No dia 10 de Tishrei do calendário judaico (correspondente a 5 de outubro de 2022), celebra-se, em Israel e em toda comunidade judaica mundial, o Yom Kippur, mais conhecido como Dia do Perdão ou Dia da Expiação. Esta é uma das festas bíblicas mais relevantes do calendário religioso e, como as demais Festas do Senhor, revestida de profundo simbolismo para o cristianismo.
Durante a época do Templo, Yom Kippur era particular em diversos aspectos, o que fazia desse dia o mais sagrado de todos. O capítulo 16 de Levítico traz instruções detalhadas dos sacrifícios e ritos requeridos para esse dia, o único do ano em que o sumo sacerdote realizava sozinho todo o serviço do Templo. Não era possível ter a ajuda de nenhum outro sacerdote, sob pena de ter os sacrifícios invalidados. Era o único dia em que ele se despia de sua magnífica e preciosa vestimenta sacerdotal para usar apenas vestimentas de linho. E era também apenas nesse dia, entre todos do ano, que ele adentrava o Santo dos Santos e pronunciava o nome proibido de Deus, composto pelo tetragrama sagrado.
Dentre as várias ofertas, havia duas especiais que consistiam de dois bodes. A sorte era lançada sobre eles para se descobrir qual seria sacrificado ao Senhor e qual seria enviado para o deserto. Ambos morriam porque levavam sobre si a maldição dos pecados do povo cometidos naquele ano. O que era sacrificado — o bode expiatório — morria no altar e tinha seu sangue levado para o Santo dos Santos, expiando o pecado do sumo sacerdote, de sua família, dos sacerdotes da casa de Arão e de toda a nação de Israel. O que ia para o deserto — o bode emissário — recebia sobre si a confissão dos pecados da nação, era guiado até um precipício e de lá era lançado, morrendo igualmente como o bode expiatório para levar para longe as transgressões do povo.
Todo o serviço de Yom Kippur, os atos realizados bem como as ofertas a Deus possuem um profundo simbolismo com detalhes curiosos que apontam para Jesus, o Messias de Israel. O espaço me impede de enumerar todos aqui, mas gostaria de ressaltar os principais.
O autor de Hebreus, ao escrever para a comunidade messiânica de sua época, nos capítulos 9 e 10 de sua carta, faz uma perfeita conexão entre o serviço no Templo, em Yom Kippur, e a obra redentora do Messias. Ele é o Sumo Sacerdote que se despiu de suas vestes celestiais majestosas para tomar a forma de homem mortal, sujeito a tentações, sofrendo todas as aflições e dores no corpo e na alma. Ele também vestia uma túnica de linho quando foi levado ao local do sacrifício, o Gólgota. Ele representa o bode expiatório que derramou seu sangue pela expiação dos pecados de Israel e do mundo inteiro. Representa também o bode emissário que leva as iniquidades do povo sobre si, afastando-as para longe como o oriente está distante do ocidente (Sl. 103:12).
Na hora de render sua vida no altar de Deus, em um dos salmos messiânicos, o Filho pede que o Pai não se afaste, pois Ele está sozinho e sem ajuda (Sl. 22:11). Assim como todo o serviço de Yom Kippur tinha de ser executado apenas pelo sumo sacerdote, sem ajuda, Jesus realizou sozinho toda a obra redentora na cruz sem nenhuma ajuda humana, o que permitiu a expiação dos pecados não apenas de Israel, mas de todo o mundo. Ele era o “Sumo Sacerdote santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus” (Hb. 8:26). Portanto, ao expiar os pecados da humanidade, Ele assume o duplo papel de Sumo Sacerdote e oferta perfeita.
Assim como o sumo sacerdote adentrava o local da arca da aliança no Templo para oferecer o sangue do animal sacrificado, Jesus adentrou o Santo dos Santos do céu para comparecer perante a face de Deus e apresentar, uma única vez, seu próprio sangue em prol da expiação de nossos pecados (Hb. 9:24-28).
O Santo dos Santos terrestre, onde repousava a arca com a glória de Deus, só podia ser acessado pelo sumo sacerdote uma vez ao ano e por poucos minutos. O véu que encobria sua entrada estava sempre fechado, impedindo seu acesso a qualquer pessoa. Entretanto, ao entrar no Santo dos Santos celestial, o Messias Yeshua nos abriu caminho por outro véu, sua própria carne, e nos convida a entrar após si a fim de desfrutarmos da presença da glória de Deus. O caminho ainda está aberto e podemos acessá-lo com ousadia por intermédio de seu sangue (Hb. 10:19-23) que expia nossas iniquidades e nos justifica perante o Pai. Essa é a essência de Yom Kippur para todo cristão.
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