O poder da língua

O laço mais comprido em que somos apanhados na jornada da vida é a nossa língua.

Fonte: Guiame, Hernandes Dias LopesAtualizado: sexta-feira, 29 de novembro de 2019 às 18:40
(Foto: Andrew Smith)
(Foto: Andrew Smith)

“… se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo” (Tg 3.3).

A língua é o nosso maior tropeço. Só  um indivíduo perfeito dominaria completamente sua língua. Uma língua domesticada é um bom timoneiro para todo o corpo. Como não somos perfeitos, tropeçamos em muitas coisas. Mas o laço mais comprido em que somos apanhados na jornada da vida, via de regra, é a nossa língua. Tiago, irmão do Senhor, no capítulo três desta epístola, apresenta o mais exaustivo, o mais completo e o mais contundente texto sobre o poder da língua.  A língua faz três coisas: dirige, destrói e deleita. Vamos examinar essas verdades:

Em primeiro lugar, a língua tem o poder de dirigir (Tg 3.1-4). Tiago compara a língua como o freio de um cavalo e como o leme de um navio. Ambas as peças são pequenas, mas o freio controla o cavalo e o leme dirige o navio. O freio domestica a força do cavalo e o leme evita que o navio se choque com as pedras ou icebergs. A língua tem o mesmo efeito em nossa vida: controla-nos e dirige-nos. Coloca nossa força sob disciplina e dá direção à nossa vida nas procelas da viagem. Um indivíduo que não controla a sua língua provoca muitos acidentes. Uma pessoa que fala irrefletidamente traz opróbrio sobre si e vergonha à sua família. Quem fala para depois pensar ou mesmo fala sem pensar causa imensos problemas para si e para quem está ao seu redor. É como um navio à deriva ou como um cavalo indócil.

Em segundo lugar, a língua tem o poder de destruir (Tg 3.5-8). Tiago agora compara a língua com o fogo e com o veneno. Tanto o fogo como o veneno são destruidores. O primeiro mata sutilmente, sem alardes. O segundo destrói com ruidoso estrondo. Uma palavra falada com malícia ou maldade pode ser uma pequena fagulha que incendeia toda uma floresta. As palavras são como flechas lançadas, elas não voltam mais. A maledicência é como lançar um saco de penas do alto de uma montanha, é impossível recolhê-las todas. A língua coloca em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno. A língua é, outrossim, peçonhenta. É mais venenosa que a picada de uma víbora. É carregada de veneno mortífero. Por isso, Tiago diz que o mesmo homem que consegue domar as aves do céu, os animais da terra e os peixes do mar, não consegue domar sua própria língua.

Em terceiro lugar, a língua tem o poder de deleitar (Tg 3.9-12). Tiago, finalmente, compara a língua a uma fonte e a um fruto. Ambas as imagens falam de algo que dá sustento e prazer. Uma fonte jorra água fresca que dessedenta e o fruto alimenta e fortalece. Tiago, porém, chama a atenção para o aspecto contraditório e paradoxal da língua. Às vezes, de uma mesma boca, saem louvores a Deus e maldição aos irmãos. Às vezes, a mesma língua fala palavras boas do próximo e ao próximo e alimenta-o com encorajamento e consolo, para em seguida, minar sua honra com impiedosa maledicência. Tiago diz que não é conveniente que isso seja assim. Da mesma maneira que de uma mesma fonte não pode sair água doce e salobra; da mesma maneira que uma árvore só pode dar fruto segundo à sua espécie, devemos nós também, regenerados pelo Espírito Santo, deixar transbordar do nosso coração apenas palavras verdadeiras, oportunas e boas para a edificação. Use sua língua para glorificar a Deus e para abençoar a seus irmãos. Que dela jorre apenas palavras abençoadoras!

Por Hernandes Dias Lopes - pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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