John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr. Esses quatro nomes formavam a banda que definiu toda uma época, impactando e marcando gerações, The Beatles. As histórias, excentricidades e sucessos dos meninos de Liverpool inspiraram livros, atitudes, comportamentos. Mas, no rastro do furacão musical representado pelos Beatles, um Beatle ficou á margem, tendo sua história pouco conhecida.
Em 1965, trancado em sua casa em Liverpool, com o registro de gás aberto, Pete Best, baterista, tentou se matar. Depois de ver sua ex-banda, The Beatles, transformar-se num fenômeno em escala mundial, entrou num ciclo depressivo. No episódio, foi salvo pela mãe. Depois, manteve distância por vinte anos da vida artística. "My Bonnie" foi uma das primeiras músicas gravadas pelos Beatles, e era umas das que ele tocava com sua ex-banda. Até hoje, quando perguntado, ele não sabe responder qual o motivo que fez com que perdesse o lugar para Ringo Starr. O fato é que por dois anos, de 1960 a 1962, ele era o baterista desconhecido da também ainda desconhecida banda.
A vida é assim. Hoje estamos num lugar, num grupo, numa posição. Amanhã não sabemos como será, nem "se" será. Eventos que julgamos injustos acontecem aos montes, não temos o menor controle sobre eles. Pete Best segue sua vida. Retomou seu sonho e sua carreira artística. Montou uma banda, The Beats, que vive de reinterpretar as canções dos Beatles. Lógico, como uma banda cover, não tem a mesma fama e nem 1% do que foi o sucesso dos Beatles. Mas Pete Best tem uma visão muito lúcida e agradecida da sua vida. Perguntado sobre os encontros e desencontros da sua história ele deu a seguinte resposta: "Estou casado há quarenta anos, tenho duas filhas e quatro netos. Posso não ser o mais bem sucedido dos Beatles, mas sou o mais feliz".
Percebeu a associação? Notou onde ele credita a razão de sua convicta felicidade? Sua família! Seu casamento! Se não é um "tapa na cara", pelo menos é um "presta atenção". Nós crentes somos incorrigíveis divulgadores de "certo e errado", "pode e não pode", enquanto os rebanhos dos quais participamos estão recheados de casamentos de fachada, instáveis separações, ajuntamentos, ficamentos, traições. No entanto, apesar do quadro moralmente caótico, o discurso legalista segue duro como aço, resistente como ferro, frio como gelo.
Temos um modelo de vida a seguir? Temos. Devemos baratear este modelo por causa do número cada vez maior de fracassos nas igrejas? Não. E então, o que fazer? Não tenho soluções prontas ou fáceis. O que tenho são os indicadores da vida que inspira o nosso modelo, a vida de Jesus. Amar foi sua escolha, perdoar foi sua maneira de reconstruir, orientar e encorajar uma obediência madura e espontânea foi sua pregação, insistente e paciente, mesmo quando nenhum fruto aparentemente se apresentava. Estamos carentes de um avivamento silencioso, aquele que queima o coração e se revela em atitudes e gestos de amor, longe dos microfones, palcos, púlpitos, telas, manchetes.
Por último, penso que também podemos encontrar a felicidade em meio ao nosso anonimato. Pete Best encontrou e, na primeira oportunidade, testemunhou. Nem The Beatles nem The Beats, mas é seu casamento de quarenta anos, filhas e netos que dão valor a sua felicidade. O salmo 128 fala que o homem que anda nos caminhos do Senhor é feliz. Fala também que a conseqüência desse estado de felicidade é ter felicidade em casa. Num sentido escatológico é assim que caminhamos, seguindo nos passos de Jesus para então finalmente chegarmos em nosso lar eterno, com nossa família eterna, vivendo uma felicidade eterna. Medite nisto, há milhões e milhões de anônimos no mundo, foram salvos da morte, depressão e outras tragédias, sabem que aos olhos do mundo são um fracasso, mas no interior do coração, que é onde interessa, e onde o Espírito Santo habita e Cristo os transformou, são os mais felizes, cultivando a mais feliz das esperanças: a vida eterna.
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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