Pastor auxiliar da Assembleia de Deus Ministério Cidade Santa no RJ. Bacharel pela Fateos. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática pela Fateos. Professor de Teologia, escritor e consultor teológico. Autor de “Panorama da T
Jimmy Swaggart é um dos nomes mais conhecidos e influentes do evangelismo pentecostal do século XX. Com um ministério que combinou pregação ardente, música comovente e alcance midiático internacional, Swaggart influenciou milhões de pessoas ao redor do mundo. Sua trajetória, no entanto, é marcada por altos e baixos, triunfos espirituais e profundas crises morais. Neste artigo, propomos uma análise abrangente de seu legado, refletindo sobre a complexidade de sua caminhada e a permanência de sua voz no cenário evangélico global.
1. As origens: fé e música no sul dos Estados Unidos
Nascido em 15 de março de 1935, em Ferriday, Louisiana (EUA), Jimmy Lee Swaggart cresceu em um lar profundamente envolvido com a fé cristã pentecostal. Seu ambiente familiar o conectava com figuras musicais seculares, como seus primos Jerry Lee Lewis e Mickey Gilley, mas ele escolheu consagrar sua música ao evangelho. Desde jovem, mostrou talento ao piano e paixão pela pregação.
Nos anos 1950, casou-se com Frances Anderson, com quem compartilhou não só a vida, mas também o ministério. Em tempos de dificuldades financeiras, o casal viajava com seu filho Donnie, evangelizando em tendas, ruas e igrejas pequenas pelo sul dos EUA.
2. A construção de um ministério internacional
Durante os anos 1970 e 1980, Swaggart construiu um dos maiores ministérios evangélicos do mundo. Suas cruzadas evangelísticas, realizadas em estádios e auditórios, eram transmitidas por mais de 3 mil estações de rádio e televisão em 104 países. Sua mensagem pentecostal, centrada na cruz de Cristo, na conversão pessoal e no poder do Espírito Santo, tocava profundamente os corações.
Além da pregação, a música era parte inseparável de sua identidade. Ao piano, interpretava hinos como There Is a River, Jesus, Use Me e I’ve Never Been This Homesick Before, tornando-se referência na música gospel internacional. Fundou o Jimmy Swaggart Bible College (atualmente JSBC) e a Family Worship Center, em Baton Rouge, que se tornou o centro de seu ministério.
3. A crise pública, a disciplina e as feridas da exposição
Em 1988, a imagem de Swaggart sofreu um abalo profundo quando veio à tona seu envolvimento com prostitutas. Sua confissão pública, transmitida pela televisão, com a icônica frase “I have sinned against You, my Lord” (“Pequei contra Ti, meu Senhor”), ficou marcada na história da mídia cristã. O escândalo foi devastador: sua credibilidade foi questionada, a audiência despencou e várias estações interromperam suas transmissões.
Como membro da Assemblies of God (Assembleias de Deus dos Estados Unidos), Swaggart foi submetido a um processo de disciplina e afastamento ministerial. Inicialmente, foi convidado a passar por um período de restauração e acompanhamento pastoral. No entanto, ao retornar ao púlpito antes do tempo proposto, acabou sendo oficialmente desligado da denominação. Esse episódio representou uma das mais significativas rupturas internas no pentecostalismo norte-americano da época.
Em 1991, um segundo escândalo envolvendo comportamento semelhante agravou ainda mais sua situação, consolidando seu afastamento das Assembleias de Deus e do grande circuito evangélico institucional nos EUA.
4. A reconstrução do ministério e a continuidade da missão
Apesar das quedas, Swaggart não deixou de pregar. Com perseverança e apoio da família, lançou a SonLife Broadcasting Network (SBN), uma rede própria que transmite cultos, estudos bíblicos e programas cristãos para diversos países. Seu filho Donnie Swaggart e seu neto Gabriel Swaggart passaram a ocupar papel de liderança na igreja e na TV, tornando o ministério uma missão familiar.
Além disso, Swaggart publicou diversos materiais, incluindo sua famosa The Expositor’s Study Bible, conhecida por suas notas doutrinárias de linha pentecostal tradicional. Essa obra consolidou seu papel como formador de pastores e obreiros, especialmente entre igrejas pentecostais conservadoras.
5. A música como ponte evangelística
Swaggart talvez seja o pregador que mais usou a música como ferramenta evangelística em sua geração. Sua habilidade ao piano, o estilo emocional de suas canções e a profundidade teológica de suas letras o tornaram um símbolo da música gospel clássica. Mesmo após seus escândalos, suas músicas continuaram sendo cantadas ao redor do mundo, especialmente em igrejas pentecostais da América Latina, África e Europa.
Canções como Jesus, Just the Mention of Your Name, Let Your Living Water Flow e He Was Nailed to the Cross for Me são entoadas com reverência até hoje. Swaggart demonstrou que o louvor pode preparar o coração para a Palavra e comunicar verdades espirituais com simplicidade e poder.
6. O legado de um evangelista pentecostal
O legado de Jimmy Swaggart é ao mesmo tempo inspirador e desafiador. Como evangelista, ele ampliou os horizontes do pentecostalismo, introduzindo a televisão como ferramenta de avivamento e renovação espiritual. Como músico, elevou o nível da música cristã, sem recorrer ao entretenimento, mantendo o foco no evangelho.
Como homem público, viveu o peso da responsabilidade e os perigos da exposição. Suas quedas revelam a necessidade de vigilância constante no ministério, mas também apontam para a graça restauradora de Deus, capaz de reerguer até mesmo os que caem em meio ao caminho.
Swaggart permanece como um símbolo da tensão entre fraqueza humana e fidelidade divina. Seu ministério atual, mesmo mais discreto, segue frutificando. Milhares ainda são tocados por sua voz trêmula, seu piano sincero e sua pregação apaixonada.
Jimmy Swaggart é parte inegável da história do pentecostalismo moderno. Sua vida demonstra que o Evangelho que pregamos é maior do que os pregadores, e que o chamado de Deus pode resistir às quedas mais profundas quando há arrependimento e perseverança. Entre canções e lágrimas, entre multidões e solidão, entre vitórias e escândalos, Swaggart construiu um legado que ainda inspira pregadores, músicos e missionários ao redor do mundo: pregar a cruz, cantar com a alma e nunca desistir da graça.
Ediudson Fontes (@ediudsonfontes) é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência da Religião. Cursando Mestrado em Teologia Sistemática Pastoral na PUC-RJ. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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