Vulcão Quilotoa, no Equador, troca lava por águas azuis

Vulcão Quilotoa, no Equador, troca lava por águas azuis

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:27

Vulcão Quilotoa, no Equador, troca lava por águas azuis Para imaginar o Quilotoa basta pensar num vulcão de 3.880 metros de altitude. Também é necessário parar de sonhar com erupções violentas e rios de lava descendo furiosos pelas encostas das montanhas, porque o Quilotoa há muito tempo está inativo. Em vez de fogo, há água. Dentro da cratera, a fúria das rochas incandescentes deu lugar a uma lagoa azul-turquesa, ovalada em seus três quilômetros de diâmetro, que brilha e muda de cor quando bate o sol.

Mas para ver tudo isso é necessário subir até lá. Ao contrário do que acontece com a maioria dos vulcões equatorianos, o acesso ao Quilotoa é bastante fácil. Não é necessário escalar absolutamente nada e nem ter equipamento especial para a neve. No Quilotoa faz frio, mas não o suficiente para nevar. A temperatura média varia entre dez e 14 graus durante o dia. Não se pode saber com exatidão, porque o clima dos Andes equatorianos depende muito da intensidade do sol. Se ele resolve aparecer e reinar soberano no céu azul, é provável que os menos friorentos consigam dispensar a blusa. Mas se o dia nasce e morre nublado, ou se chove, o frio vem com força e o vento corta. De noite a mesma coisa. Não é à toa que para os incas o sol - ou inti, em quéchua - era o maior dos deuses.

Chegar até o Quilotoa é tão simples quanto demorado. Em Quito, basta dirigir-se ao Terminal Terrestre de Cumandá, no centro da cidade, e pegar qualquer ônibus que vá a Latacunga. E são muitos, que saem a cada dez minutos e não custam mais de 1,5 dólar. Isso porque tanto Quito como Latacunga ficam numa mesma linha rodoviária, a Panamericana, que corta não apenas o Equador, mas todo o continente americano de norte a sul. Como a capital do país fica no norte, são muitos os ônibus que saem em direção ao sul (Riobamba, Ambato, Cuenca, etc.) e inevitavelmente acabam passando por Latacunga.

São cerca de duas horas de viagem. Uma vez em Latacunga, é altamente recomendável fazer uma parada gastronômica nas barraquinhas de comida que ficam ao lado da estação de trem da cidade. Ali se pode encontrar cuy assado, uma espécie de porquinho da Índia feito no rolete. O cuy é um dos pratos típicos dos indígenas andinos. Não tem muita carne, mas vale a pena experimentar. Negociando é possível comer um cuy - com arroz, batatas e salada à vontade - por dez dólares e sair com a barriga cheia para a próxima etapa da viagem.

Há duas opções para fazer o trajeto Latacunga-Quilotoa. Existe um ônibus que vai diretamente até o vulcão e que sai duas vezes por dia do terminal rodoviário da cidade, um de manhã e outro à tarde. A Cooperativa El Vivero tem ônibus diários normalmente às 10h e às 13h, mas esses horários não são tão rígidos assim. Quem não conseguir pegar esse ônibus tem que se colocar na avenida principal de Latacunga e esperar um transporte até Zumbahua. A passagem custa em média 1,25 dólar. O trajeto demora cerca de duas horas e é bom ficar esperto pra subir num ônibus que tenha poltronas livres. Ficar de pé todo esse tempo enquanto o coletivo serpenteia pelos Andes não é uma experiência muito agradável nem para as pernas nem para as costas.

Basta colocar o pé em Zumbahua para que algum morador local venha oferecer transporte em caminhonete até o Quilotoa. É com eles que as pessoas - inclusive os que moram ali - costumam subir e descer do vulcão. A grande diferença está no preço que cobram de uns e outros. A passagem vai depender muito da pinta de gringo (olhos e cabelos claros, roupas de aventura e mochilas grandes) e da capacidade de negociação de cada um. Aliás, quase tudo no Equador é negociável. Por isso, se a caminhonete vai cheia, não se deve pagar mais de 50 centavos de dólar pela viagem. Se são poucas pessoas, 1,50 ou 2 dólares é o máximo. Esse preço só se consegue com muita pechincha. Se não bater o pé, o viajante pagará entre 3 a 5 dólares pela meia hora de viagem até o vulcão.

Se estiver fazendo bom clima, vale a pena ir de pé na carroceria da caminhonete. O vento é frio, mas a beleza da região compensa. E no caminho existe um pequeno cânion que acompanha boa parte da estrada.

Depois de muita subida, se chega à entrada do povoado. Turistas estrangeiros têm que pagar 2 dólares para entrar na comunidade, que se encontra no topo do vulcão. Uma vez ali, basta caminhar cinco minutos até a cratera, que fica dentro do povoado mesmo. Visto de cima, o lago vai parecer pequeno e a trilha que leva até ele, curta. Mas no Quilotoa, as aparências enganam. A descida pode levar entre 45 minutos e uma hora, dependendo do preparo físico de cada um. E a volta...

Mentiria se dissesse que é fácil, porque, além da inclinação da montanha, a altitude não ajuda na hora de respirar. O sol equatorial, quando está a pino, também não é muito agradável. Mas os moradores locais pensaram nisso. Os que não conseguirem vencer a subida com suas próprias pernas podem recorrer às mulas e cavalos, sempre dispostos a conduzir o turista ao topo do vulcão em troca de dinheiro.

Lá embaixo, na lagoa, é possível alugar um barquinho, caminhar, escalar as rochas ou simplesmente ficar à toa desfrutando a paisagem. Também dá pra acampar, com a vantagem de que faz menos frio e menos vento perto da lagoa do que lá em cima. Para comer, no entanto, é necessário subir ao povoado, onde também se encontram muitas opções de alojamento. Praticamente cada casa de família é também um hostel. Cobram entre 8 e 10 dólares pela pernoite, com direito a jantar e café-da-manhã.

Do lado de fora do povoado, porém, há um hotel mais requintado, de estilo rústico. O Quilotoa Crater Lodge oferece um conforto adicional ao viajante. Se alguém pretender passar uns dias por lá, tanto o hotel quanto os moradores locais podem levar para um trekking ao redor da cratera do vulcão ou pelas trilhas da região. Os adeptos do montanhismo muitas vezes optam por ir até Chugchilán caminhando, em passeios que duram em média cinco horas e exigem algum preparo físico. O aluguel de cavalos também é uma boa opção de passeio. O pôr-do-sol no Quilotoa, acima das nuvens, também está entre as principais atrações do lugar. Enfim, são muitas as opções e nulas as chances de entediar-se. A não ser que venha uma frente fria interminável e nuble por um ou dois dias a vista que se pode ter da lagoa.

Mas aí é só sentar e esperar, aproveitar o artesanato local ou dar uma escapada à Tigua, povoado vizinho que ficou conhecido pelas pinturas folclóricas em couro de ovelha. Se for sábado, uma passadinha pela feira indígena de Zumbahua, uma das mais importantes do Equador, também é uma boa opção. A outra é colocar uma blusa impermeável e caminhar por aí. Porque nem só de sol vive o homem - e muito menos os Andes.

Colaboração Tadeu Breda

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