Isabella e as feras

Isabella e as feras

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:26

Não nos acostumamos com a violência. Que bom. Apesar da exponencial multiplicação da violência que descaradamente desfila seus insultos diários, tripudiando em cima dos nossos medos e incertezas. Apesar do barateamento vergonhoso porque passam tantas vidas. Apesar da banalização das histórias abruptamente interrompidas por balas perdidas. Enfim, apesar dos pesares, embora massacrados por uma rotina de fatos violentos que violentam nossa compreensão, tentando fazer crer que tudo é assim mesmo, nós não nos acostumamos com esta intrusa, a maldita violência.

Violência simplesmente não faz parte do nosso DNA. Nossa porção de bondade é bela. Como era a Isabella. A maioria de nós não é da família dela, não é colega nem vizinho, mas desde que ela voou da janela daquele prédio e sua foto foi divulgada, seu olhar e seu sorriso tornaram-se uma mensagem para todos nós. Das poucas coisas que ainda temos da matriz criativa do Éden, as crianças são as mais significativas, puras e cativantes. Aí, na violência que não se explica, se é que algum tipo de violência se explica, a bela se vê nas mãos da fera.

Que fera a matou? Como tudo aconteceu? Não sabemos, apenas imaginamos. Seja como for, segue a vida, com belas e feras. E muitas feras, infelizmente, continuam soltas. O Brasil acompanha cada lance do julgamento a respeito da morte da menina Bella. É um espetáculo midiático. A imprensa está lá, dentre outros interesses menores, por causa do interesse maior da opinião pública. Tem fera pra tudo nesse mundo. Fera atrás de audiência, fera querendo se dar bem com seu desempenho profissional, fera querendo fazer justiça com as próprias mãos. Mas também têm belas em muitos lugares, distribuindo belezas ingênuas sem nem imaginar as ameaças das feras.

As belas que se arriscam são anônimas, e até que morram, de preferência de forma espetacular, nunca as conheceremos. Existem belas se arriscando ao alcance de pedófilos domésticos, de empregadas que mais parecem carrascos, de padrastos e madrastas tão maus quanto os que povoam o imaginário dos contos de fadas, enfim, existem belas se arriscando na presença de feras que parecem príncipes, mas, no fundo, não passam de feras.

A comoção causada pela pequena Isabella lembra que a vida sem beleza se empobrece, se entristece, se acaba. No âmago do nosso ser sonhamos com um mundo novo, melhor, puro, perfeito. Quando parte da beleza que ainda temos nos é violentamente tirada, um pedaço de nós é tirado. Olhe ao seu lado, isso mesmo, bem aí ao seu lado. Deus tem colocado belezas no seu caminho. Belezas que por você enfrentam qualquer tipo de fera, mas você, as vezes, prefere brincar com feras. Estou falando de gente que atende pelos seguintes nomes: pai, mãe, irmão, pastor. Gente bela no amor por você: esposa, esposo, filho. Seres belos na salvação por você: o Pai, o Filho, o Espírito.

Espera um pouco! No caso da Isabella não foi seu próprio pai que a matou? Que belo amor é esse? Bem, pelo menos eu não tenho condições de afirmar que foi o pai. Mas, se foi o pai. Atenção, repetindo, no caso de realmente ter sido o pai,  devemos no mínimo triplicar nosso cuidado com as feras, elas podem estar mais próximas do que imaginamos. No entanto, a monstruosidade de um pai em abusar, explorar e até mesmo matar um filho não anula a multidão incalculável de pais que amam seus filhos, a ponto de enfrentar todo tipo de feras por eles. O verdadeiro amor é belo na sua essência, é inexplicável e ainda existe entre nós. Não deixe para perceber e dar valor para este amor somente depois de perdê-lo. Seja sensível em meio a tanta insensibilidade, abrace e ame, abrace e ame com urgência, uma perspectiva bela caminha ao lado de todos os filhos de Deus. Note, descubra e honre a beleza que Deus tem providenciado para sua vida.

Somente um Pai entregou seu Filho à morte exclusivamente por amor. Ele o fez para livrar-nos de todas as feras que tentam aniquilar a beleza para a qual fomos criados. Ele o fez porque era, é e sempre será Deus, totalmente capaz de dar, tirar e tornar a dar a vida. Na morte do seu Filho derrotou feras, ao ressuscitá-lo tornou possível a vida bela. Bela para todo aquele que crê na pungente e bela mensagem da cruz.

A foto da Isabella não será esquecida pelos que a amam. E é muito bom que seja assim. Num mundo de tantas e terríveis feras, traz conforto perceber que a força do sorriso de uma criança continua mais poderoso que armas, violências, injustiças. O reino dos céus, nos garante o livro, pertence a elas, crianças belas, que por fim prevalecerão sobre as feras.

Paz!

Pr. Edmilson Mendes

Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: ''Adolescência Virtual'', ''Por que esta geração não acorda?'', ''Caminhos'' e ''Aliança''.

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