Muito drama pra pouco lenço

Muito drama pra pouco lenço

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:13

Pedi para um sobrinho meu, na época com uns 3 aninhos, uma mordida do seu sorvete. No momento da mordida devo ter exagerado no tamanho do pedaço que peguei, acho. Mordi, ele olhou para o tanto de sorvete que sobrou, e pronto, a praia inteira me olhou com olhar de reprovação. Meu sobrinho abriu um berreiro ensurdecedor misturado com muito choro, em meio a soluços desesperados seu protesto era claro: Ele mordeu o meu sooooorveeeteee!!!! Buáááááhhhhh!!!. Sentiu? Aumente ao máximo os decibéis, fique repetindo sem parar esta frase e você terá uma noção da vergonha que eu passei.

Muito drama, não? Não. Meu sobrinho estava coberto de razão, não se tira um pedaço do tamanho que eu tirei de uma criança de 3 anos, reconheço. No caso dele, o drama foi justo e faltou lenço! Mas li esta semana sobre um outro tipo de drama, daqueles que a princípio a gente não sabe se ri ou se chora. Saiu na Folha.com de 16.04.12.

O drama noticiado falava sobre Luan Santana, hoje com 21 anos. Bem mais que os 3 aninhos do meu sobrinho. A notícia falava sobre a seguinte declaração do jovem cantor sertanejo: Crucifiquei minha adolescência, mas tudo bem. Sua opinião se deve a obrigatória vida de celebridade, com ensaios, viagens, shows e agenda super apertada para qualquer outra coisa que não seja a carreira. Segundo a matéria, Luan faz cerca de 20 shows por mês, recebendo 500 mil reais por apresentação. É muito dinheiro, tanto, que uma de suas declarações na reportagem é: Tudo que quero eu compro.

Após terminar de ler a reportagem, fui direto para os comentários. A maioria era de crítica negativa ao que Luan classificou como sacrifício. Um dos comentários chamou minha atenção, foi dele que emprestei o título para este texto, dizia assim: Sacrificar adolescência é capinar lavoura, vender doce no sinal, é muito drama pra pouco lenço.

É, será bem difícil encontrar algum adolescente que não queira abrir mão de sua adolescência em troca de ganhar 10 milhões de reais por mês. E nenhum deles, diga-se, achará um sacrifício faturar 10 milhões por mês. Será que não mesmo? Quero ir na contra-mão das críticas que li nos comentários. Antes de mais nada, música sertaneja não é meu forte, quanto a carreira do Luan Santana não conheço nem uma música, sobre seu caráter nada sei. Portanto, não dá para duvidar dos seus sentimentos. Por outro lado, não tenho nada contra as pessoas que honestamente ganham o seu dinheiro, e creio ser este o caso do rapaz, ele canta e seus fãs consomem, é legítimo.

Tudo isso considerado, por um momento pense na ilusão do dinheiro. A própria matéria oferece um bom exemplo. Nela ele diz que compra tudo o que quer, mas ao mesmo tempo lamenta ter crucificado sua adolescência. Ou seja, toda a grana não foi capaz de garantir os anos dourados daquela fase. E não se esqueça, o tempo que passou jamais recuperamos, não há dinheiro que consiga trazê-lo de volta.

E os 10 milhões por mês? Não são melhores que as zoeiras e brincadeiras bobas da adolescência? Não sei. Nunca ganhei esse dinheiro, mas conheço histórias bem concretas. Uma delas já alcançou o status de lenda-real dos nossos dias, a trajetória meteórica e global do dono do Facebook, Mark Zuckberg. Lendo o livro ou assistindo o filme Rede Social, é fácil perceber o que ele perdeu, a garota que amava e o melhor amigo. Quanto vale o melhor amigo e o amor da nossa vida? 1 real? 10 milhões? 100 bilhões? Quanto?

Esses dias assisti uma reportagem sobre um marajá trilhardário. Porém triste. Seu filho, o príncipe herdeiro, ficou tetraplégico numa disputa de polo, na época seu esporte favorito. Seu palácio, suas inúmeras mulheres, seus carrões, seus incontáveis patrimônios, enfim, nada é capaz de devolver o sorriso. Nem ao pai, nem ao filho. Ironicamente os dois comungam a tristeza provocada pelas impossibilidades que grana nenhuma transforma em possíveis.

Mais do que o dinheiro, espero que o Luan Santana saiba o que fazer com sua vida. E que você e eu também saibamos. Que não seja apenas a adolescência, mas que a gente crucifique com Cristo toda a nossa vida, aniquilando nosso eu. Só assim experimentaremos o drama do calvário, cujo evento produz até hoje um volume incontido e incalculável de lágrimas. Este sim, um drama para o qual todo volume de lenços já produzidos é incapaz de enxugar todas as lágrimas por ele causadas.

E uma vez crucificados, com Cristo também ressuscitaremos e viveremos, enfim, a vida eterna que poder terreno algum, nem mesmo mamom, é capaz de dar.

Paz!

 

Por Edmilson Mendes

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