O que fazer quando os planos de Deus são diferentes dos seus?

Série Reflexões.

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: segunda-feira, 24 de março de 2025 às 17:52
(Foto: Pexels/vics ilustrada)
(Foto: Pexels/vics ilustrada)

“Jonas ficou profundamente descontente com isso e enfureceu-se.  Ele orou ao Senhor: Não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende. Agora, Senhor, tira a minha vida, eu imploro, porque para mim é melhor morrer do que viver”". (Jonas 4.1-3)

Você já se deparou com um projeto de Deus que parecia incompatível com seus planos e metas? Já sentiu que uma missão que chegou às suas mãos era totalmente estranha e desconfortável de ser colocada em prática?

Jonas sentiu e foi por isso que ele tentou fugir de Deus. Na verdade, o profeta entrou em crise com o próprio Criador.

“Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor”. (Jonas 1.3)

Deus direcionou o ministério de Jonas para a maior potência mundial da época, Assíria, cuja capital era Nínive. O Império era mal e sanguinário. Historicamente, sabemos que ao conquistar as nações, eles torturavam seus cidadãos, furavam seus olhos, cortavam partes de seus corpos e depois os decapitavam.

O amontoado de cadáveres mutilados na porta da cidade era como um troféu para eles e uma demonstração de força e poder. Mas Deus teve misericórdia dos terroristas assírios e, por isso, deu ordem a Jonas para que pregasse o arrependimento a eles.

Indignação e ira

A reação de Jonas não é tão atípica. O que será que faríamos em seu lugar? O profeta fugiu de Deus na tentativa de não cumprir aquela penosa missão. Mas, Deus enviou uma tempestade contra ele, além de torná-lo um problema para as pessoas próximas naquele momento de desobediência.

Resumidamente, Jonas foi parar no ventre de um grande peixe, de onde clamou a Deus. O pastor e teólogo Hernandes Dias Lopes apontou que depois de tantas provas, “Jonas se tornou um fenômeno no evangelismo mundial e que não houve um pregador, por maior que seja, até o dia de hoje, que pregou e ‘todos’ se converteram”.

Todos os ninivitas se arrependeram. Foi uma conversão em massa. Mas, o que seria motivo de alegria e surpresa, foi transformado em crise dentro de Jonas.

Para compreender a indignação de Jonas, teríamos que nos colocar em situação semelhante. Imagine Deus enviando qualquer um de nós como profeta para pregar aos terroristas do Hamas, Estado Islâmico ou Hezbollah. Sabendo dos detalhes da crueldade cometida contras suas vítimas, o que sentiríamos ao receber uma missão como essa?

A nossa natureza humana não visualiza pessoas assim se convertendo. Provavelmente, vamos pensar que eles não merecem a salvação e que devem pagar pelos pecados e crimes cometidos contra pessoas inocentes.

O que Jonas esperava após sua pregação?

Certamente, Jonas queria ver a sentença de Deus sendo cumprida.

“Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: Daqui a quarenta dias Nínive será destruída”. (Jonas 3.4)

Mas, algo diferente aconteceu:

“Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco. Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se de pano de saco e sentou-se sobre cinza. Então fez uma proclamação em Nínive: Por decreto do rei e de seus nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal, bois ou ovelhas provar coisa alguma; não comam nem bebam! Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência. Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos. Deus viu o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos. Então Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado”. (Jonas 3.5-10)

Jonas reclamou da bondade e misericórdia de Deus. O profeta ficou indignado com o “arrependimento” do Criador. Esse versículo, inclusive, já foi um tema muito discutido por vários teólogos, por conta do verbo “arrependimento”.

Vale mencionar que, nesse texto, há o conceito de “antropopatia”, ou seja, o verbo foi usado para atribuir sentimentos humanos a Deus. Então, o “arrependimento de Deus” é diferente do nosso, pois Deus não comete erros.

Outro termo que poderíamos usar para facilitar nosso entendimento seria “mudança de atitude”. O que ocorreu foi a suspensão do juízo mediante o arrependimento do povo. Logo, a profecia era condicional — Deus mudou seu comportamento porque o povo havia mudado.

Mas, Jonas não gostou, por isso, entrou em crise com Deus. E quanto a nós?Será  que, em nossos dias, como Igreja, entramos em crise com Deus por causa de sua misericórdia? Nós nos reconhecemos enquanto verdadeiros irmãos, corpo de Cristo, entre todas as denominações? Ou será que nos prendemos às comparações e apontamos algumas igrejas como seitas?

Não é incomum que alguns considerem sua “religião” como a única opção. Jonas queria que apenas os judeus fossem o povo escolhido e protegido, mas Deus sempre visou as nações. Veja o que Pedro e Paulo disseram:

“Agora percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo”. (Atos 10.34-35)

“Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”. (Gálatas 3.26-28)

Infelizmente, assim como Jonas, muitos ainda pensam que suas ideias e julgamentos são superiores aos de Deus. Principalmente no tempo em que vivemos, com tantas ideologias e brigas para fazer prevalecer a própria opinião.

Vamos finalizar com uma pergunta: Quem somos nós para julgar aqueles a quem Deus quer salvar?

“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. (João 3.16)

A palavra de Deus não mudou. Ele continua sendo misericordioso e está de braços abertos para receber os arrependidos, independente da nossa opinião.

E essa foi a reflexão de hoje. Espero ter tirado sua dúvida e também colaborado para seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!

 

Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.

*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Profecia progressiva: Todas as nações antideus serão aniquiladas

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições