A Reforma Protestante trouxe várias contribuições que aconteceram naquela época e que ainda se refletem em nossos dias. Neste segundo artigo da série Reforma Protestante, vamos tratar das contribuições da Reforma na área política.
Naquele contexto, a Igreja Católica Romana dominava os países católicos, sem esses terem a liberdade de se posicionarem contra o sistema romano. Por essa razão, vários reis, nobres e autoridade em geral estavam interessados em romper com poder católico. E foi a Reforma que trouxe essa possibilidade de rompimento com o poder Papal.
Lutero entendia que atuação política do Estado deveria funcionar no modelo que chamamos hoje de “Estado laico”. Nessa questão, Lutero tinha discordância com o João Calvino. Acerca do cristão em cargos públicos, Lutero destaca:
“Agora continua perguntando se também os oficiais da justiça, carrascos, juízes e advogados e os que são dessas áreas podem ser cristãos e estar em estado de graça. Resposta: Se a autoridade e a espada são serviços de Deus, como mostrado acima, deve ser serviço de Deus também tudo quanto é necessário à autoridade para que possa usar a espada. Pois é necessária que haja alguém que prenda os maus, os acuse, degole e mate, e projeta os bons, os inocentes, defenda e salve. Portanto, se não o fazem para seus próprios fins, mas somente ajudam a executar o direito e a autoridade, para que os maus sejam coercidos, não correm perigo e podem exercer o cargo como qualquer outra pessoa exerce um ofício para ganhar o pão. Pois, como já foi dito, o amor ao próximo não olha para seus próprios interesses, também não avalia se a obra é grande ou pequena, mas apenas pergunta pela utilidade e necessário que tem para o próximo ou para a comunidade” (LUTERO, 1996, p.96).
Na visão de Lutero no seu contexto alemão, cristãos que não exercem cargos públicos, que não contribuíssem de uma forma benéfica para o povo (principalmente os necessitados), não estariam sendo verdadeiros cristãos. Samuel Valério afirma que “Lutero entendia que os cristãos de sua época precisavam ser cidadãos com relevância social” (VALÉRIO, 2017, p.19).
Lutero fortemente combateu o abuso de poder do Catolicismo Romano, e com apoio político que obteve, isso exerceu forte influência no monge agostiniano para continuar a propagar as suas doutrinas e exercer oposição ao Papa Leão X. O Tratado de Martinho Lutero sobre Liberdade Cristã, destaca que “a liberdade cristã é proveniente de Deus, é presente dele, e não é conseguida através de ativismo que busca autorrealização religiosa” (LUTERO, 1989, p. 436).
Na perspectiva de Lutero, o cristão é um ser humano capacitado a ter sua independência e, por esse motivo, não necessitava depender do clero romano. A Reforma trouxe uma nova expectativa do cristão a política. Lutero entende que a responsabilidade política e social, e a comunhão com Deus, poderia proporcionar uma qualidade de vida para todos. Lutero não era exclusivista no aspecto.
No cenário brasileiro, a política tem sido um assunto polarizado. Infelizmente, na histórica da política, as tristes narrativas trazem um pessimismo que parece que não há solução. Mas como cristão, creio que mudanças podem ocorrer nas pessoas por intermédio de Jesus Cristo, porque Ele é único Senhor e Salvador. Mas, como protestante, acredito que o legado da Reforma Protestante, pode proporcionar aos cristãos uma forma melhor de entendermos a importância da política e servir ao próximo, sem preconceito. E, em tudo isso, Deus é glorificado!
Referências bibliográficas:
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas – Ética: Fundamentos: Fundamentação da Ética Política Governo, Guerra dos Camponeses Guerra contra os turcos e Paz Social. Volume 6, São Leopoldo: Porto Alegre: Editora Sinodal; Concórdia Editora, 1996.
________________. Obras Selecionadas – O Programa da Reforma Escritos de 1520. Volume 2, São Paulo: Porto Alegre: Editora Sinodal; Concórdia Editora, 1989.
VALÉRIO, Samuel Pereira. Possíveis contribuições sociais da Reforma Protestante e do Pentecostalismo Brasileiros. In: VALÉRIO, Samuel Pereira e Osiel Lourenço de Carvalho (Orgs). Reforma Protestante e Pentecostalismos no Brasil – Aproximações e Distanciamentos. São Paulo. Editora Reflexão. 2017.
Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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