Hamas e o Espírito de Amaleque

“...então apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esqueças.” (Deuteronômio 25:17-19)

Fonte: Guiame, Getúlio CidadeAtualizado: quinta-feira, 12 de outubro de 2023 às 18:21
Hebreus e amalequitas se enfrentam no deserto. (Divulgação/Rede Record)
Hebreus e amalequitas se enfrentam no deserto. (Divulgação/Rede Record)

O ataque covarde dos terroristas do Hamas às comunidades do sul de Israel não somente pegou de surpresa todo o país em uma manhã de Shabbat e feriado nacional de Simchat HaTorah — a Alegria da Torá — em que se celebra com muitas danças, cânticos e júbilo a Palavra de Deus. Esse ataque revelou ao mundo o que o povo judeu já sabe há muitos anos que é a face mais cruel e bárbara dessa facção terrorista. Um dia que, por mandamento na Torá, devia ser de alegria transformou-se em caos, luto e angústia em todas as comunidades judaicas do mundo.

Nessa guerra, muito se tem falado sobre a crueldade dos terroristas do Hamas, homens que, desde sua tenra infância, são doutrinados a odiar os judeus simplesmente por serem judeus, independentemente de seus atos ou palavras. Pouco, porém, se tem falado sobre a origem espiritual desse ódio, o que leva a um conflito permanente, não somente em nossa geração. Esse é um fato milenar e que, acreditem, não acabará com essa guerra, ainda que se exterminem todos os terroristas do Hamas.

Indubitavelmente, os vídeos e as imagens da barbárie cometida pelo Hamas, que percorreram os quatro cantos da Terra, geram em qualquer pessoa de boa moral uma revolta incontida. Quem em sã consciência acharia normal a decapitação de bebês e a execução de crianças de colo, ou o assassinato brutal de pais dentro de seus próprios lares na frente de seus filhos e vice-versa? Sim, isso gera revolta e ira generalizada em qualquer ser humano de bem. Advirto, no entanto, para que não se caia na armadilha do ódio direcionado a pessoas por mais vis e cruéis que sejam elas.

Deus irá inevitavelmente julgar cada terrorista do Hamas que terá de pagar por seus atos, ainda que consiga escapar das Forças de Defesa de Israel ou das autoridades do país. O inimigo quer realmente que nos igualemos a si pelo ódio e, se conseguir isso, terá atingido seu intento, pois um coração dominado pelo ódio jamais poderá ser usado pelo Espírito de Deus. Se quisermos compreender esse conflito, precisamos tirar o foco do que é carne e sangue, pois, antes de tudo, essa é uma guerra espiritual.

“Lembra-te do que te fez Amaleque”

A primeira batalha na história de Israel ocorreu ainda em sua peregrinação no Sinai a caminho da Terra Prometida, quando Amaleque executou um ataque covarde aos mais fracos do povo. A peleja se deu em Refidim e foi conduzida por Josué que liderou o exército israelita. Moisés sabia que aquela batalha não poderia ser vencida apenas com espadas e lanças e, por isso, subiu ao monte com Arão e Hur para interceder a Deus. Ele compreendeu que não era uma batalha comum, mas espiritual e, sendo assim, teria que ser travada no espiritual, enquanto se desenrolava no plano físico. Aquela foi uma batalha vencida no sobrenatural, pois Israel nem mesmo tinha um exército preparado para a guerra.

Após a vitória, a ira de Deus pode ser percebida em suas palavras a Moisés: “Escreve isto para memória num livro (...) porque riscarei totalmente a memória de Amaleque de debaixo dos céus (...). O Senhor fará guerra contra Amaleque de geração em geração” (Êxodo 17:14-16). Muitos anos depois, antes de entrar na Terra Prometida, Moisés faz uma grande recapitulação das lições aprendidas durante os quarenta anos no deserto para todo o povo. Nas campinas de Moabe, com o povo ouvindo-o atentamente, ele diz:

“Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saías do Egito; como te saiu ao encontro no caminho, e feriu na tua retaguarda todos os fracos que iam atrás de ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus. Será, pois, que, quando o Senhor teu Deus te tiver dado repouso de todos os teus inimigos em redor, na terra que o Senhor teu Deus te dá por herança, para possuí-la, então apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esqueças.” (Deuteronômio 25:17-19)

A guerra permanente contra Amaleque

Amaleque era neto de Esaú, de quem descendem os povos árabes. Antes mesmo do islã existir, seus antepassados guerreavam contra Israel. Essa é uma guerra entre irmãos que se iniciou no ventre de Rebeca, quando Esaú e Jacó brigavam entre si. Amaleque é uma semente de Esaú que foi amaldiçoada por Deus por causa da covardia e crueldade contra seu irmão Israel (Jacó) quando subia do Egito com milhares de mulheres, crianças e idosos, um povo nômade, sem lar fixo onde repousar e fatigado de peregrinar pelo deserto. Os amalequitas atacaram exatamente essa parcela mais fraca e vulnerável, o que despertou a ira do Senhor.

A semente amaldiçoada de Amaleque se levantou de geração a geração para destruir Israel, conforme profetizado, após o povo ter se assentado na Terra Prometida. Isso ocorreu no tempo dos Juízes, nos reinados de Saul e Davi, e durante o império persa na figura repugnante de Hamã, um dos piores descendentes de Amaleque. Seria inviável expor cada um desses confrontos nessas poucas linhas. Todavia, o ódio de Amaleque esteve presente não apenas nas páginas da Bíblia, mas emergiu ao longo da História. Em todos os capítulos dessa guerra, os amalequitas foram neutralizados ou destruídos e Israel preservado.

Por outro lado, a despeito das vitórias e livramentos de Israel, esse ódio nunca cessou, pois, ainda que morram os amalequitas em uma geração, o espírito de Amaleque permanece e é contra ele que o Senhor promete guerrear. Os maiores inimigos de Israel na atualidade são dominados por esse mesmo espírito e descendem da semente natural de Amaleque. Isso explica o ódio inexplicável do Hamas contra Israel. Isso explica as cenas de horrores que acompanhamos nos vilarejos do sul, próximo a Gaza, após a invasão dos terroristas.

O que o Hamas fez contra os judeus no Shabbat de Simchat HaTorah foi exatamente o que seus antepassados fizeram há milênios contra o povo indefeso que atravessava o Sinai. Foi o mesmo ataque sórdido e covarde ao pegar de surpresa os judeus em suas casas, ainda bem cedo, dormindo numa manhã de Shabbat. Os terroristas do Hamas são os amalequitas de hoje que feriram e mataram “na tua retaguarda” (sul do país) “todos os fracos que iam atrás de ti” (bebês indefesos, crianças, mulheres e idosos, muitos deles doentes e deficientes físicos); que violentaram mulheres e levaram muitos cativos para seu território; e que “não temeram a Deus”.

Foi esse mesmo nível de crueldade e covardia que suscitou a ira de Deus contra Amaleque no Sinai. Essa é uma guerra permanente e espiritual. Enquanto Josué pegava em armas no domínio físico, Moisés combatia com outras armas mais poderosas, em um nível mais elevado, no domínio espiritual. Enquanto as Forças de Defesa de Israel combatem seus inimigos no físico, como instrumento natural de Deus para derrotá-los, todos os que amam Israel e o Deus de Israel precisam combater como Moisés, pois essa é uma guerra espiritual. E é contra esse espírito maligno que o Senhor prometeu fazer guerra “de geração a geração” até “riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo dos céus”.

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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