O mundo inteiro acompanhou os últimos dias do mais recente conflito entre Israel e Hamas. Como ocorreu em todos os conflitos anteriores, o grupo terrorista inicia as agressões e recebe pronta reação das Forças de Defesa de Israel (FDI). Embora uma trégua tenha sido estabelecida entre os dois lados, o próximo confronto é certo como o nascer do sol. Nesse ínterim, gostaria de fazer uma abordagem não exatamente sobre esse último conflito, mas sobre o conflito mais amplo e permanente entre Israel e Hamas sob uma perspectiva bíblica.
Por outro lado, de modo algum seria pretensioso de tentar esgotar um assunto tão complexo como esse em apenas um artigo. Há muito para expor e discutir por parte da história dos povos do Oriente Médio, da geopolítica regional que orienta a atuação das ações políticas, da diplomacia e do poder militar e, que por sua vez, afeta não somente a região, mas o mundo todo. A famigerada expressão de que o Oriente Médio é um barril de pólvora é completa verdade. Uma fagulha acesa lá pode acarretar uma forte explosão cujos efeitos serão sentidos ao redor do globo. Se acrescentarmos a isso o que dizem as Escrituras, o assunto é praticamente inesgotável. Portanto, até um livro para tratar desse assunto seria pouco.
Antes de tudo, é preciso expressar nossa solidariedade às vítimas e suas famílias dos dois lados. Logicamente, ninguém pode ser totalmente vitorioso em uma guerra, especialmente quando se fala de perdas humanas. Duque de Wellington, o homem que derrotou Napoleão na Batalha de Waterloo, após vencê-la e fazer o balanço de soldados companheiros seus que tombaram, escreveu que nada podia ser mais melancólico que uma guerra vencida, exceto uma guerra perdida. Esta afirmação fala por si só. Uma vida humana é uma perda irreparável para cada família enlutada e para seus amigos.
Embora a cultura de um grupo terrorista como o Hamas seja a da morte, da qual se orgulham e se vangloriam abertamente, o povo palestino de Gaza não é composto apenas por terroristas que, na verdade, é uma minoria. A maioria acaba sendo vítima dessa minoria. As atitudes covardes, como é usual em qualquer grupo terrorista, de usar civis como escudo humano é uma das maiores causas de baixas de civis palestinos.
A fim de evitar que sejam alvejados pelas FDI, o Hamas usa locais como escolas e hospitais, por exemplo, para estocar munição e armamento, sabendo que as FDI não destruirão essas instalações sem tomar as precauções para evitar atingir civis. Tais atrasos acabam dando a vantagem ao Hamas de ganhar tempo para se reorganizar e assumir a iniciativa das ações.
Nesse último confronto, praticamente nada se falou na mídia que cerca de 20% dos foguetes disparados do Hamas acabaram caindo dentro da própria Faixa de Gaza, matando os próprios palestinos.[1] Outro dado muito pouco conhecido no Ocidente é que existe uma igreja em Gaza. E não me refiro a quatro paredes, mas a palestinos cristãos que servem a Deus naquele lugar. É parcela da igreja sofredora que sobrevive em várias partes do mundo, especialmente nos países muçulmanos e comunistas, debaixo de intensa perseguição. Embora sofrendo nas mãos dos terroristas, essa pequena igreja continua viva, ainda que vulnerável.
Um conflito espiritual
Outro ponto que precisamos compreender, ao abordar esse conflito, é que se trata de uma guerra espiritual; jamais será pacificado pelas resoluções tendenciosas e partidárias da Organização das Nações Unidas (ONU) que insiste em tratar Israel como um país usurpador que “ocupa” um território palestino. Quando se tem do outro lado um grupo terrorista que se recusa a aceitar a simples existência do Estado de Israel, fica realmente impossível delinear qualquer plano de paz. O problema, no entanto, vai bem além disso.
Por exemplo, o termo Palestina já explica muita coisa. Sua origem está no século II d.C e é creditada ao imperador Adriano, logo após suprimir a revolta de Bar Kokhba que dizimou os judeus. Sua intenção foi desvincular qualquer traço de identidade judaica da terra de Israel. A referência do nome Palestina foi uma escolha sob medida e provém do povo filisteu, antigo inimigo de Israel e que não existia mais no início da Era Cristã. O termo filisteu originou, então, o termo palestino que é usado até hoje.[2]
A história de que um povo de origem árabe habitava a terra de Israel antes dos judeus e era conhecido exclusivamente por palestinos é pura narrativa. Após a criação do termo Palestina que visava obliterar o nome de Israel, havia judeus palestinos, cristãos palestinos e também árabes palestinos que habitavam a terra. Ou seja, todos os que viviam no território de Israel eram chamados de palestinos e não por causa de alguma etnia específica. Tudo devido a um capricho do imperador Adriano.
A questão palestina também não está relacionada a falta de espaço geográfico para os árabes palestinos. Basta analisar a região do Oriente Médio no entorno de Israel. São dezenove países árabes, considerando o tradicional Magreb (países islâmicos do norte da África) contra apenas um estado judeu, o que constitui uma desproporção geográfica gigantesca. Por ocasião da formação do Estado de Israel, os então árabes palestinos foram impedidos de entrar nos próprios países árabes como a Jordânia, numa clara tentativa dos governos árabes de mantê-los em território judeu para manter a pressão política sobre Israel, o que persiste até hoje.
