Atriz e ativista pró-doação de órgãos (foi casada com o ator Nothon Nascimento), é cristã. Minha amiga pessoal. 

Kely Nascimento

O grito de dor que se ouvia das senzalas, hoje se ouve das favelas.
O choro da m&atilde;e que teve seu filho tirado dos bra&ccedil;os pelos senhores brancos, continua sendo as l&aacute;grimas da m&atilde;e que teve seu filho tirado dos bra&ccedil;os, pelas balas das armas que se cruzam no palco da viol&ecirc;ncia ou pela indiferen&ccedil;a da patroa branca.
As marcas na alma enquanto eram a&ccedil;oitados no tronco eram maiores do que as feridas abertas que ficavam em seu corpo nu, impotente pra se defender de tamanha covardia e crueldade.
As marcas na alma enquanto s&atilde;o sufocados com o joelho no pesco&ccedil;o, n&atilde;o ter&atilde;o como ser curadas, porque a maldita viol&ecirc;ncia continua levando a morte.
As mulheres eram estupradas pelos mesmos homens nojentos que depois as a&ccedil;oitava. Muitas vezes na frente de seus maridos e seus filhos, que n&atilde;o podiam fazer nada.
Hoje, as mulheres s&atilde;o estupradas pelo mesmo tipo de homem nojento que tamb&eacute;m acha que tem direito de us&aacute;-la.
Trabalhavam de sol a sol, debaixo de humilha&ccedil;&atilde;o e menosprezo: &ldquo;Voc&ecirc; tem sorte de ter comida e &aacute;gua, muito animal nem isso tem.&rdquo; Hoje, as palavras t&ecirc;m o mesmo menosprezo e crueldade: &ldquo;Voc&ecirc; j&aacute; pode at&eacute; ir pra faculdade, seja grato por isso e para de ser mais um vagabundo criando confus&atilde;o.&rdquo;
Eu nunca senti na pele essa dor. Essa dor que eles sentiram, e continuam sentindo, por um &uacute;nico absurdo motivo: s&atilde;o negros.
Se n&atilde;o fosse a cor da pele n&atilde;o haveria diferen&ccedil;a alguma, afinal fisicamente debaixo da pele &eacute; tudo igual.
Esse canto de dor precisa explodir do peito e dar espa&ccedil;o para o cora&ccedil;&atilde;o entoar a melodia que vai atravessar mares e oceanos, levando a not&iacute;cia da conquista, da verdadeira liberdade.
Chega de mais textos como esse que estou lendo agora, cheio de palavras de impacto e que depois, n&atilde;o mudam nada.
Chega de olhar o jovem negro que vem de bermuda, camiseta e bon&eacute; e por medo atravessar a rua, afinal tem perfil de bandido. Como se n&atilde;o existissem bandidos de todas as cores e ra&ccedil;as.
Chega de fechar o vidro do carro quando para no sem&aacute;foro e v&ecirc; que ao lado tem um carro ou uma moto com um homem negro dirigindo.
Chega de achar que porque &eacute; negro tem que saber cantar, sambar e ser bom de cama.
Voc&ecirc; &eacute; negra e n&atilde;o sabe sambar? Negro e n&atilde;o canta? Duvido. Mas dizem que o sexo &eacute; maravilhoso, vou pagar pra conferir se &eacute; verdade.
Que evolu&ccedil;&atilde;o humana t&atilde;o enaltecida &eacute; essa e propagada aos quatro cantos da terra, mas que n&atilde;o consegue entender que somos todos iguais?
Seja a pele da cor que for, que possamos aprender como mudar nossas atitudes para que essas atrocidades acabem.
Que possamos semear o amor pra que esse &oacute;dio seja extirpado.
Que as manchetes de tantas mortes e viol&ecirc;ncia possam ser trocadas por an&uacute;ncios de um novo tempo.
Um tempo de vida e de paz.
Um tempo de viverem a conquista dos seus direitos garantidos e serem cidad&atilde;os respeitados por todos.
Vidas importam. Vidas negras importam.&nbsp; 
Que Deus nos aben&ccedil;oe.
Por Kely Nascimento, crist&atilde;, atriz, escritora, produtora de teatro e presidente do Instituto Renascimento. &Eacute; ativista para a causa doa&ccedil;&atilde;o de &oacute;rg&atilde;os no Brasil, com reconhecimento do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; de colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, seu teor &eacute; de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/kelly-nascimento/os-artistas-invisiveis-na-pandemia-do-covid-19.html">Os artistas invis&iacute;veis na pandemia do Covid-19</a>

