E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Romanos 8:28
A curiosidade e o questionamento são inerentes ao ser humano. Fomos criados à imagem de Deus e com capacidade de raciocínio, de pensar logicamente e de fazer profundas reflexões, embora em uma dimensão infinitamente menor. Com efeito, a pergunta mais comum que aflige os filhos dos homens desde Adão é “por quê?”.
A resposta é porque temos um instinto natural de querer saber tudo ou quase tudo, especialmente do que está ao nosso redor. Não há problema algum nisso, exceto pelo fato de que esse instinto descontrolado levará a uma grande frustração. E por quê? Porque o homem jamais saberá tudo. Na verdade, à medida que avança na idade, perceberá que sua ignorância é bem maior do que o conhecimento acumulado ao longo dos anos. Isso também é sabedoria, embora da forma mais paradoxal possível, e um dos fundamentos da filosofia.
A verdade é que para muitas das perguntas que nos fazemos jamais obteremos respostas. Deus nunca prometeu nas Escrituras responder a todos nossos questionamentos. Ele não promete satisfazer nossa curiosidade nem dar fim a nossos dilemas. Foi assim com os personagens bíblicos mais proeminentes e com tantos homens que caminharam com Deus. Não seria diferente conosco hoje.
Perguntas sem respostas
Um dos melhores exemplos é o de Jó, um modelo de homem justo e fiel a Deus. Em meio ao sofrimento extremo de sua terrível provação, ele faz um questionamento após o outro a Deus. No entanto, quando o Senhor se manifesta a Ele, faz-lhe outros questionamentos, muito mais profundos, que o levam a refletir o quão insignificante é sua vida perante o poder de Deus, a imensidão do universo e a eternidade.
Há exemplos na vida dos discípulos do Messias, mesmo após sua ressurreição, quando Ele já havia recebido todo poder e autoridade e, por conseguinte, a onisciência do Pai. Ao caminhar com Pedro na praia, após a segunda pesca milagrosa, o Senhor lhe falava do tipo de morte com que haveria de glorificar a Deus. Porém, Pedro, sem atentar para o que era seu destino, perguntou-lhe sobre o de João, ao que Jesus respondeu: “O que te importa isso? Segue-me tu!” (João 21:22).
Antes de ascender aos céus, mesmo após terem comungado com o Messias por cerca de quarenta dias, após a ressurreição, e terem recebido muito ensino e revelação, os discípulos queriam saber mais. Perguntaram-lhe se a promessa do Consolador para batizá-los marcaria a restauração do reino a Israel. A isso, Yeshua respondeu: “Não lhes cabe saber os tempos ou as épocas que o Pai estabeleceu por seu próprio poder” (Atos 1:7).
O próprio Messias ficou sem resposta quando, no momento da morte, clamou ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Ele sabia a resposta. Porém, em meio a um sofrimento excruciante, em meio às tormentas que nos devastam, é comum buscar respostas para as perguntas que nos angustiam. Exigimos uma explicação do inexplicável. É inerente à raça humana buscar compreender o incompreensível. Não foi diferente com o Filho do Homem que, em sua hora mais escura, teve de carregar sozinho o peso insuportável e o castigo do pecado do mundo.
Propósitos divinos
David de Vinatea foi militar de alta patente do exército peruano e um cristão íntegro que amava Yeshua. Odiado por sua conduta incorruptível e por seu testemunho de vida, foi vítima de uma armadilha, sendo falsamente acusado de um crime que nunca cometeu. Passou oito anos em uma prisão injusta. Em seu incrível testemunho de fé, após sua libertação, disse que se flagelava dia e noite perguntando a Deus por que permitira que tivesse sido preso; por que tinha de ser vítima de tamanha injustiça?
Ele conta que o próprio Deus colocou em seu coração que a pergunta que ele devia fazer era “para quê?” e não “por quê?”. Quando perguntamos “por quê?”, estamos sendo curiosos e, até certo ponto, orgulhosos. Sim, a curiosidade incontida também está ligada ao orgulho, como se tivéssemos de saber tudo. Quando perguntamos “para quê?”, estamos buscando o propósito daquela situação para nossa vida.
Para cada circunstância vivida, cada problema, cada sofrimento, cada perda, cada tribulação, cada angústia, cada luta existe um propósito designado por Deus para nos fazer crescer de algum modo. Quando David de Vinatea começou a perguntar a Deus “para quê?”, Ele o fez olhar para os demais presos que, ao contrário dele, eram criminosos comuns como miseráveis pecadores também amados por Deus e, portanto, potenciais alvos de evangelismo. David iniciou assim seu ministério na prisão, ganhando muitas almas para o Senhor e discipulando aqueles homens ao longo dos oito anos que esteve preso. Foram os dias mais brilhantes de sua obra no Reino de Deus.
Quando perguntamos apenas “por quê?”, reduzimo-nos a seres curiosos, podemos ficar sem respostas e nos perderemos em nosso próprio ego, podendo jamais alcançar o propósito divino para aquela situação. Quando perguntamos “para quê?”, seremos logo direcionados por Deus para cumprir nosso desígnio, pois Ele é um Deus de propósitos. E tudo o que ocorre na vida dos que o amam contribui para o cumprimento de seus divinos propósitos.
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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