Nos dias 16 e 17 de setembro de 2023, celebra-se a Festa de Rosh HaShanah, o início do ano novo no calendário judaico. Rosh HaShanah, literalmente “cabeça do ano”, ocorre em 1º de Tishrei que é o primeiro mês do ano civil. O ano religioso se inicia em Nisan (Êxodo 12:2). Esta é uma festa bíblica preceituada pela Torá, nela chamada de Festa das Trombetas, e celebra o dia da criação do homem, segundo a tradição. Este é o dia de se ouvir o toque do shofar, conforme Levítico 23:24 e Números 29:1. O shofar é um instrumento milenar e possui forte conotação profética, pois representa a voz de Deus.
O mês de Tishrei concentra as três grandes Festas do Outono (Trombetas, Expiação e Tabernáculos) que, dentro da interpretação messiânica, apontam para a segunda vinda do Messias. Por isso Tishrei possui forte cunho escatológico. Não por acaso, o livro de Apocalipse está repleto de toques de shofar, o instrumento mais tocado em Rosh HaShanah. A simbologia do shofar é rica e seu toque representa, dentre vários significados, a chegada de um rei e a ressurreição dos mortos, o que foi predito nos Evangelhos pelo próprio Yeshua, ao falar de sua volta, e por Paulo em suas cartas. Rosh HaShanah marca também o início dos dez Dias de Temor que são os dias sagrados, dedicados ao arrependimento e confissão de pecados, que se estendem até o santíssimo dia de Yom Kippur (Dia da Expiação), em 10 de Tishrei.
Um tempo de arrependimento
O mês que antecede Rosh HaShanah é Elul, dedicado a muita oração, arrependimento e confissão, em que se busca retificar os caminhos diante de Deus e dos homens, especialmente contra quem algum pecado foi cometido. É importante ressaltar que, no caso de pecado contra terceiros, deve-se primeiro restituir o que se deve à pessoa afetada: um pedido de perdão seguido de compensação no caso de qualquer dano material ou moral. Somente após resolver essa pendência, a pessoa está livre para pedir perdão a Deus e ser livre. Trata-se de um princípio muito antigo e foi exatamente isso que Yeshua ensinou em Mateus 5:23-24. Suas palavras deixam claro que é necessário estar reconciliado com o próximo antes de oferecermos nossa adoração a Deus, seja ela qual for.
Durante todas as manhãs de Elul, o shofar é tocado bem cedo como um chamado ao arrependimento. É um símbolo para despertar os que dormem espiritualmente a fim de se arrependerem de seus maus caminhos e retificarem suas veredas perante Deus. Entre os vários significados da Festa das Trombetas, esse é o dia em que Deus julgará o mundo. Portanto, a mensagem de Elul é: arrependa-se antes de Rosh HaShanah para não ser condenado no juízo. Arrependimento é a condição necessária para entrar no Reino dos Ceús e foi precisamente com esta mensagem que Yeshua iniciou seu ministério em sua primeira vinda. É a mesma mensagem que continua sendo pregada hoje e se intensificará até seu retorno.
Um memorial com o shofar
A Festa das Trombetas deve ser celebrada como um memorial com o toque do shofar, conforme diz a Torá em Levítico. Este é um memorial da criação do homem, quando Deus soprou sobre si de seu Espírito e o fez tornar-se “alma vivente”. Ao soprar o shofar — instrumento feito com o chifre de carneiro e consagrado por Deus —, o homem relembra o sopro de Deus nas narinas de Adão. Ao recebê-lo, Adão não apenas ganhou a vida, mas da própria natureza divina em si, com seus devidos atributos. Por também representar a voz de Deus, o shofar aponta para toda a criação, pois ela foi feita pela Palavra de Deus. “E disse Deus...”, e assim foi.
Rosh HaShanah é o dia em que reconhecemos a soberania de Deus como Rei do Universo e Juiz de toda a humanidade. É o tempo de reconhecer que Ele continua sendo Senhor de toda sua criação, apesar do homem tantas vezes negar isso com suas atitudes. Entretanto, por mais que o faça, jamais poderá acrescentar um centímetro à sua estatura ou um dia à sua vida.
Portanto, Rosh HaShanah inicia uma chamada ao arrependimento como indivíduo e como nação. É um tempo de refletir sobre nossas ações e sobre nosso relacionamento com Deus e com o próximo para que nada fique pendente quando chegar seu juízo. Que o toque do shofar de Deus em Rosh HaShanah possa abrir nossos ouvidos e nos levar a esse despertamento, e que seu sopro possa insuflar dentro de nossos espíritos a vida contida em seu Espírito, atraindo-nos para mais perto dele nesse tempo tão especial.
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br
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