Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no RS, reúne diferentes espécies da fauna

Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no RS, reúne diferentes espécies da fauna

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:23

Pingüins, baleias, leões-marinhos, flamingos, cisnes, maçaricos e outras espécies da fauna. Seria uma introdução comum para iniciar um artigo sobre inúmeras regiões do mundo, menos no Brasil. Ao contrário disso, todos esses animais são avistados no litoral sul do Rio Grande do Sul, mais precisamente no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, situado entre as cidades de Mostardas e Tavares.

E, justamente, para proteger seus ecossistemas litorâneos que abriga e serve de alimento para mais de 40 mil aves catalogadas entre 192 espécies, das quais 19 migratórias do hemisfério norte e 4 do sul, é que, desde 1986, 34.400 hectares da região formam o Parque Nacional da Lagoa do Peixe.

O nome vem de sua principal lagoa que, apesar da denominação é, na verdade, uma laguna devido à direta ligação com o mar através de uma barra. Com ocorrência intensificada nos meses de junho a dezembro, a mistura das águas doce e salgada, aliada a constante ação de fortes ventos, permite a concentração de nutrientes que garante o ciclo reprodutivo e a sobrevivência de diversas espécies. Tais características específicas fazem do local um reservatório natural de alimentos. São camarões, caranguejos, moluscos, algas, plânctons e pequenos peixes atraindo aves, mamíferos e répteis.

Localizado entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico o Parque Nacional da Lagoa do Peixe é uma extensa planície costeira com áreas de banhados, praias, campos de dunas, mata de restinga e lagoas de água doce e salobra. Um santuário para as aves migratórias, que chegam a percorrer 10 mil quilômetros em busca de local apropriado para alimentarem-se, trocarem as penas e descansar. Como é o caso do maçarico-de-peito-vermelho que faz seu ninho próximo ao Pólo Norte (ártico canadense) e, com a chegada do inverno boreal, viaja com seus filhotes para a região. Ou os flamingos e a batuíra-de-coleira-dupla, que voam da Patagônia Chilena e Argentina para as águas do Parque.

Garças, biguás, cisnes, talha-mares, gaivotas, pernilongos, pica-paus, marrecos, gaviões, cabeças-secas, enfim, uma desmedida quantidade de aves habitam a Unidade de Conservação. Captura, marcação com anilhas, senso e coleta de dados biológicos. Estudos realizados pelo Centro de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres (Cemave), órgão ligado ao Ibama, desde a década de 80 atuando na região, despertaram interesse na comunidade científica brasileira e de outros países estrangeiros. Assim, em 1991, Lagoa do Peixe passou a integrar a Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limícolas (associadas à ambientes lamacentos como é o caso do solo das lagoas do Parque) e, em 1999, foi considerado como posto avançado do Comitê Nacional de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, título concedido pela Unesco, que representa a importância dos ecossistemas para a sobrevivência da vida no planeta.

Semelhante ao movimento das aves, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe também serve de refúgio para pingüins, focas, lobos e leões-marinhos que utilizam o litoral para descanso e alimentação. A riqueza alimentar provocada pelo deságüe das lagoas e as correntes marinhas das Malvinas, no inverno, e do Brasil, no verão, ocasiona o aparecimento dos animais durante o inverno brasileiro.

Vale frisar que, ao avistar esses animais, deve-se manter uma distância de no mínimo cinco metros, não alimentá-los e nem tentar recolocá-los de volta ao mar, pois possivelmente devem estar descansando de longas jornadas marítimas e podem ficar agressivos com tal atitude. Afinal, poder apenas ver animais tão distantes de nossa variada fauna, no Brasil, já é em si um fato curioso.

Como a grande maioria das Unidades de Conservação do país, o maior problema da Lagoa do Peixe diz respeito à situação fundiária. A transferência de bem particular para âmbito público, com objetivo de dar função social, como rege a Constituição Federal no ato de desapropriação para a criação de uma Unidade de Conservação, deixou a população rural de Mostardas e Tavares em grande desconforto, visto que segundo dados do IBGE, aproximadamente 300 propriedades têm grandes parcelas de suas terras mais férteis para pastagem do gado nas dependências do Parque. Embora o Governo Federal esteja indenizando as terras desapropriadas, a grande maioria recusa-se a sair da região, alegando que as terras pertencem às famílias há várias gerações.

Na área do Parque ainda existe a vila de pescadores da Barra e os balneários do Paiva, Lagamarzinho e Talha-mar. Não possuem rede elétrica, telefone, tratamento de esgoto, o que ameaça comprometer o lençol freático e a saúde pública local. E o lixo ou é enterrado nas dunas ou abandonado ao ar livre pela precariedade da coleta. A maioria das casas é de madeira e isso acaba dando um clima de cidades fantasmas dos filmes de faroeste americano.

Embora o Ibama tenha cadastrado diversas famílias de pescadores que vivem da retirada do camarão nas lagoas da Unidade de Conservação, antes mesmo da criação do Parque, Lagoa do Peixe também enfrenta problemas de pesca e caça clandestinas.

Para reverter esse quadro, a direção do Parque Nacional da Lagoa do Peixe vem ministrando palestras áudio-visual nas escolas públicas, universidades e prefeituras, com intuito de educar e conscientizar a população regional quanto à importância e cuidados devidos com os ecossistemas da Unidade de Conservação. Através da implementação do Plano de Manejo, o Ibama quer, não só proteger o meio ambiente, mas também valorizar regionalmente a identidade sócio-econômica e cultural, criando oportunidades de um desenvolvimento sustentável voltado ao ecoturismo e projetos científicos.

Por: Marcelo de Paula

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