“Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados.” (Mateus 24.22)
O que exatamente quer dizer “dias abreviados”?
O tempo vai passar mais rápido? Hoje em dia, muita gente diz que “nem vê a hora passar”. Será que os cristãos no mundo inteiro sentem isso? Ou será que isso tem a ver com as nossas vidas corridas e excesso de compromissos? Vamos ao contexto:
O versículo anterior diz o seguinte:
“Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá.” (Mateus 24.21)
Sabemos através da história que, naquele mesmo tempo, houve realmente uma espécie de tribulação sobre os judeus através das tropas romanas. De acordo com Flávio Josefo, com a queda de Jerusalém e a destruição do Templo, no ano 70 d.C., mais de 1 milhão de judeus foram mortos e aproximadamente 100 mil foram vendidos como escravos.
“Abreviar aqueles dias” se referia ao cerco final que durou 5 meses [de abril a setembro do ano 70]. Um tempo maior do que esse poderia significar o extermínio dos judeus durante aquela guerra.
Sabemos que a mesma profecia pode ser temporal ou imediata, e também pode ser para o futuro. É o caso dessa profecia. A Bíblia fala de uma Grande Tribulação que acontecerá no final dos tempos também. Logo, concluímos que “aqueles dias” também serão abreviados. Mas abreviado para quanto tempo? Veja aqui alguns textos relacionados:
“Ele [o anticristo] falará contra o Altíssimo, oprimirá os seus santos e tentará mudar os tempos e as leis. Os santos serão entregues nas mãos dele por um tempo, tempos e meio tempo.” (Daniel 7.25)
“Foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que ela pudesse voar para o lugar que lhe havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da serpente.” (Apocalipse 12.14)
O texto de Daniel fala da perseguição aos cristãos e o texto de Apocalipse fala da perseguição a Israel, que simbolicamente é representada pela mulher. Segundo alguns teólogos, esse tempo é de três anos e meio. Tempo quer dizer 1 ano, tempos 2 anos e meio tempo é meio ano ou 6 meses.
Em outros textos encontraremos 42 meses ou 1260 dias, termos que correspondem ao mesmo período.
“À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e blasfemas, e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e dois meses.” (Apocalipse 13.5)
“A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias.” (Apocalipse 12.6)
Mas não vamos nos prender aos números, estamos aqui citando eles apenas para compreender essa questão dos dias abreviados. Ficou claro que, Deus estabeleceu um limite para a duração do sofrimento e da perseguição, tanto naquela tribulação do ano 70 d.C. quanto na Grande Tribulação do fim dos tempos, que ainda virá.
Se a profecia bíblica dos “dias abreviados” não tem nada a ver com a questão do “tempo passar mais rápido”, como vamos explicar essa sensação que as pessoas sentem? Os que buscam essa resposta em qualquer lugar encontram qualquer tipo de explicação.
Por exemplo, existem alguns sites que usam como argumento estudos relacionados à “Ressonância Schumann”, de um físico alemão, que fala das frequências magnéticas da Terra. Há até quem diga que o dia agora tem apenas 16 horas. Afirmações como “o coração da Terra disparou” ou “a rotação do Planeta está acelerada” não encontra respaldo científico.
Eduardo Lutz, que é matemático e doutor em Astrofísica e Física Nuclear, considera essas ideias absurdas. Ele explica que as frequências de Schumann têm-se mostrado bastante estáveis desde que foram descobertas até o presente.
Para ele, essas fake news apenas demonstram grande ignorância tanto sobre a Ciência quanto a Bíblia. Segundo Lutz, quem escreve artigos assim não possui noções elementares de Física e nem de Geometria. Como ele disse “esses boatos são falsos e até absurdos do ponto de vista científicos”.
Por que será que tanta gente acredita em tudo o que lê?
Talvez porque as pessoas considerem mais fácil buscar as respostas fora, do que dentro delas, assim não precisam assumir a responsabilidade.
As respostas da Psicologia e neurociência são muito mais seguras. Especialistas explicam que o tempo é o mesmo para todos, mas as pessoas percebem a passagem desse tempo de forma diferenciada.
Cada um tem um ritmo de vida, uma rotina e seus problemas. Porque será que uma dor parece durar uma eternidade e uma alegria passa voando? Por outro lado, quando lembramos do passado, as memórias são mais intensas e longas quando recordamos dos bons momentos. E as memórias das tristezas e decepções costumam ser mais breves. Afinal de contas, para que sofrer de novo?
Há muitas outras respostas que nos ajudam a entender o mistério do tempo. Ele não passa mais rápido e nem mais devagar, na verdade é a gente que passa por ele. E durante essa passagem, temos que priorizar o que é importante e o que é urgente.
A cultura, os valores e as tendências sociais influenciam bastante também. Outro fator que influenciou na divisão do tempo foi a Revolução Industrial. Mais trabalho e menos lazer. Necessidade de consumir o desnecessário. Turnos de trabalho, relógio de ponto, hora extra.
Depois veio a revolução tecnológica, a internet, o mundo virtual e os smartphones. Redes sociais, excesso de informações, aplicativos cada vez mais atrativos. Games para crianças e adultos. E o nosso tempo é literalmente “roubado”.
Ninguém para para contar, mas o tempo que passamos na frente de um computador ou celular é imenso. Talvez estejamos dando importância demais às coisas que não são urgentes. Temos que cuidar para não ter o pensamento acelerado e o espírito estacionado.
Essa sensação de que os dias estão passando muito rápido tem mais a ver com o nosso contexto e estilo de vida. Infelizmente, poucos conseguem tempo para ler a Bíblia e refletir na Palavra.
Mas a boa notícia é que existem muitos artigos, reportagens e podcasts que facilitam nessa tarefa espiritual. Aproveite esse tempo de liberdade religiosa, de expressão e de imprensa.
E para concluir, vamos voltar ao nosso texto de hoje:
“Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria...”
Agora você já sabe do que se trata esse texto. Os nossos dias não estão passando mais rápido. Ainda temos 24 horas à nossa disposição. Que saibamos aproveitar cada segundo com sabedoria e gratidão a Deus.
Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o Movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico para a ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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