Maioria das ruas da capital da Albânia ainda não tem nome

Maioria das ruas da capital da Albânia ainda não tem nome

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:26

Tirana é a única capital da Europa em que menos de 20% das ruas tem nome, mas um projeto financiado pela União Europeia (UE) dará à cidade em breve um sistema moderno de endereços e sinalização.

Durante mais de um ano, um grupo de especialistas da Prefeitura, da Academia das Ciências e do Instituto da Língua Albanesa selecionou os nomes de figuras não-políticas nacionais e internacionais que devem batizar as ruas da cidade.

Nesta semana, um grupo de funcionários da Prefeitura começou a colocar as primeiras placas com os novos nomes. O projeto, que prevê também a numeração de edifícios, casas e lojas, deve terminar em 2011.

No final do comunismo isolacionista, que durou quase meio século (1945-1991), a capital da Albânia era uma cidade pequena, praticamente sem carros, e com apenas 213 ruas.

Vinte anos depois do início da era democrática, Tirana já conta com mais de 1.100 ruas e avenidas novas, quase todas sem nome e com edifícios sem número.

Em 1990, a cidade tinha 250 mil habitantes. Porém, com a chegada do novo regime e das novas liberdades, incluindo a de se movimentar pelo país, Tirana é hoje o lar de um milhão de pessoas.

Os novos moradores da capital vieram das regiões rurais do norte e do sul do pequeno país balcânico, considerado até hoje um dos mais pobres da Europa.

De maneira vertiginosa e caótica, sem planejamento urbanístico e em meio a grande corrupção, foram construídas dentro dos limites da capital duas "cidades" ilegais, com imóveis de até 15 andares - o triplo de altura dos existentes até então - que usurparam parques, ruas, campos, praças e outros espaços públicos.

A falta de endereços claramente definidos dificulta a vida dos habitantes de Tirana, da Administração local e também das empresas de serviços.

Os bancos têm problemas para encontrar o endereço de seus clientes e as cartas enviadas do interior e do exterior muitas vezes não chegam ao destinatário, inclusive as decisões judiciais.

Diante desta situação caótica, o povo aprendeu a se orientar por meio das localidades existentes no entorno, como hotéis, monumentos históricos, restaurantes ou antigas fábricas comunistas destruídas e em ruínas até hoje.

Assim, as paradas de ônibus foram batizadas pelos motoristas com nomes como "Lar do Urso" em referência ao restaurante de mesmo nome, "Chaminé", "Lojas Antigas", "Torres Gêmeas", "Cristal" e "Pizzaria Kolonat".

A maioria dos edifícios carece de números e as pessoas os identificam segundo as cores e os desenhos realizados pelo prefeito Edi Rama, que há dez anos mandou pintar e decorar as fachadas.

"As contas de luz e inclusive as sentenças dos tribunais chegam endereçados ao edifício das setas", explica entre risos Mentor, habitante de um edifício decorado com enormes setas de cor amarela desenhadas sobre um fundo verde, situado em uma das ruas principais de Tirana.

Mas, em geral, a distribuição das cartas é uma verdadeira dor de cabeça para os carteiros. Já para os médicos de plantão, os maiores problemas surgem à noite, quando não há ninguém na rua para perguntar por endereços.

"Desde que as ruas foram nomeadas em 1937, só a placa da praça Skenderbej resistiu ao tempo e nunca mudou de nome", explicou à Agência Efe Valter Gjoni, um dos especialistas da Prefeitura que está levando adiante as reformas.

Outro nome que não se perdeu graças à tradição popular é o da região Zogu i Zi ("pássaro negro"). Diz a lenda que um político local morreu ali, bicado por uma ave, que depois foi chamada de "pássaro negro".

Outra versão diz que havia uma cafeteria no lugar em que se reuniam os motoristas dos ônibus urbanos na entrada, enquanto nos fundos funcionava um bordel.

O resto dos nomes existentes reflete mudanças políticas durante diferentes períodos históricos do país, como o reinado de Ahmet Zogu, a ocupação italiana e o comunismo.

Postado por: Felipe Pinheiro

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