Tampouco a questão é a cidade de Jerusalém que seria o centro de adoração dos muçulmanos. Ao contrário de Meca e Medina, mencionadas no alcorão como cidades sagradas, Jerusalém não é mencionada uma única vez no alcorão. Então, onde está o fundamento de se ter Jerusalém como local central da adoração islâmica? Por outro lado, na Bíblia judaica, o Velho Testamento dos cristãos, Jerusalém é mencionada 669 vezes, o que por si só diz tudo a respeito de sua importância para o judaísmo. Porém, não se trata de uma questão territorial ou geográfica; é uma questão espiritual.
Esaú x Jacó
Para começarmos a compreender as origens do conflito na terra de Israel, não somente por parte do Hamas, porém, por parte de outros grupos terroristas como o Hezbollah, no Líbano, precisamos voltar a quase quatro mil anos, no livro de Gênesis, ocasião em que Rebeca estava grávida de Esaú e Jacó. Já no ventre, os bebês lutavam entre si (Gênesis 25:22) e Rebeca consultou ao Senhor do porquê, ao que Ele respondeu: “Duas nações estão em seu ventre, já desde as suas entranhas dois povos se separarão; um deles será mais forte que o outro, mas o mais velho servirá ao mais novo” Gênesis 25:23.
Esaú veio a se juntar aos ismaelitas, filho de Abraão, de onde se originou o povo árabe. Jacó teve seu nome mudado para Israel. Além de descenderem da mesma raiz, Abraão, pai dos judeus e dos árabes, Esaú e Jacó são gêmeos, porém, lutam entre si desde o ventre. A Bíblia trata desse conflito na Torá e nos Profetas, e várias dessas profecias ainda estão por se cumprir. Cabe ressaltar que muitos rabinos interpretam a passagem do nascimento de Esaú e Jacó como uma referência ao fim dos dias. Portanto, se consideramos que já vivemos o tempo que a Bíblia se refere como “fim dos dias”, a luta entre Esaú e Jacó ganha extrema relevância profética.
Em Ezequiel 35, por exemplo, o Senhor pronuncia juízo específico sobre Edom e o monte Seir. Ele está falando diretamente a Esaú e seus descendentes (árabes), pois “Esaú, que é Edom, fixou-se nos montes de Seir” Gênesis 36:8. A causa do juízo está bem clara: “Visto que você guardou uma velha hostilidade e entregou os israelitas à espada na hora da desgraça, na hora em que o castigo deles chegou, por isso, juro pela minha vida, palavra do Soberano Senhor, que entregarei você ao espírito sanguinário, e este o perseguirá. Uma vez que você não detestou o espírito sanguinário, o espírito sanguinário o perseguirá” Ezequiel 35:5,6.
Talvez, essa profecia explique por si só porque o islã é a religião da jihad ou “guerra santa”, a mais violenta e a que mais derrama sangue, não somente de judeus, mas de seus próprios seguidores. O espírito sanguinário tem perseguido a descendência de Esaú através dos séculos até hoje.
O juízo predito por Deus prossegue: “Juro pela minha vida, palavra do Soberano Senhor, que tratarei você de acordo com a ira e o ciúme que você mostrou em seu ódio para com eles (israelitas), e me farei conhecido entre eles quando eu julgar você” Ezequiel 35:11. O ódio de qualquer terrorista dos grupos anti-Israel é visível e incontrolável. Tal ódio jamais será vencido pelas armas das FDI, mas será julgado pelo próprio Deus.
Obadias é um profeta que trata exclusivamente da luta interminável entre Esaú e Jacó. Na visão que teve a respeito de Edom (Esaú), o Senhor diz: “Por causa da violência feita a teu irmão Jacó, cobrir-te-á a confusão, e serás exterminado para sempre” Obadias 1:10. A palavra para violência aqui é חמס (hamas). Sim, isso mesmo! É exatamente a mesma palavra que dá nome ao grupo terrorista que domina a Faixa de Gaza e prega o extermínio de Israel, o maior inimigo de Jacó. Por causa do hamas (violência) contra seu irmão Jacó (Israel), ele será “exterminado para sempre”. Isso foi profetizado há quase seis séculos antes de Cristo.
O conflito Israel x Palestina é muito mais complexo do que se imagina. Trata-se de uma luta milenar que vai além da carne e sangue, e está arraigada nas regiões celestiais; é um conflito, antes de tudo, espiritual. Assim sendo, nem carne nem sangue têm o poder de colocar um fim em si, nem as FDI com suas armas de última geração, nem a ONU por intermédio de suas resoluções inúteis que apenas inflamam o litígio. É uma batalha que deve ser travada no espírito. Deve ser conduzida em oração ao único que pode trazer paz à região mais violenta do mundo, e que certamente assim o fará em seu devido tempo: Yeshua HaMashiach ve’Sar Shalom – Jesus, o Messias e Príncipe da Paz.
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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