Domingão do Infaustão

Para quem o domingão da Globo ficou infelizão?

Fonte: Guiame, Edmilson Ferreira MendesAtualizado: quinta-feira, 24 de junho de 2021 às 16:07
(Foto: Canva)
(Foto: Canva)

“Lembre sempre que o mais importante num bom casamento não é a felicidade e sim a estabilidade”, Gabriel García Márquez. De fato, a felicidade não acontece durante todo o tempo e sim em ciclos, em momentos, em fases, em alguns capítulos da nossa história, porque certamente houve e haverá muitos capítulos de luto, de perda, de enfermidade, de dor e de sofrimento nas histórias de todos nós. E nesses períodos, mais do que felicidade, precisaremos de estabilidade.

Faustão e Rede Globo parecia um daqueles casamentos marcados por estabilidade. Parecia. Depois de 32 anos de trabalho incessante, o casamento acabou. Nessas décadas, não me recordo uma única vez que tive paciência de assistir um programa inteiro. Nos últimos 20 anos posso dizer com certeza, não assisti nada a respeito do programa. Sempre achei chato, tedioso, sem graça, pura perda de tempo. Como já dito por muita gente, dei algumas risadas com as videocassetadas e... só.

Minha preferência neste texto não tem nenhuma importância. O fato de não assistir por não gostar do programa não elimina o fato de que o Faustão trabalhou fielmente, cumpriu seus contratos, garantiu robustas audiências, deu muito retorno financeiro através de resultados que são contados acima dos bilhões se somarmos os 32 anos no ar. Enfim, no contexto audiência-resultado-faturamento-liderança, o cara marcou as tardes de domingo de milhares de brasileiros.

A palavra “fausto”, que também é o nome do apresentador, Fausto, significa feliz. O antônimo da palavra é “infausto”, significa infeliz. O aumentativo sempre pretendeu isso, que o Domingão do Faustão fosse um domingão felizão, porém depois de 32 anos o domingão ficou infaustão, infelizão. Para quem? Não para mim, não assistia, não me fará qualquer falta. Talvez para o seu público, mas desconfio que para poucos, porque a maioria rapidinho se acostuma com as novidades. Então, para quem o domingão da Globo ficou infelizão?

Penso que para o próprio Faustão. Afinal, 32 anos não são 32 meses. Primeiro chegam as notícias de problemas com sua saúde, o que acarreta um justo afastamento. Depois que ele sairia do programa que leva seu nome no final deste ano. Então, com seis meses de antecedência ele é demitido. Nada de uma despedida especial. Fim e ponto. Não, ele não deve estar feliz.

Globo, ingratidão a gente vê por aqui. Mas não fique muito empolgado porque coloquei o nome “globo” e fiz um trocadilho com seu slogan. No lugar do nome “globo”, cabem muitos nomes: igreja, empresa, família, turma, vida. Ou seja, o que está acontecendo com o Faustão pode acontecer com todos nós.

Uma das marcas da nossa sociedade é a do utilitarismo. Enquanto você tem utilidade você tem valor. Quando sua utilidade acabar seu valor se dissolverá. Portanto não alimente expectativas quanto a reconhecimento, honras e homenagens. Histórias tristes de ótimos funcionários, alunos, maridos, esposas, profissionais que, no lugar de reconhecimento e gratidão recebem um “passe no RH”, “acabou, não te amo mais”, “seus serviços não interessam mais a nossa empresa”, têm aos montes, são histórias que chocam por suas injustiças.

Fica a lição. O domingão da vida de todos nós pode deixar de ser faustão e passar a ser infaustão de repente, sem qualquer aviso. Na sociedade atual com todas as suas decadências, somos descartáveis. Se prepare, seja realista e não sofra pelo fato de ninguém mais te aplaudir.

Na real, eu e você precisamos apenas de um reconhecimento, o de Cristo, que olha para nós e vê gente perdida, limitada, incapaz e pecadora, mas também vê em nossos corações o que ninguém mais vê, potencial para sermos quem jamais o mundo imaginou, para sermos quem nós mesmos nunca sonhamos, filhos amados dEle e habitantes do reino dEle.

Fausto perdeu seu lugar na sua agora antiga casa, pelo que parece. Ao contrário, na casa do Pai, garantiu Jesus, tem muitas moradas para tantos quantos O recebam como seu Senhor e Salvador. E o melhor, não é um lugar para apenas 32 anos, é um lugar para viver a plenitude da palavra “fausto” eternamente.

Edmilson Ferreira Mendes é escritor, pastor, teólogo, observador da vida.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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