“Se ele vier de repente, que não os encontre dormindo!”
Marcos 13:36
Após o sermão profético sobre o princípio das dores, Jesus emprega uma parábola para advertir seus seguidores sobre sua volta repentina, conhecida como Parábola das Dez Virgens (Mateus 25:1-13). Ao contrário da maioria de suas parábolas, quando compara o Reino de Deus a algo no tempo presente, Ele inicia esta usando o tempo verbal no futuro: “O Reino de Deus será semelhante a dez virgens...”. Trata-se de uma história em que somente veremos sua aplicação prática no futuro, quando Ele se manifestar para buscar os seus. Obviamente, as virgens apontam para sua Igreja, única e indivisível, sem denominações ou doutrinas humanas, espalhada pela face da Terra, incontaminada do mundo, o que é representado pela virgindade, símbolo maior de pureza física.
Para compreender essa parábola, é necessário conhecer um pouco sobre a cerimônia do antigo casamento dentro da tradição judaica. Na cerimônia do noivado, realizada entre poucas pessoas — basicamente os noivos e os parentes mais próximos da noiva —, o noivo bebia um cálice de vinho e o oferecia à noiva para selar a aliança entre os dois. Ele também lhe dava um presente como demonstração de seu amor e ambos assinavam o contrato de casamento, no qual constavam os direitos e deveres de cada um. Embora fosse uma cerimônia simples, era considerado um ato formal de união entre os dois, tão solene quanto o casamento em si. Entretanto, eles não poderiam conviver maritalmente até consolidar o casamento, o que normalmente se dava até um ano depois do noivado.
O noivo, então, partia para seu vilarejo ou cidade próxima, onde permanecia durante os meses seguintes preparando seu novo lar e para onde levaria sua futura esposa após o casamento. Uma de suas promessas era voltar para buscá-la, levá-la para a nova casa e constituir uma nova família. A data e a hora do casamento eram desconhecidas da noiva. Ele ocorria na volta do noivo, tão logo a casa e os preparativos para as bodas estivessem concluídos. Cabia à noiva se preparar para o casamento de todas as maneiras, deixando pronto seu vestido nupcial e estando pronta para a cerimônia à hora que fosse, tão logo o noivo regressasse a seu vilarejo para consolidar a união.
As antigas damas de honra
Havia umas moças que tinham participação especial na cerimônia do casamento. Eram as amigas da noiva, virgens que, como ela, conduziam suas lâmpadas para iluminar o caminho dos noivos. Eram as damas de honra de hoje, escoltando os noivos em seu percurso. Como a cerimônia era quase sempre à noite, suas lâmpadas tinham de estar prontas para iluminar a escuridão a céu aberto, onde o casamento era conduzido por um rabino, sob uma huppah (tenda onde ficavam os noivos e o rabino durante a cerimônia), cercada pelos parentes e convidados. Após a cerimônia, as virgens seguiam o casal, em um belo cortejo, alumiando seus passos até o novo lar, onde passariam a primeira noite de núpcias, não sem antes uma grande celebração — conhecida por hatunah ou bodas — com muita comida, bebida, música, dança e alegria, da qual participavam todos os convidados.
É nesse contexto cultural que Yeshua apresenta a Parábola das Dez Virgens. Assim como a noiva, essas moças tinham de estar com seus vestidos preparados e suas lâmpadas repletas de azeite, prontas para brilhar sua luz na escuridão, tão logo o toque do shofar anunciasse a chegada do noivo. Dentre as dez, havia cinco prudentes que guardaram azeite consigo e cinco insensatas que não o tinham guardado. Estas são pegas de surpresa pela chegada inesperada do noivo ao vilarejo. Sem azeite, não poderiam participar da cerimônia nem das bodas, uma vez que suas lâmpadas sem produzir luz seriam inúteis.
Enchendo-se do azeite
A lâmpada aponta para o testemunho pessoal de cada crente (somos sal e luz) e o azeite é um símbolo do Espírito Santo. Ela também aponta para a Palavra que ilumina nossos passos (Salmo 119:105), como ocorria com o cortejo das virgens amigas da noiva. Assim como a lâmpada sem azeite não fornece luz, a Palavra pura e simples, sem o Espírito, nada produz. “A letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Co. 3:6).
O curioso dessa parábola é que, demorando o noivo a vir, todas as virgens, prudentes e insensatas, cochilam e adormecem. Isso me faz pensar nos tempos de frieza espiritual em que vivemos, quando muitos, outrora fieis e fervorosos, abandonaram o primeiro amor e mergulharam em um sono letárgico. Ao ouvirem a voz que anuncia a chegada do Noivo Yeshua, todos despertarão, porém, somente entrarão nas Bodas do Cordeiro aqueles que preservarem consigo o azeite, a comunhão diária e contínua com o Espírito de Deus que nos permite brilhar a luz do Messias num mundo perverso.
Não é preciso muita sabedoria ou discernimento para perceber que já vivenciamos os tempos do fim. Dias de angústia e tribulação são a marca desse tempo, exatamente como nos advertiu o Senhor. Será muito difícil atravessá-los como autênticos discípulos sem que estejamos cheios do óleo do Espírito. Se deixarmos para nos encher dele por ocasião de sua chegada, ficaremos de fora das Bodas do Cordeiro. Não haverá tempo para “comprar azeite”, pois o preço é pago a cada dia na obediência e prática de sua Palavra, com renúncia ao ego, com tempo gasto em sua presença e através de uma comunhão desenvolvida cotidianamente.
Bater na porta depois de fechada e ouvi-lo dizer “não os conheço” será duro como a sepultura. Portanto, não deixe para despertar depois, mas agora; compre seu azeite hoje, pois amanhã pode ser tarde demais. O Noivo vem buscar sua Noiva e, a cada dia, Ele se aproxima um pouco mais. Sigamos o exemplo das virgens prudentes. “Em todo o tempo sejam alvas as tuas vestes e nunca falte óleo sobre a tua cabeça” (Ec. 9:8).
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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