Amando em meio à crise

O que faz a diferença é como enfrentarmos essa crise.

Fonte: Guiame, Fernando QueirózAtualizado: quarta-feira, 17 de julho de 2019 às 20:03
(Foto: Freestock)
(Foto: Freestock)

Na noite do nosso casamento, o pastor que realizou a parte das alianças fez uma pregação um tanto quanto inusitada. Podemos dizer que era algo que ninguém pregaria, especificamente, em um casamento. Normalmente, se prega sobre firmar a casa na rocha (I Coríntios 7; I Coríntios 13); Cristo e a Igreja, etc. No entanto, o pastor pregou algo diferente. O tema foi:

“Amando em meio à crise!”

O quê? Amando em meio à crise? Como pode alguém pregar algo assim em um casamento? Parece que o casamento já estava predestinado a dar errado!

Por mais que seja um tema inusitado para um casamento, tanto eu quanto minha esposa podemos dizer que foi algo guiado por Deus, e que Ele usou a vida do Pastor João para nos preparar. Acontece que, um dia antes do nosso casamento, meu pai havia feito uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro.  No dia do nosso casamento, acabou a energia de metade da cidade, atrasando tudo.

Mas, enfim, nos casamos! No entanto, o início de tudo não foi como planejávamos. Começamos um período tentando fazer malabarismo com tudo o que estava acontecendo em nossa vida conjugal. Eu havia mudado de emprego; Letícia saiu da cidade dela para morar na minha; meu pai estava internado em um hospital cerca de 50 minutos (sem trânsito) de onde morávamos. Era difícil imaginar que, no primeiro mês de casamento, dormiríamos separados por conta dessa rotina. Eu dormia em casa para trabalhar no dia seguinte e minha esposa dormia no mesmo lugar que minha mãe, para ajudar com tudo. Eu saía do trabalho e ia direto para onde meu pai estava internado. Dias difíceis, o emocional de todo mundo estava abalado e a única coisa que passava pela minha mente era: Por que tudo isso, agora?

Após três meses do nosso casamento, meu pai faleceu. Era muita coisa para digerir. Estávamos assimilando tudo que havia acontecido desde o nosso casamento. Pouco tempo depois, a Letícia teve seu primeiro ataque do pânico e crise de ansiedade. Foi algo que ela nunca viveu, tentei fazer com que ela não soubesse que fosse isso (não sei se isso teria sido bom), mas não teve como. A única coisa que passava pela minha mente, era que eu precisava ser super-marido e super-filho. Então guardei tudo que estava sentindo para mim e me concentrei em aliviar a dor de quem estava perto.

Provavelmente, você já deve ter percebido, mas, estávamos em meio à crise.

Eu e Letícia nos demos conta de tudo isso quando paramos para refletir sobre tudo o que estava acontecendo.  Eu dizia a ela: Se algum dia, ao voltar do trabalho, eu encontrasse uma cartinha sua dizendo que estava voltando para sua cidade anterior, eu entenderia. Ao mesmo tempo, ela compartilhou que tentava filtrar as coisas de mim, pelo fato de eu ter perdido meu pai. Descobrimos que, juntos, poderíamos nos fortalecer. Mas, ao invés disso, estávamos omitindo o sofrimento um do outro ao tentar cuidar.

De repente, I Coríntios 13 e Mateus 19:6 fez muito mais sentido do que antes.

A crise no casamento é inevitável. Ela vem, e vem com tudo. Um marido pode perder o emprego; a esposa pode perder o emprego; alguém pode querer separar; a perda de um ente querido pode vir; filhos podem se envolver com quem não deveriam; catástrofes podem acontecer. O que faz a diferença em meio a isso é como enfrentarmos essa crise. Garanto-te algo: sozinho, não é.

Amar em meio a crise é saber segurar na mão, um do outro, e seguir em frente; é ambos olharem para Deus como refúgio e fortaleza; é saber o lado ruim da outra pessoa, e, mesmo assim, continuar; é olhar para a pessoa que está ao seu lado, e ver alguém para cuidar; é não permitir algo externo interferir; é chegar em casa e deixar os problemas do trabalho para fora; é olhar para os desafios, e lembrar do tamanho do nosso Deus.

O Pastor Matt Chandler, em seu livro “Mingling of Souls” (A interação ou mistura das almas), diz o seguinte: Você não precisa fazer um voto para permanecer com alguém nos dias bons. A vontade de sair correndo não existe nessa época. A aliança é feita para os dias difíceis.

Em meio à crise, lembrem-se da aliança que fizeram; e olhem um para o outro. No nosso caso, durante toda essa crise, eu e Letícia concordamos plenamente que não trocaríamos a experiência e crescimento que tivemos por nada. Aprendemos a amar um ao outro ainda mais; aprendemos a olhar um para o outro como alguém para cuidar e ser cuidado; amadurecemos, individualmente, como pessoa; e descobrimos que Deus estava presente em todo o tempo, nós que tiramos nossos olhos dele. Segure na mão da sua cara metade e olhem para Cristo juntos.

Ame em meio à crise.

PS: Anos depois, descobrimos que Pr. João estava com peso na consciência por ter escolhido aquele tema para o casamento. Mal sabia ele...

Por Fernando Queiróz, psicólogo; líder do ministério Change (jovens de 18-25 anos) na Primeira Igreja Batista de Santo André, onde também trabalhou com adolescentes. Filho de pastor; amante da teologia e da antropologia cultural.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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