Fogo consumidor

Uma era sinistra, antes do surgir do Filho do Homem nos céus, se desenha num horizonte muito próximo a nós.

Fonte: Guiame, Edmilson Ferreira MendesAtualizado: quinta-feira, 18 de abril de 2019 às 13:40
Vista do interior da Catedral de Notre-Dame, em Paris, após incêndio. (Foto: EPA, via ANSA)
Vista do interior da Catedral de Notre-Dame, em Paris, após incêndio. (Foto: EPA, via ANSA)

Suportou a Revolução Francesa, duas grandes guerras. Do início ao término sua construção consumiu quase 200 anos. Dos pontos turísticos de Paris é o mais visitado a cada ano, superando ícones como a Torre Eiffel, Museu do Louvre e o Arco do Triunfo. Milhões de pessoas desde o século XII têm procurado respostas para o significado da vida no interior de suas paredes. São séculos suportando desafios, ataques e surpresas da história, mas não suportou o fogo de pouco mais de 9 horas.

Em grande parte, graças a obra de Vitor Hugo, “O Corcunda de Notre Dame”, a catedral atingida pelo fogo se tornou famosa de todos nós. Por causa do personagem feio, rejeitado, solitário, esquecido, chamado Quasímodo, a catedral povoa nosso imaginário, pois todos nós de alguma forma nos identificamos com o corcunda sempre que rejeitados, sempre que expostos em nossos defeitos, imaginando-nos também esquecidos e inadequados para a felicidade que tanto sonhamos e procuramos.

Até o momento que escrevo este texto ainda não se sabe qual o motivo que provocou o incêndio, o que temos até agora são apenas palpites. Saber o quê ou quem causou o fogo não trará o que foi perdido da catedral de volta, o que fica são as impressionantes e desoladoras imagens do fogo consumindo de forma quase inacreditável uma obra de arte encravada no solo de Paris.

2019 já mostrou suas credenciais. Deixou claro que não veio para brincadeira. Enquanto a indústria do cinema se gaba do monte de super lançamentos para este ano, 2019 vai tratando de lançar uma tragédia por semana, todas com polêmicas, debates, impactos e audiências mundiais, provocando perplexidade em todo canto do planeta. O que acontecerá semana que vem? Eu não sei, Hollywood não sabe, nós não sabemos.

Séculos de resistência, arquitetura gótica admirada, patrimônio da humanidade, palco da coroação de Napoleão, durante um tempo da sua existência tornou-se altar da deusa da razão, imponente, bela, misteriosa... mas não resistiu ao fogo, incontrolável e consumidor.

Às vezes nos achamos catedrais. Vemos a nós mesmos como pessoas belas, fortes, cheias de cultura, inabaláveis, orgulhosas, incomparáveis, até o dia que... bum! O fogo nos alcança e em momentos transforma tudo que julgávamos superior em nada além de cinzas.

Em Deuteronômio 4:24, depois de enfatizar um comportamento de fidelidade ao Deus soberano e libertador do povo, o autor afirma categoricamente: “Porque o Senhor, teu Deus, é um fogo que consome, um Deus zeloso.” Ou seja, ainda que tenhamos aparentemente a imponência indestrutível de uma catedral, o fogo de Deus pode consumir todo orgulho e arrogância das nossas vidas. E rápido. E de forma incontrolável pelos recursos humanos.

Mais que catedrais, somos templos do Espírito. Portanto, habitação na qual todo tipo de soberba não cabe, pois Deus é um fogo consumidor para queimar tudo que impede nosso processo de santificação. Como sobreviver? Como, se todos nós somos miseráveis pecadores? O próprio Deus dá a solução em Lamentações 3:22, “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim”.

Insisto, o homem deste 2019 está perplexo. Tudo está ruindo. Tradições, valores, monumentos, história. Uma era sinistra, antes do surgir do Filho do Homem nos céus, se desenha num horizonte muito próximo a nós. O consolo é que esta última era de maldades inimagináveis também será cessada pelo poder do fogo consumidor.

Como suportar e sobreviver a tudo isso? Volto na obra de Vitor Hugo. Historiadores confirmam e concordam que a Catedral de Notre-Dame só se tornou mundialmente famosa por causa de seu texto. Só o tempo dirá quanto tempo levará para reconstruir e restaurar a catedral, porém, uma coisa é certa, a obra de Vitor Hugo continuará a ser lida, comentada, dramatizada, contada. Enfim, aconteça a tragédia que acontecer, queime o que queimar, caiam e levantem reis e presidentes, nada disso importa, porque “seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra do nosso Deus subsiste eternamente.” Isaías 40:8.

Vitor Hugo fala de uma catedral e alguns personagens, a bíblia fala da história do mundo, todos os seus moradores e o testemunho real de gente como a gente, inclusive fala do único Deus que suportou mais que o fogo, suportou e venceu na cruz, a fim de que você e eu possamos ser atingidos por suas misericórdias inesgotáveis que nos livrarão do último fogo, aquele que vai tornar em cinzas toda a história de pecado como a conhecemos.

Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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