Estamos no período de mais uma Festa de Tabernáculos e, desta vez, gostaria de abordar sobre seu profundo significado a respeito da habitação de Deus entre os homens. Esta é a última das Festas do Outono, cujo caráter profético aponta para a vinda do Messias. Tabernáculos vai um pouco mais além, pois abrange a eternidade do Reino de Deus sobre a Terra, englobando as nações, num período de perene paz e justiça.
No início da peregrinação do Sinai, Deus faz uma aliança com o povo de Israel e promete habitar no meio deles. Para isso, todos trazem uma oferta para a construção do Tabernáculo. O povo já habitava em tendas no deserto. E agora erguem uma enorme tenda para que Deus possa habitar entre eles. O livro de Êxodo termina com a inauguração desse Tabernáculo, com a nuvem de glória que a encobre durante o dia e a coluna de fogo à noite.
Habitar entre seu povo sempre foi um sonho de Deus. Isso remonta ao Éden, quando diariamente vinha ao Jardim para ter comunhão com Adão. Ele se comunicou com os patriarcas, mas foi com o legislador de Israel, Moisés, com quem teve uma proximidade sem precedentes, pois “falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo” Êxodo 33:11. Ainda assim, Ele desejava habitar no meio da congregação, daí a ordem para erguer o Tabernáculo.
Uma morada para o poderoso Deus
Davi compreendeu esse desejo e almejou trazer a arca para Jerusalém. Isso se tornou praticamente uma obsessão durante seu reinado e ele expressou esse sentimento em uma bela poesia: “Não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras
enquanto não achar lugar para o Senhor, uma morada para o poderoso Deus de Jacó” Salmos 132:4,5. Não foi fácil realizar esse feito e Davi aprendeu que a arca somente poderia ser trazida mediante as regras de Deus, não as suas.
E assim foi erguido o Tabernáculo de Davi, bem diferente do Tabernáculo de Moisés, pois consistia apenas em uma tenda no Monte Sião para abrigar a arca da aliança. A ausência de véus e de altares tornava esse tabernáculo bem mais simples, o que, por sua vez, transmitia uma maior intimidade entre o povo e Deus que habitava na nuvem que repousava sobre a arca dos querubins. Sob aquela tenda singela, Davi, muitos levitas, entre músicos e cantores, bem como as demais tribos de Israel passaram horas e dias, durante anos a fio, louvando e adorando ao Senhor ao som interminável dos instrumentos musicais. Era uma áurea indescritível, marcada pela presença majestosa de Deus.
Anos depois, por ocasião da inauguração do Templo de Salomão, ocorreu a mesma manifestação da presença de Deus na inauguração do Tabernáculo de Moisés, quando “saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor” 1 Reis 8:10,11.
No entanto, mesmo com essas manifestações sobrenaturais da presença de Deus, Ele intencionava algo mais profundo. Ele mesmo diz: “Onde está a casa que me edificareis? Onde será o lugar do meu descanso? Não fez a minha mão todas estas coisas?” (Isaías 66:1-2). E: “O Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos 7:48).
Ele “tabernaculou” entre nós
O Evangelho de João começa dizendo que o Verbo se fez carne e habitou entre nós (João 1:14). A palavra “habitou” no original grego significa “erguer uma tenda ou um tabernáculo” e equivale, no hebraico, a montar uma sukkah. Logo, uma versão mais fiel ao contexto judaico seria dizer que Yeshua montou sua sukkah entre nós, ou ainda que “tabernaculou” entre nós. Deus não se satisfez em apenas mostrar sua nuvem de glória no passado, mas manifestou a glória de seu próprio Filho para habitar entre nós. Por isso, no mesmo verso, João acrescenta: “Vimos a sua glória, a glória como do unigênito do Pai”.
Após cumprir sua obra redentora e voltar para seu Tabernáculo celestial, Yeshua cumpriu sua promessa de enviar seu Espírito Santo a todo aquele que nele crer e o receber em sua vida. Assim, Paulo afirma que por Ele, “temos acesso ao Pai por um só Espírito (...) Nele vocês também estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito” Efésios 2:18,22. A obra perfeita do Messias permitiu tornar seus filhos tabernáculos de carne e osso para morada de Deus.
Por fim, quando reinar absolutamente sobre toda a Terra em Olam Habah, a era vindoura de perfeição na eternidade, Deus estabelecerá definitivamente sua morada entre nós, realizando seu antigo sonho de habitar junto a seu povo sem nenhum impedimento e de modo definitivo e permanente. Foi isso que João contemplou na visão do novo céu e nova Terra: “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” Apocalipse 21:3.
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br
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