Guaraqueçaba é reduto ecológico escondido no litoral do Paraná

Guaraqueçaba é reduto ecológico escondido no litoral do Paraná

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:28

Você já ouviu falar de Guaraqueçaba? A cidadezinha no litoral norte do Paraná fica encravada em uma área de proteção ambiental com trilhas e cachoeiras em meio à mata atlântica, rodeada por ilhas, manguezais e praias desertas.

Em tupi-guarani, Guaraqueçaba significa "lugar do guará", a ave de coloração vermelho-vivo que era abundante na região e chamava a atenção dos índios. Hoje, é difícil avistá-la, assim como restaram poucas tribos indígenas, mas a natureza ainda guarda outras surpresas praticamente intocadas.

Para desfrutá-las, é imprescindível usar um barco. As embarcações saem pela manhã, sempre entre 7h e 8h, do porto de Guaraqueçaba e levam no máximo cinco turistas. Só retornam no final da tarde, por volta das 18h.

Uma dica para impressionar o visitante logo de cara é começar pelo Parque Nacional do Superagüi - "rainha dos peixes", em tupi-guarani -, criado em 1989, um dos raros redutos do mico-leão-da-cara-preta, primata ameaçado de extinção.

Localizado a cerca de 20 km de Guaraqueçaba, o parque é constituído por ilhas, entre elas a das Peças, do Pinheiro e do Pinheirinho, uma área superior a 200 Ibirapueras, com manguezais, mata atlântica, vegetação de restinga e praias desertas numa zona de estuário. É considerado um dos ecossistemas de maior biodiversidade do mundo.

A Vila de Superagüi, pequeno povoado nos limites do parque, é o ponto de referência, com poucas pousadas, restaurantes e lanchonetes. Almoce por ali mesmo, antes de se aventurar por uma caminhada pelos 40 km de praia deserta.

Deixe para sair da vila lá pelas 16h30. O importante no trajeto de volta a Guaraqueçaba é estar meia hora depois bem em frente à ilha do Pinheiro, onde acontece a revoada de papagaios-de-cara-roxa, outra espécie ameaçada.

A área de ocupação desses papagaios se limita a uma estreita faixa do litoral brasileiro, do sul de São Paulo ao norte de Santa Catarina. É exatamente no norte do Paraná que ocorre sua maior ocupação. Calcula-se que, dos 4.000 indivíduos existentes na natureza, cerca de 3.000 estão na área de proteção ambiental de Guaraqueçaba.

Desligue o motor do barco e leve um binóculo para apreciar melhor o espetáculo. Sobre as cabeças dos poucos turistas, eles vão chegando em pequenos grupos, às vezes em dupla, sempre com alarde, e continuam sobrevoando a ilha em algazarra até encontrar o melhor esconderijo entre as palmeiras para passar a noite.

Quando a quietude toma conta dos papagaios, o céu começa a escurecer, anunciando que é hora de voltar para casa, com o barco escoltado por botos em duplas.

Antes de encerrar o dia, vá conhecer a primeira construção da cidade, a igreja do Nosso Senhor Bom Jesus dos Perdões, construída em 1838, em estilo colonial, com grossas paredes de pedra. No interior, preste atenção ao altar em forma de embarcação, cuja base tem formato de peixe esculpido em madeira, uma homenagem aos pescadores da região.

Se ainda tiver fôlego, aproveite o fim de luz e siga a trilha da mata, no fundo da igreja, que dá acesso ao mirante, de onde se tem uma bela vista da cidade, da baía e das ilhas em seu contorno.

Patrimônio natural

Na manhã seguinte, tire o dia para visitar a reserva natural Salto Morato, criada pela Fundação O Boticário, a 20 km da cidade.

Passe pelo centro de visitantes, assista ao vídeo sobre a reserva no auditório e aprecie a exposição permanente da mata atlântica antes de se jogar nas trilhas.

A mais importante delas segue em direção à cachoeira de 130 m de altura que dá nome à reserva, encravada sobre uma formação rochosa de 2 milhões de anos. Aproveite para se banhar numa de suas piscinas naturais de água gélida.

De volta à trilha, procure não fazer barulho para apreciar com detalhes a rica fauna da reserva. Seu "acervo" é invejável. Lá estão 45% das espécies de aves, 48% das de mamíferos e 20% das de répteis registradas no Estado, além de 19 de anfíbios e 38 de peixes.

Considerada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, a reserva possui ainda um centro de capacitação, onde são oferecidos cursos relacionados à conservação da natureza para técnicos ambientalistas e a comunidade local.

Como uma das últimas remanescentes de mata atlântica do Brasil, a região de Guaraqueçaba foi escolhida para abrigar projetos de restauração florestal, financiados por grandes empresas multinacionais, com a intenção de combater o aquecimento global.

Entre eles, a organização não-governamental SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) desenvolve três trabalhos com o objetivo de, em 40 anos, retirar da atmosfera a emissão de 2,5 milhões de toneladas de carbono, através da restauração e proteção de 17,6 mil hectares de áreas nativas.

A maior parte sofreu intervenção humana, como exploração de madeira na base das encostas e desmatamento nas planícies para instalação de pastagens para criação de búfalos e culturas agrícolas.

A idéia agora, com os projetos chamados seqüestro de carbono, é não só restaurar ambientes degradados, mas plantar e recuperar espécies, aumentando a qualidade de ecossistemas e áreas de refúgio animal. Se tudo der certo, a região de Guaraqueçaba promete ficar ainda melhor.

Guaraqueçaba

- Para quem: Gosta de natureza, trilhas, cachoeiras, ilhas, reservas ecológicas e praias desertas.

- Como chegar: o acesso pela estrada é difícil e demorado, com cerca de 70 km sem asfalto. O melhor é ir de ônibus ou carro até Paranaguá (a 442 km de São Paulo) e de lá fazer a travessia da baía de barco (leva cerca de 2 h e 30 min).

- Quando ir: o ano inteiro. No verão, apesar das chuvas, é uma boa oportunidade para ver as cachoeiras cheias, e a temperatura média gira em torno de 24ºC. Na primavera, dá para apreciar a riqueza da fauna.

Por: Roberto de Oliveira

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