheio aquele seu amigo que curte cozinhar. Uma dessas caixinhas é o simpático regalo que a Pousada Peixe-Galo dá aos hóspedes que se hospedam ali.

Embora a história do sal seja bacana, o que faz de Galinhos um destino especial é a paisagem intacta, a rusticidade, o ambiente ainda imaculado de uma vila de pescadores onde vivem pouco mais de 2 mil pessoas e que mal começou a se abrir aos turistas. Não demore muito para ir até lá. Para virar praia da moda, basta um verão cheio de turistas. E Galinhos nunca mais será a mesma.

Neste conjunto de atributos que combinam charme e rusticidade estão os táxis locais: são pequenas charretes puxadas por cavalos, com espaço praticamente só para o condutor e dois passageiros. É sentado ali atrás, balançando ao sabor das ruas de areia, a melhor forma de se percorrer as praias do pedaço. Assim é que se deve ir até Galos (que, apesar do nome, é uma vila menor que Galinhos).

Ao longo de toda a península há bons lugares para banho, com águas muito salgadas, claras e mornas. Além dos táxis que levam até os melhores lugares para esticar a canga (quem quiser passar o dia inteiro tem que levar barraca de sol e isopor abastecido, porque só em raros trechos existem barracas de praia), outro bom passeio é de barco, invadindo os braços de mar e rio que se encontram ali numa espécie de enseada criada pela península.

No fim da tarde é quase obrigatório, e merece ser repetido, ir até o farol (de táxi, claro). De lá se tem a melhor visão do pôr do sol que cai no mar naquela linda cena clássica em tons dourados e alaranjados que você conhece muito bem. Outra razão para se ir até o farol é o mar, que garante o melhor banho das redondezas, numa água clara, calma, rasa e quentinha, de onde não dá vontade de sair.

No caminho cabe uma parada na cooperativa de artesanato local. As artesãs trabalham ali mesmo, fazendo rendas, bordados e peças de decoração. No trajeto até o farol, pela beira da praia, estão alguns ranchos de pescadores, com suas jangadas estacionadas, que só contribuem para embelezar o cenário. Não espere qualquer agito noturno. Galinhos é e - dizem os seus moradores, com ênfase - quer continuar sendo uma pacata vila de pescadores.

- Estamos lutando contra a massificação do turismo. Uma grande operadora quis botar um barcão para fazer passeios, mas os barqueiros da região protestaram e eles foram embora - relata Chesma Alves Marinho, secretária de turismo do município.

Outro fator que bota Galinhos no mapa do turismo no Nordeste são os ventos fortes e constantes que sopram ali, atraindo muitos praticante de esportes a vela, principalmente da Europa.

- Queremos receber turistas, mas isso não significa muita gente, de maneira desordenada, com bares tocando música alta e sujeira - diz Ana Muller, dona da pousada Peixe-Galo.

Pousadas: para badalar, jantar, namorar e até dormir

Badalação noturna, em Galinhos, é ver novelas e assistir ao "Jornal Nacional" na pracinha principal da cidade. A TV comunitária, que durante o dia fica trancada a cadeado, é a principal atração da cidade. Mas isso é programa apreciado só pelo locais. Para os forasteiros o lugar mais animado, se é que se pode chamar assim, é a Pousada Brésil Aventure, que pertence a uma brasileira casada com um francês. Turistas, brasileiros e estrangeiros, se reúnem ali de noite para beber e petiscar. Na beira da praia, com mesinhas estrategicamente posicionadas para ouvir o marulho e sentir a brisa fresca, é realmente um lugar agradável para passar algumas horas. O restaurante da pousada serve uma comida simples.

Um bom endereço para uma refeição é o restaurante Irene, na praia de Galos. Filha de pescador, a dona sabe lidar com pescados, montando um pequeno bufê onde se destacam a tainha frita, o camarão ao alho e óleo, as iscas de bagre (sim, bagre) e a mariscada, uns pequenos mariscos, primos do sururu, afogados em molho espesso, com leite de coco, coentro, tomate e cebola, sensacional, o melhor de tudo.

Outra boa pedida, principalmente para um jantar romântico, é o restaurante da pousada Oásis, que pertence a uma angolana e a um português. O cardápio tem clara inspiração lusitana, servindo receitas de bacalhau muito bem executadas. Peça pela musse de chocolate amargo, que encerra de forma gloriosa este jantar gostoso.