Se não fosse a cor da pele não haveria diferença alguma, afinal fisicamente debaixo da pele é tudo igual. 

Negros

A import&acirc;ncia do isolamento nesse per&iacute;odo de pandemia &eacute; inquestion&aacute;vel. Afinal, em nenhum pa&iacute;s do mundo encontrou uma outra op&ccedil;&atilde;o para acabar com o avan&ccedil;o da contamina&ccedil;&atilde;o do Covid-19.
Muitos est&atilde;o sem trabalho, outros que continuam trabalhando, mas com acordo de sal&aacute;rio e ainda t&ecirc;m aqueles sem nenhuma perspectiva de quando poder&atilde;o retomar suas atividades.
Por exemplo, os profissionais da arte.
Dif&iacute;cil pensar em arte sem plateia, sem aglomera&ccedil;&atilde;o de pessoas. S&atilde;o poucas as atividades art&iacute;sticas que proporcionam isso.
E como est&atilde;o fazendo esses profissionais? Os t&eacute;cnicos? Camareiras? E tantos outros que trabalham para realizar cultura? Toda essa equipe &ldquo;invis&iacute;vel&rdquo;, indispens&aacute;vel para que o artista possa estar no palco.
Eles n&atilde;o fazem live e a maioria deles n&atilde;o s&atilde;o artistas conhecidos, para ganharem dinheiro com a imagem.
Eles t&ecirc;m fam&iacute;lia, filhos, aluguel, todas as despesas que todos t&ecirc;m.
Exercem a primeira profiss&atilde;o que precisou parar e, provavelmente, a &uacute;ltima a ser normalizada.
Por isso, o Instituto Renascimento, que foi fundado pelo ator Northon Nascimento (in memoriam) junto comigo, come&ccedil;ou uma a&ccedil;&atilde;o para que essas pessoas passem com menos sofrimento esse momento t&atilde;o dif&iacute;cil.
A arrecada&ccedil;&atilde;o de cestas b&aacute;sicas est&aacute; sendo feita especificamente para esses profissionais.
Queremos ver a ribalta iluminar novamente, as hist&oacute;rias que nos emocionam serem contadas. Queremos levar a arte onde o povo est&aacute;. Queremos alcan&ccedil;ar a plateia com todas as muitas faces de arte.
E precisamos da sua ajuda para que esses artistas que aparentemente s&atilde;o invis&iacute;veis, mas essenciais, possam continuar.
Por isso, contamos com a ajuda de todos os que entendem as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da cultura. Voc&ecirc; pode fazer sua doa&ccedil;&atilde;o, acessando o Instituto Renascimento: renascimento.instituto@gmail.com / www.institutorenascimento.org.br / (11) 99220.2206.
Sua colabora&ccedil;&atilde;o ser&aacute; muito bem-vinda. Muito obrigada.
Que Deus te aben&ccedil;oe.
Por Kely Nascimento, crist&atilde;, atriz, escritora, produtora de teatro e presidente do Instituto Renascimento. &Eacute; ativista para a causa doa&ccedil;&atilde;o de &oacute;rg&atilde;os no Brasil, com reconhecimento do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; de colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, seu teor &eacute; de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.

Kely Nascimento

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