Por que você fez isso? Porque fulano pediu. Mas eu disse que não era seguro, você deveria ter obedecido. Eu obedeci, mas como fulano pediu, precisei fazer. Precisou? É, não tive culpa. Ah, entendi.
O parágrafo acima parece conversa de bêbado. Mas é mais comum do que se imagina. Crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos conhecem esse tipo de diálogo, muitos, inclusive, abusam do expediente. Desculpas livram de culpas e responsabilidades, pensam. É certo que não livram. Quem convive com gente que vive pedindo desculpa sabe disso. A verdade é que desculpas esfarrapadas cansam. Ter de discutir todo dia com quem não assume deveres e papéis é das tarefas mais estafantes.
Pergunte para as esposas que são mãe e pai ao mesmo tempo por imposição da necessidade, pois o marido vive no bar e não assume sua parte. Pergunte para maridos que se tornaram um caixa 24h onde esposa e filhos só querem sacar, gastando descontroladamente em shoppings, pizzas, bares, festas, cabeleireiros, academias, etc, etc e etc. Todos, sem exceção, justificam suas demandas com insistentes e manjadas desculpas.
Adão e Eva fizeram escola. Se as lições para manter um relacionamento puro com Deus são difíceis de aprender, a lição das desculpas aprendemos fácil e rápido. O pastor não prepara um bom sermão porque são muitas as visitas. O grupo de louvor não ensaia porque metade dos componentes só atrasa. Jovens não ouvem o sermão porque o pastor é fraco. 80% da igreja não participa de estudos bíblicos porque a didática deixa a desejar. O cônjuge decide se separar porque merece ser feliz. O menino e a menina decidem pelo sexo antes do casamento porque se amam e ponto. Sou assim porque meus pais não ajudam.
Pare e pense. Desculpas só adiam problemas. Desculpas intensificam a tensão dos confrontos, pois um dia o esclarecimento de mal entendidos, o face a face, chega. Então, verdades que estão aguardando para virem a tona, saltam. Desculpas formam uma geração de covardes, dissimulados e imaturos. Desculpas não favorecem diálogos construtivos, eliminando todas as possibilidades de ensinar e aprender.
Para os reis da desculpa, de tanto que a usam, a mesma vai perdendo o valor a cada dia. Usam desculpinhas a toda hora e momento, desde assuntos graves até os mais banais e, nas situações realmente necessárias simplesmente não pedem desculpas, pois o orgulho dos reis da desculpa é muito grande para pedirem desculpa! Em outras palavras, reis da desculpa usam dela, mas não se submetem a ela.
Foi só uma brincadeira. Esta foi a justificativa dada por um dos três jovens de Lindóia-SP, que amarraram um mendigo a um poste da cidade. Sobre este fato ouvi e li uma série de opiniões indignadas. Indignação justa, concordo. Mas falta refletirmos sobre as desculpas cínicas e irônicas que povoam nosso dia-a-dia, fazendo com que a palavra compromisso vá perdendo todo seu significado e valor. Despertemos, corremos o risco de descobrirmos tarde demais a seriedade das pessoas e das coisas que insistimos em tratar como só uma brincadeira. A vida cobra, e a conta chega.
Paz!
pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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