O objetivo não é descobrir o que os comentaristas ou os curiosos dizem acerca disso, mas expor apenas o que está escrito na Bíblia acerca do trono de Satanás.
Por que Jesus enviou cartas para as 7 Igrejas da Ásia?
Durante todo o livro do Apocalipse podemos constatar várias ordens para que ele seja escrito. Nesse verso, Jesus disse para João escrever a visão e enviar cartas para cada uma das 7 igrejas que estão na Ásia:
“Escreva num livro o que você vê e envie a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.” (Apocalipse 1:11)
Sabemos que naquele tempo havia muitas igrejas importantes em outras regiões como em Tessalônica, Corinto, Filipos, Roma, até mesmo em Jerusalém. Certamente todas as igrejas receberam, de alguma forma, a mensagem atemporal, pois se trata do que “o Espírito diz às igrejas” (Ap 2:7; 2:11; 2:17; 2:29; 3:6; 3:13; 3:22).
Então, por que Ele envia essas cartas diretamente para as Igrejas da Ásia? Essas igrejas estavam em um território estratégico, que ficava entre Jerusalém e Roma. Elas tinham grande influência na Ásia menor, uma região que compreende a parte noroeste do oriente Médio, mais especificamente onde hoje está a Turquia.
Isso nos ajudará a compreender o motivo de Cristo enviar essas cartas escatológicas para as igrejas daquela região. O objetivo era tanto animá-las para suportar as perseguições, quanto corrigir detalhes importantes. Cada igreja apresenta características distintas e específicas, justificando a necessidade de trabalhar os problemas e as qualidades individualmente.
O trono de Satanás
Na carta à igreja de Pérgamo, Jesus Cristo faz uma referência surpreendente:
“Conheço o lugar onde você mora, que é o lugar onde está o trono de Satanás. Sei que você conserva o meu nome e não negou a fé que tem em mim, mesmo nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, que foi morto na cidade de vocês, aí onde Satanás habita.” (Apocalipse 2:13)
Embora esteja invisível na maior parte do tempo, a Palavra de Deus demonstra que o mundo espiritual é ativo e real. Isso significa que tudo o que ocorre no mundo espiritual influencia diretamente na sociedade, em seus indivíduos e grupos sociais.
É verdade que Pérgamo era conhecida por ser um centro de paganismo, com templos dedicados a deuses como Zeus e Dionísio, mas Jesus não cita nada disso em sua carta. A cidade de Éfeso, por exemplo, também abrigava o templo à deusa Diana — conhecida como Ártemis — e idolatravam uma imagem que supostamente teria caído do céu (At 19:24-35), mas, nem por isso, foi dito que Satanás habitava ali, ou que seu trono estava naquela cidade.
O culto a esses deuses envolvia práticas imorais e idolatria, consideradas abomináveis por Deus. Essas práticas estavam invadindo a Igreja, o que os levaria à apostasia, através da “doutrina de Balaão” e dos nicolaítas (Ap 2:14,15). No entanto, o Senhor estava dando tempo para se arrepender (Ap 2:16). Ao que parece, Pérgamo tornou-se um local de forte perseguição aos cristãos e Antipas, um fiel seguidor de Jesus, foi martirizado na cidade (Ap 2:13). Até hoje o oriente médio é uma região onde o cristianismo sofre forte oposição.
É muito importante observar que Jesus se apresentou como aquele tem “a espada afiada de dois gumes” (Ap 2:12) que saía da sua boca (Ap 1:16), pois havia em Pérgamo pessoas fiéis, mas também os idólatras e imorais, aos quais, Jesus promete vir — uma referência à sua vinda — e lutar contra eles com a espada de sua boca. Isso mostra a conexão dessa mensagem e o tempo do fim, evidenciando a relação desses infiéis com os seguidores da besta, que serão mortos com essa espada (Ap 19:15,21).
A realidade de um trono
É nítido que todo reino precisa de um rei, do mesmo modo, todo rei precisa ter um trono.
Por isso a Bíblia revela que Deus é Rei (Sl 47:7), e que seu trono está nos céus (Sl 11:4; 103:19; Hb 8:1), que Ele usa para governar todos em seu reino (Hb 12:2; Ap 4:1-5; Ap 22:1-3).
Sabemos que o inimigo tenta ser semelhante a Deus em tudo (Is 14:12-13). Jesus disse que Satanás tem um reino (Mt 12:26), e o apóstolo Paulo explica que esse reino possui uma hierarquia bem organizada, composta de principados e potestades (Cl 2:15) que atuam nas regiões celestes (Ef 6:12), dominada por líderes que são príncipes poderosos, que se opõem à obra de Deus (cf. Dn 10:13,21; 12:1).
