A mostra "Sutil Violento", levada pela instituição brasileira Itaú Cultural ao Centro Cultural Recoleta, na capital argentina, abre para o público no dia 2 de agosto (com inauguração no dia 1º para convidados) e fica em cartaz até 31 de agosto. Parte integrante do Festival de la Luz, organizado pela Fundación Luz Austral, o evento dá uma dimensão da produção da fotografia documental e artística que permeia a Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela. Depois de Buenos Aires, a exposição que estreou na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, Brasil, e seguiu para Montevidéu, poderá ser vista, ainda, no Chile.
Segundo o curador da mostra, o fotógrafo Iatã Cannabrava, em Sutil Violento a fotografia ajuda a transitar pelas possíveis causas e conseqüências da violência no continente latino-americano: pobreza, colonialismo, massificação, consumismo, desaculturação, diferenças sociais, intolerância, frustração, melancolia, e um sem fim de outros tênues e duros adjetivos.
As quase 50 obras que compõem a exposição resultam de um corte entre os muitos possíveis na fotografia latino-americana. Apesar de ter escolhido a questão da violência como carro chefe, tema quase que obrigatório em nossas reflexões cotidianas, na hora de definir formas e de buscar ensaios e trabalhos ficou evidente, para o curador, que a reflexão sobre a fotografia em si - a obra e não o tema - era o mais importante. Os olhares diversos, dos 16 artistas convidados, transitam o tempo todo na tênue linha que define o que é fotografia documental. "Mas, com certeza, todos os trabalhos têm em comum o comprometimento com as questões que afligem a sociedade contemporânea", afirma Cannabrava.
Os fotógrafos e suas obras
Ananke Assef representa a Argentina com a obra Potencial na qual a autora põe à vista a fragilidade do Estado. Eduardo Gil, seu conterrâneo, apresenta Solidão Faraônica, um ensaio sobre um prédio que serviu para investigações meteorológicas e, nas palavras do artista, é vestígio de um país que não terminou de se cristalizar. O também argentino Marcos López exibe Carnicera. Da série Sub-Realismo Criollo, essa obra é, segundo o curador, uma das mais imponentes representações do ser latino exuberante. Fechando o grupo argentino, o fotógrafo RES traz Intervalos Intermitentes, ensaio no qual reflete sobre as marcas deixadas pela história militar nas pessoas e as que o próprio cotidiano desenha no corpo de cada um.
André Cypriano, Júlio Bittencourt e Miguel Rio Branco representam o Brasil. O primeiro mostra o seu trabalho Cidades Órfãs. "São imagens 'homogêneas' em que o olhar de cima parece desqualificar o trágico, mas não consegue", explica Cannabrava. O segundo, exibe Numa Janela do Edifício Prestes Maia, 911, registro latente da invasão urbana de São Paulo. Miguel Rio Branco encerra o triunvirato brasileiro com a instalação Cão Chão Sangue.
O Chile envia Pablo Rivera, com Take&Run, série na qual exibe guaritas de segurança numa critica silenciosa à funcionalidade dos mecanismos e discursos da segurança. De Cuba vem a obra Mi Casa Es Su Casa, Mi Hogar Es Su Hogar, de René Pena - um dos discursos mais sutis sobre a violência, de acordo com o curador. Rodolfo Walsh, salvadorenho residente na Guatemala, traz Héroes Caídos em que exibe heróis tristemente abatidos em festas de aniversário.
Duas mulheres vêm do México: Daniela Edburg, que traz Drop Dead Gourgeous, e Maya Goded, da tradicional agência fotográfica francesa Magnun, com Desaparecidas. O trabalho de Daniela ironiza a sociedade de consumo, sobretudo a feminina. Maya trabalha sobre as mulheres desaparecidas de Ciudad Juares - um caso que chocou a sociedade mexicana nos anos 90, quando mais de 700 mulheres de baixa renda desapareceram e seus corpos foram descobertos, posteriormente, com sinais de violação, tortura e mutilação.
Do Panamá vem Rachelle Mozman com Costa del Este, que, na visão de Cannabrava, faz um contraponto à obra do brasileiro Júlio Bittencourt. "Ela utiliza tênues alterações na imagem para enfatizar a figura de crianças como 'atores' de uma história de profunda solidão e tristeza, fruto do modelo de um morar importado dos subúrbios norte-americanos, onde condomínios cercados acabam por isolar e não proteger".
A série Fiat Voluptas Dei é do paraguaio Fredi Casco. Nela, meninas vestidas para a Primeira Comunhão aparecem com tarjas nos olhos, como se se tratasse de menores delinqüentes, reforçando, assim, na opinião do curador, a ambigüidade relatada em Sutil Violento. A obra Los Pasos Perdidos é da peruana Milagros de la Torre, autora de Punzo Cortante. "Ela parte da idéia do silêncio das chamadas armas brancas e nos apresenta a fronteira tênue que divide armas de utensílios: A fina linha que afasta o bem do mal", conta ele. Finalmente, o venezuelano Nelson Garrido traz Caracas Sangrante, da série Caracas Utópica, cujo nome já dá pistas do que será visto.
O Itaú Cultural
Instituição sem fins lucrativos, coligada ao Banco Itaú, o Itaú Cultural foi criado em São Paulo em 1987 e aberto ao público em 1989. Ao longo dos anos se transformou em uma das principais instituições culturais do Brasil. Em sua sede na Avenida Paulista-- principal via da capital do Estado de São Paulo - oferece uma ampla programação gratuita.
Nacionalmente, a instituição se consagrou por seus investimentos no mapeamento, pesquisa, incentivo e divulgação da cultura brasileira. Uma de suas principais iniciativas de fomento é o Programa Rumos, que identifica, financia e promove a difusão do trabalho de artistas emergentes em diversas áreas de expressão, como cinema e vídeo, artes visuais, música, literatura, arte mídia e dança. A programação gerada pelo Itaú Cultural tem caráter itinerante e alcança os principais Estados brasileiros por meio de parcerias com instituições consagradas.
Além disso, o instituto consolida conteúdo para distribuição via emissoras de TV. Parte da programação é convertida em material audiovisual e transmitida por cerca de 100 emissoras educativas e universitárias conveniadas. A instituição desenvolve também produtos editoriais - livros e catálogos, por exemplo -, que também são distribuídos gratuitamente para escolas públicas, universidades, bibliotecas e instituições culturais de todo o país.
Serviço:
Local: Centro Cultural Recoleta. Junín 1930 (C.P. 1113) Buenos Aires. Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina.
Dias: Segunda a sexta 14h às 21h / Sábados, domingos e feriados 10h às 21h
Abertura: 01 de agosto
Exposição: 02 de agosto a 31 de agosto
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