Em Galinhos, há basicamente quatro pousadas, digamos, aceitáveis - por enquanto. É tudo ainda muito rústico, mas com charme e algum conforto. A pioneira foi a Brésil Aventure, inaugurada em 2001. Depois veio a Oásis, aberta em 2002. Quatro anos depois foi a vez da Peixe-Galo. E mostrando que o ritmo de crescimento do turismo em Galinhos é bem lento, só no finalzinho do ano passado, em novembro, abriu as portas mais uma boa pousada na península, a Amagali - a exemplo da Brésil Aventure, também pertence a uma brasileira casada com um francês.

A novidade, que está ganhando novos quartos para o verão, é a melhor pousada para casais, com uma piscina voltada para o mar e cercada de espreguiçadeiras confortáveis protegidas do sol por ombrelones. Há dois chalés com teto de sapê, varandinha com rede e vista para o mar, ambientes propícios para uma lua de mel.

A Peixe-Galo não fica atrás em termos de conforto, com quartos bem equipados e uma boa piscina. O destaque vai para o mezanino acima do restaurante onde é servido o café da manhã. Todo envidraçado, com linda vista do mar, tem pufes espalhados pelo chão, um ótimo lugar para apreciar o mar e o céu estrelado (aliás, favorecido pela pouca luz: como tem estrelas o céu de Galinhos).

A Oásis, por sua vez, tem a decoração mais charmosa de todas, e uma cozinha de alto nível, enquanto a Brésil Aventure tem um perfil mais jovem e despojado. Agora é só escolher a sua.

Gostoso: praia que faz jus ao nome

Viajar de Galinhos a São Miguel do Gostoso, ou vice-versa, é parte de um passeio clássico nordestino, o circuito de praias entre o Rio Grande do Norte e o Maranhão, quase todo feito pelo litoral, sempre na maré baixa, numa caravana de Land Rovers. O caminho é pela beira-mar, vez ou outra subindo umas dunas até chegar a falésias com vista espetacular.

No trajeto aparecem algumas vilas de pescadores, como Caiçara do Norte, onde existe um farol. Ali é possível, com alguma sorte, ver a pesca de arrastão, que traz camarões e peixes na rede. Para quem gosta de cozinhar, os preços dos pescados são uma piada: um robalo imenso, com cerca de cinco quilos, pode custar apenas R$ 20, enquanto um quilo de camarão grande não passa de R$ 7 ou R$ 8. Ou seja: com pouco mais de R$ 30 dá para fazer um banquete para umas oito ou dez pessoas.

Gostoso, como também é conhecido o lugar, a cerca de 120 quilômetros de Natal e com fácil acesso, já não é nenhum segredo guardado só por turistas de espírito mais despojado e aventureiro, como Galinhos. Pelo contrário. É famoso entre os que visitam Natal e, mais que isso, sem desprezar praias do Ceará, é o destino da vez quando o assunto é windsurfe e kite surfe no Brasil.

- Temos condições perfeitas para o esporte. Quem ama o kite surfe já conhece e alguns dos melhores atletas do mundo vêm até aqui para treinar - conta o italiano Paolo Migliorini, dono da Dr. Wind, misto de albergue, escola e clube de vela, com uma invejável estrutura para receber adeptos do esporte, com equipamentos para alugar e área para lavar e guardar pranchas e acessórios.

Logo ao lado funciona a pousada Mi Secreto, administrada por Paolo - que chegou a ser campeão italiano de kite surfe. Trata-se de uma mansão adaptada para receber hóspedes, com apenas cinco chalés.

Com menos de dez mil habitantes, Gostoso é mais desenvolvida que Galinhos, e isso é bom e ruim. Se por um lado o seu sossego pode ser perturbado por um show de forró do Calcinha Preta, tocando no último volume nas caixas de som do clube local, reaberto recentemente, a estrutura para acolher os turistas é bem melhor. Há pelo menos uma dezena de boas pousadas, e o mesmo número de restaurantes dignos.

Um endereço imperdível para os que apreciam a boa mesa é a pousada Mar de Estrelas, que funciona num amplo terreno com árvores frutíferas que começa na rua principal de Gostoso e chega até a areia da praia. Isso porque os donos têm uma fazenda, do outro lado da estrada, de onde vem boa parte da matéria-prima das receitas. O coco, por exemplo, é colhido na hora de servir, fresquinho.

