Paulo estava preso em Roma pela segunda vez, quando escreveu sua última carta. O presídio onde estava era a masmorra Mamertina, um lugar úmido, insalubre e sombrio. O veterano apóstolo enfrentava a acusação de ser um malfeitor (2Tm 2.9). Por essa razão, os crentes da Ásia o abandonaram (2Tm 1.15), Timóteo ficou com vergonha de suas cadeias (2Tm 1.8). Quando marcaram sua primeira defesa, ninguém foi a seu favor (2Tm 4.16). O resultado é que Paulo foi condenado à pena de morte (2Tm 4.6). Por ser cidadão romano não foi crucificado como Pedro (Jo 21.18,19; 2Pe 1.14,15), mas foi degolado.
Nessa emocionante epístola, Paulo faz um diagnóstico dos últimos dias, e diz que seriam tempos difíceis, ou seja, furiosos. Numa longa lista de pecados, vícios e mazelas, da sociedade, o apóstolo menciona três tipos de amor que estavam fora do foco, resultando no adoecimento das relações do homem com Deus, com o próprio e consigo mesmo. Vejamos:
Em primeiro lugar, os homens serão amantes de si mesmos (2Tm 3.2). A palavra grega philautoi, traduzida por “egoístas” significa literalmente “amantes de si mesmos”. O homem em vez de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, ama a si mesmo, esquece-se de Deus e despreza o próximo. Em vez de adorar a Deus e servir ao próximo, o homem vira as costas para Deus e explora o próximo. Porque seu amor está fora de foco, o homem age como se fosse o centro do universo. Sua vontade precisa prevalecer. Seus interesses precisam vir em primeiro lugar. Olha o próximo como alguém a ser explorado. Não hesita em fazer do outro um alvo de sua ganância. Busca, de todas as formas, se locupletar. Sua filosofia é: “o que é meu é meu; e o que é seu, precisa ser meu também”. O homem egoísta pensa em si e não no outro. Seu amor é ego centralizado e não outro centralizado. Esse egoísmo exacerbado é a origem de todas as mazelas da família e da sociedade.
Em segundo lugar, os homens serão amantes do dinheiro (2Tm 3.2). A palavra grega philarguroi, traduzida por “avarentos” significa literalmente “amantes da prata”. O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Quem ama o dinheiro, dele nunca se satisfaz. Quem ama o dinheiro cai em tentação e cilada e atormenta sua alma com muitos flagelos. Quem ama o dinheiro é capaz de cometer os mais bárbaros crimes para se locupletar. A violência das ruas, os sequestros e assaltos, a corrupção nas empresas, o desvio de verbas públicas, nos corredores do poder político estão diretamente ligados ao amor ao dinheiro. Nessa sociedade, cujos valores estão invertidos, ama-se o dinheiro e explora-se as pessoas. É digno de nota que o dinheiro é um bom servo, mas um péssimo patrão. O dinheiro é para ser usado e não para nos usar. O dinheiro a serviço do bem é uma bênção, mas quando é adquirido ilicitamente, é usado para a prática do mal. Que Deus nos livre da avareza, desse amor perigoso, o amor à prata.
Em terceiro lugar, os homens serão amantes dos prazeres (2Tm 3.4). A palavra grega philedonoi, traduzida por “amigo dos prazeres” significa literalmente que os homens são mais amigos dos prazeres do que de Deus. Os homens amam mais o prazer carnal do que a Deus. São hedonistas. Vivem para satisfazer seus desejos mundanos. São escravos de seus apetites. Querem beber todas as taças dos prazeres desta vida. Vivem embriagadas com suas paixões. Sorvem cada gota dos deleites efêmeros que o mundo lhes oferece. Não se importam com as coisas de Deus. Não buscam a Deus. Não amam a Deus. Seu amor está distorcido e invertido.
Dentre as outras razões elencadas pelo apóstolo Paulo, essas três retro mencionadas são um diagnóstico preciso da decadência do homem que ama mais a si do que o próximo, mais o dinheiro do que as pessoas e mais o prazer do que a Deus.
Por Hernandes Dias Lopes - pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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