A Lição da Bela Adormecida

Existe uma simbologia nesta história que gostaria de dividir com vocês.

Fonte: Guiame, Andreia Pinheiro PereiraAtualizado: terça-feira, 20 de fevereiro de 2024 às 16:44
Cena do filme A Bela Adormecida. (Foto: Divulgação/Disney)
Cena do filme A Bela Adormecida. (Foto: Divulgação/Disney)

Muitas pessoas, mais especificamente as meninas, cresceram ouvindo a história da Bela Adormecida. Essa princesa, que ao nascer na sua primeira festa de aniversário, seus pais esqueceram-se de uma convidada. Esta, muito contrariada com a desfeita, amaldiçoou a princesa que até seu 16° aniversário espetaria seu dedo em uma agulha de fiar entrando num estado de sono profundo. Isso não significava a sua morte, apenas uma condição de apatia, de letargia diante da vida. E a única coisa capaz de despertá-la desse sono intenso seria um beijo de amor verdadeiro.

Existe uma simbologia nesta história que gostaria de dividir com vocês. Há um período na vida em que nós passamos, o qual denominei de “a fase da Bela Adormecida”. Não é uma regra, mas comecei a observar que é justamente na fase entre 16 a 25 anos. E não estou fazendo referência à doença de Kleine-Levin, mas sim denominando um período específico da vida de um indivíduo, onde ele possui consciência do “certo ou errado” do “bem e do mal”, porém parece que na maioria do tempo é como se ele estivesse num estado letárgico, de torpor diante da vida.

É bem nessa fase, onde a bela adormecida cai num sono profundo que nós podemos perceber, de modo simbólico, a correspondência com muitos de nós por essa fase de estar em determinados lugares na vida, mas não enxergando exatamente a situação real, a condição verdadeira que nos rodeia, é justamente nessa fase que muitas pessoas se envolvem em muitos problemas e tem dificuldades de determinar e decidir seu futuro porque é como se estivessem “dormindo” para a realidade da vida, dormindo para realidade dos fatos é como se uma série de decisões elas fossem sendo tomadas meio que ali no automático, com base em muitas coisas superficiais e fúteis. Até que milagrosamente o amor verdadeiro nos chama a consciência da vida a realidade dos fatos, nos devolvendo a capacidade de enxergar de modo mais claro as coisas a nossa volta.

E sim, durante alguns anos ainda temos aquela sensação de: Como eu vim parar aqui? O que aconteceu? Onde estava com a cabeça quando escolhi determinado tipo de coisa? Como pude ter uma visão tão distorcida das coisas. É bem a sensação de alguém que apesar de estar vivo passou anos dormindo sem se dar conta exatamente das coisas que estavam acontecendo bem debaixo do seu nariz.

Enquanto esposa e mãe de 4 crianças, me deparo com inúmeros desafios cotidianas em que penso em minha mãe e minha avó, refletindo onde eu estava e o que estava fazendo quando elas passavam por esses mesmos desafios de mãe e esposa que vivo hoje. Penso por que não ajudei mais na dinâmica familiar enquanto filha e neta e a resposta é a mesma: a síndrome da Bela Adormecida. Eu estava lá, mas não num estado consciente o suficiente para perceber algumas nuances da vida; era como se eu estivesse simplesmente dormindo. Eu via, mas não compreendia nada daquilo.

No entanto, o ponto fundamental de todo esse texto não é o sono letárgico e essa condição trágica que acomete muitos de nós enquanto seres humanos, mas justamente o antídoto, aquilo que nos desperta para a verdadeira vida: o amor.

Não esse amor difundido por aí atualmente, mas o amor verdadeiro que nos convida a sair de nós e enxergar a vida tal qual ela é.

Luís Vaz de Camões tem uma poesia bastante conhecida, que fala sobre o amor. Em determinado trecho a poesia diz:

Amor é fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

[...]

É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;”

Esse tom é tão familiar para esse poeta, porque ele não descreve esse amor de confetes tão amplificado nos dias atuais. Pelo contrário, ele sabe que o amor traz uma bagagem e carrega em si suas contrariedades, quando ele diz: “é um cuidar que ganha em se perder”, é como se fosse exatamente isso você perde, perde nos direitos, nas escolhas, nas oportunidades, perde na esfera do ego e do amor próprio atualmente tão propagado e distorcido, mas você ganha porque é recompensado justamente por essa força salvadora do mundo, a verdadeira consciência da vida, o amor.

Você permite se prender não por uma emoção histérica, mas pelo compromisso sincero e honesto que existe no propósito verdadeiro de uma missão.

Coincidentemente, essa mesma referência nós vemos na voz do Apóstolo Paulo quando ele nos diz:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.  (1 Coríntios 13:1).

Quer dizer, ainda que você tivesse capacidades naturais (humanas) de um erudito e sobrenaturais a ponto de ter o pleno domínio da linguagem dos anjos, e não tivesse amor, seu conhecimento soaria apenas como um ruído sem sentido.

Andreia Pinheiro Pereira é cristã, formada em Direito e Letras; Policial Civil no Estado de São Paulo; Professora de Letramento e Literatura; Colaboradora da plataforma UNOVA, com três cursos publicados: “Homeschooling – Educação Cristã”; “Os Temperamentos Humanos” e “As Principais Etapas da Alfabetização Infantil”. Mãe de três meninas e casada com o Policial Civil Leandro Paulo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Não Seja Como Eu Quero

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