- Todos os dias, de manhã, fazemos queijo coalho. Mas a minha especialidade é cabrito, servido com feijão verde e pirão de leite, e também os bolinhos de macaxeira - diz Maristela Ribeiro Teixeira, a dona, que cuida da cozinha.

Nos últimos anos o Rio Grande do Norte recebeu muitos portugueses. Alguns deles foram ficando, ficando. Gente como a lisboeta Fernanda Vaz Monteiro, que escolheu o lugar para viver. Ela abriu, em 2008, a pousada Lagoa Mar, com apenas seis quartos. Craque nas panelas, comanda ainda o restaurante Dom Bacalhau, que funciona na pousada.

- Além das receitas de bacalhau preparamos outros clássicos portugueses, como cataplana de peixe e camarão - conta Fernanda que, sob encomenda, também faz arroz de pato e cabrito assado.

Outra boa pousada com restaurante recomendável tem nome muito adequado: Só Alegria. De fato, a simpatia dos donos carrega de felicidade o ambiente e o serviço. A localização das mesas, cobertas com toalhas coloridas e vasos com flores, é estratégica, numa varandinha com vista para o mar.

A noite é mais animada que em Galinhos, o que não significa que haja muita badalação. Mas nos fins de semana sempre tem uma festinha acontecendo. O melhor lugar para se aquecer, ou mesmo para gastar a noite toda, é no Madame Chita, misto de bar, creperia e loja, com mesinhas espalhadas pela rua num ambiente muito charmoso. Por mais que as peças vendidas ali sejam mesmo bonitas e originais, e que o crepe seja de fato gostoso, o que torna o lugar imperdível é a seleção de caipirinhas, com destaque para três: de seriguela, de cajá com raspas de limão e de banana com canela. Outra boa pedida é o bar J. Sparrow's, na Ponta do Santo Cristo, uma espécie de pub praiano, com estrutura de madeira e sapê, trilha sonora roqueira e muitos estrangeiros, especialmente os que frequentam o Dr. Wind, pertinho dali.

Cultura do sertão inspira ambiente e cardápio de pousada

A pousada Casa de Taipa está entre as mais charmosas do Rio Grande do Norte. A decoração, 100% original, é obra do artista plástico Marlos Camilo, um dos sócios, que pintou as mesas, muito coloridas, com motivos bem nordestinos, como barcos de madeira, coqueirais e cajus. Ele também fez os quadros que enfeitam os quartos.

E ainda constrói miniaturas perfeitas, como a casa de taipa na foto ao lado, que parece de verdade. Essa não é, mas a pousada tem uma espécie de minimuseu aberto a não hóspedes. No jardim há uma réplica perfeita de uma casa de taipa, com lamparinas, colchão de palha e objetos típicos. Na recepção ficam peças antigas, doadas por moradores.

- Certa vez duas hóspedes pediram para dormir na casa de taipa, queriam sentir como é passar a noite no colchão de palha - lembra Ruy Mazurek, um dos sócios da pousada.

Apesar de estar em São Miguel do Gostoso, a pousada Casa de Taipa não quer lá muito saber do mar. Tanto que nem fica próxima à praia. Ali o sertão é que inspira a decoração. Da mesma maneira, apesar de ter alguns pescados, o cardápio do restaurante é voltado para pratos sertanejos, como a paçoca e o arrumadinho de carne de sol.

POUSADAS E RESTAURANTES

GALINHOS

Amagali: Diárias a partir de R$ 80. Tel. (84) 3552-0083. www.amagali.com Oásis: Diárias a partir de R$ 170. Tel. (84) 3552-0024. www.oasisgalinhos.com Peixe-Galo: Diárias a partir de R$ 190. Tel. (84) 3552-2001. www.pousadapeixegalo.com.br Irene: Restaurante com bufê de peixes e frutos do mar frescos. Tel. (84) 3552-2016.

SÃO MIGUEL DO GOSTOSO

Só Alegria: Diárias a partir de R$ 200. Tel. (84) 3263-4355. www.pousadasoalegria.com.br Casa de Taipa: Diárias a partir de R$ 100. Tel (84) 3263-4227. www.pousadacasadetaipa.com.br Mar de Estrelas: Diárias a partir de R$ 150. Tel. (84) 3263-4168. www.pousadamardeestrelas.com.br Lagoa Mar: Diárias a partir de R$ 220. Tel. (84) 3263-4192. www.pousadalagoamarrn.com

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