Deus é onisciente, onipotente e onipresente, mas o diabo e seus anjos (Mt 25:41; Ap 12:9) não são assim, pois embora possuam grande poder e habilidade, estão limitados tanto no conhecimento das coisas, quanto em relação ao tempo e ao espaço. Isso significa que Satanás não sabe todas as coisas em tempo real, e precisa ir pessoalmente conferir algo (Jd 1:9) ou receber informações por meio de seus súditos, além de não poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Logo, ele precisa “rodear a terra” (Jó 1:7; 2:2), se deslocando de um ponto a outro.
Dessa forma, o diabo tem necessariamente de possuir um trono (Ap 2:13), que funciona como uma sede administrativa do império das trevas (Cl 1:13), onde reúne, orienta e envia seus anjos ou demônios (Lc 11:18) para realizarem tarefas em algum local específico (Mc 5:10) ou administrarem regiões inteiras, como nos exemplos do “príncipe do reino da Pérsia” (Dn 10:13) e “o príncipe da Grécia” (Dn 10:20).
O reino da Besta
Até a vinda de Cristo, Satanás é “o príncipe da potestade do ar” e o “espírito que agora atua” (Ef 2:2) na vida dos desobedientes, e assim o mundo jaz no Maligno (1 João 5:19). O diabo exerce seu poder sobre os reinos do mundo e, assim como Deus, Satanás exige adoração para autorizar alguém a exercer autoridade em seu nome e a proposta do diabo que Jesus rejeitou (Mt 4:8,9; Lc 4:5-6), o Anticristo aceitará.
Agora imagine todo esse poder político e espiritual disponível nas mãos do Anticristo, o qual é chamado “iníquo” ou “o homem do pecado” (2Ts 2:3,8,9). Como representante oficial de Satanás, o Anticristo terá todo o domínio na política, religião e em todas as camadas da sociedade, inclusive na mídia. Dessa forma, a Besta regulamentará todas as informações publicadas em toda a mídia, aplicando severa censura, a fim de jogar a verdade por terra (Dn 8:12).
Como o Anticristo, se considerará um deus, anulará todas as formas de culto que ele não seja o alvo (Dn 11:36-39; 2Ts 2:4), representado na imagem da Besta, ao tornar o satanismo a única religião de seu reino (Ap 13:14-18).
O epicentro do reino da Besta
Um dos temas cruciais do Apocalipse é sobre o reino do Anticristo, que poderá exercer domínio sobre o mundo inteiro (Ap 13:7,8), porém, certamente o Oriente Médio será o epicentro de seu governo. Há várias profecias no Antigo Testamento que comprovam que o Anticristo governará a partir dessa região. No livro de Daniel, o Anticristo é chamado de “rei do norte”, uma referência à região que fica ao norte de Israel (Dn 11:28,40-45). A Besta é descrita com as características que apontam para o território comum entre os antigos reinos da Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma (Dn 2; Dn 7; Dn 8; Ap 13:2).
Esse trono é dado à Besta
Para sermos justos e coerentes na interpretação do Apocalipse, em primeiro lugar, precisamos priorizar o contexto dentro do livro. E no próprio Apocalipse é dito a uma dessas igrejas — a de Pérgamo — que ela estava localizada justamente na região onde o Satanás habita, por ser ali que se encontra o seu trono (Ap 2:12,13). Mais adiante é dito que o “dragão” — que é Satanás (Ap 20:2) — deu o seu trono para a Besta (Ap 13:2). É evidente que não podemos ignorar que o trono de Satanás que será entregue à Besta será o mesmo mencionado anteriormente, situado naquela região do Oriente Médio.
João viu que “o dragão deu à besta o seu poder, o seu trono e grande autoridade” (Ap 13:2), indicando assim que todo tipo de poder e autoridade exercida por Satanás nesse mundo será literalmente operado através do filho da perdição (2Ts 2:3), pois “o aparecimento do iníquo é segundo a ação de Satanás” (2Ts 2:9).
É interessante notar que Jesus enviou cartas para as 7 igrejas estrategicamente próximas do trono de Satanás, ter noção disso pode ajudar um pouco a explicar o motivo delas terem recebido atenção especial nas cartas do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Felipe Morais é servo temente ao Senhor, e atua como pastor na Igreja Batista do Reino. Pós-graduado em Teologia, é um biblicista apaixonado pelas Escrituras. Comentarista, escritor e cronologista bíblico, atua como professor no YouTube pelos canais Curso Bíblico Online e Devocional Bíblico Online.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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