Amados, a paz do Senhor. A Doutrina nos ensina sobre as três linhas da tentação. Todos nós temos fraquezas em uma delas (ou em todas). É inevitável, tal situação, pois fomos gerados sob o pecado. As tentações de Jesus (Mateus 4:1-11, Marcos 1:12-13 e Lucas 4:1-13) resumem as “tentações humanas fundamentais”:
1. Ter → Materialismo e autossuficiência.
2. Poder → Ambição e idolatria do sucesso.
3. Prazer → Satisfação superficial e busca de sinais espetaculares.
Jesus venceu não por sua divindade, mas como homem obediente (Hebreus 4:15), mostrando que a verdadeira vitória está na submissão à vontade de Deus e na fidelidade às Escrituras. Sua resposta sempre foi: "Está escrito..." (Mateus 4:4, 7, 10). Para hoje, a narrativa desafia os cristãos a discernir suas próprias tentações e a resistirem, não com força própria, mas com a Palavra de Deus e a confiança em Sua providência.
Para Agostinho, a tentação não se limita a um apelo externo e isolado ao pecado. Ela se enraíza na própria condição humana fragilizada pela Queda, manifestando-se através da concupiscência. Nas “Confissões”, essa concupiscência emerge como um desejo desordenado, uma inclinação da alma para os prazeres sensoriais, para a vaidade e para a satisfação egoísta. As memórias de sua juventude turbulenta, marcada por paixões carnais intensas e pela busca incessante por reconhecimento social, ilustram vividamente o poder dessa força interior que o arrastava para longe de Deus. A tentação se apresenta, assim, como uma voz sedutora que ecoa nos recessos da alma, prometendo felicidade e satisfação em bens efêmeros e ilusórios.
Para C. S. Lewis, enquanto “As Crônicas de Nárnia” ilustram a natureza da tentação através de narrativas alegóricas com personagens bem definidos e consequências visíveis, “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz” oferece uma análise teológica e psicológica mais direta, expondo as estratégias sutis e multifacetadas do mal na busca por desviar a humanidade de Deus.
Ambas as obras, no entanto, convergem na apresentação da tentação como uma força poderosa e insidiosa que explora as fraquezas humanas, mas que pode ser resistida com a graça divina e a vigilância constante.
Apesar de ter me alongado no tema da tentação, o usei como introdução para algo muito pior. Evidentemente, não condeno o poder como algo ruim, mas observo o ônus e o bônus de tê-lo. E a pergunta que não quer calar: “vale a pena?” A tentação do PODER (adoração a Satanás em troca dos reinos do mundo): “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mateus 4:9).
Satanás oferece a Jesus todos os reinos do mundo, desde que Ele o adore. Era uma proposta de poder rápido, sem passar pela cruz. Representa a tentação do poder político, fama ou domínio fácil, corrompendo os meios para alcançar fins supostamente nobres. Jesus responde citando Deuteronômio 6:13: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás”. Rejeita qualquer atalho que desvie o homem de sua vocação primordial: adorar a Deus. Reflexão: “Quantos sacrificam princípios éticos ou espirituais em busca de sucesso ou influência?”
Mas os poderosos nunca vão nos contar “a maldição do poder” — aos desavisados, isso é uma metáfora — viver cercado de bajuladores. Em síntese, um bajulador é alguém que elogia de forma exagerada e insincera outra pessoa, geralmente com o objetivo de obter algum favor, vantagem ou aprovação. A bajulação se distingue do elogio genuíno pela sua motivação interesseira e pela falta de sinceridade.
A grande maioria dos poderosos até apreciam sem cercados de bajuladores, aliás, quem gosta de estar perto de pessoas que trazem notícias ruins ou nos confronta? Sobre tudo que essas críticas conflitam com a nossa perspectiva? O ego humano ama ser massageado. Ainda que a tragédia seja certa, melhor a ilusão do “vai ficar tudo bem”. Algo como: “entre mortos e feridos, salvaram-se todos”. E “a gente vai empurrando com a barriga” (esse é o preferido da minha vó).
Fazer críticas ao poder secular é quase que chover no molhado. O problema é quando esse “mundanismo” afeta o coração das lideranças “que o Senhor supostamente levantou”. Sim, supostamente, pois ao crivo bíblico, o Espírito certamente rejeita muitos desses nomes. Por uma questão óbvia: “nem são crentes!” Mas o povo ama ser governado por Saul, egocêntrico, interesseiro e autossuficiente. Um rei levantado porque o povo de Deus queria ser governado como as outras nações (1 Samuel 8). A receita da desgraça: o povo de Deus quer ser como os outros povos. A igreja evangélica embriagada pelo poder a semelhança da igreja católica. E quem menos tem “poder”, acumula outros mais.
E os conselheiros do rei, como se comportavam diante da rejeição de Deus e também pelo povo. Sim, o mesmo povo que coloca o rei no trono, o rejeita. O “tiro sai pela culatra”. Um povo que era governado pelo próprio Senhor, guiado pelos conselhos do sacerdote, quis uma corte humana igual a dos outros. O povo de Deus, esqueceu que é separado! Parece até que ouço o grito da minha mãe: “você não é todo mundo!”
Toda corte tem um bobo, mas pior é quando o rei é o próprio bobo. O reino desaba, ele ri, comemora números fictícios. O esvaziamento é visível, mas prefere citar na tribuna os números de “crescimento”. Uma psicose coletiva: a voz do rei não é vazia, é endossada pelos seus bajuladores. Homens que deviam cumprir o papel de trazer a verdade aos olhos do rei, endossam a mentira, comemoram fantasias, dão graças pelo que não existe.
Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) é professor, possui Licenciatura em Letras Português-Inglês (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). Pós-graduado em Docência em Letras e Práticas Pedagógicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente é colunista do Portal Guia-me, professor de Língua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino Médio e de Língua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Português Instrumental do IE São Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Propósito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Propósito (IETEB, 2025). Além de possuir mais de 20 anos de experiência na ministração da Palavra. É membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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