Escravos por amor - Parte 4

Escravos por amor - Parte 4

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:46

ESCRAVOS DE CRISTO

Vamos observar mais uma vez o texto que fala do escravo por amor:

“São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. Se entrou solteiro, sozinho sairá; se era homem casado, com ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá sozinho. Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro. Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.” (Êxodo 21.1-6)

A partir do entendimento de redenção fica mais fácil entendermos a nossa posição de servos, de escravos do Senhor. Contudo, textos como este nos ajudam a entendermos melhor estas verdades espirituais. O servo da orelha furada era conhecido na sociedade dos seus dias como alguém que era escravo por decisão própria. Onde quer que ele fosse, aquela orelha furada atrairia a atenção dos outros! No momento em que eu estou escrevendo este capítulo, eu estou na cidade de Arusha, na Tanzânia, numa base de missionários que trabalham entre o povo massai. Nas reuniões que temos feito aqui vemos muitos homens de orelha furada, fruto de um alargador que já não usam mais em suas orelhas. Eu diria que é praticamente impossível não reparar no furo que há em suas orelhas! E isto me fez pensar no servo que, por amor, furava a sua orelha numa atitude de entrega permanente. Em qualquer lugar em que ele chegasse, as pessoas saberiam imediatamente que ele era um escravo que decidiu ser escravo quando não tinha a obrigação de ser escravo. Eu acho tremendo o paralelo espiritual que encontramos nesta história!

A verdade é que, ainda que por direito de compra (pela Redenção) o Senhor seja o nosso proprietário, Ele não impõe o Seu senhorio sobre as nossas vidas. Todos fomos libertos por Cristo da escravidão (Gl 4.7), mas podemos assumir voluntariamente esta posição por amor (E de fato é isto que Deus espera de nós!). Quase todas as vezes que a palavra “escravo” (ou “servo”, seu sinônimo) aparece no Novo Testamento é a tradução da palavra grega “doulos”, que significa “escravo, servo, homem de condição servil, atendente”. Somos chamados pelas Sagradas Escrituras de “escravos de Cristo”:

“Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo.” (1 Coríntios 7.22)

Escravos de Cristo! É o que somos! Todas as vezes que os apóstolos se chamavam de “servos do Senhor” (bem como a outros) é este o conceito que eles estavam comunicando.

Vamos pensar um pouco a respeito do servo da orelha furada. Durante seis anos ele serviu a seu senhor, sabendo que no sétimo ano estaria livre. Eu fico pensando que eu, nas mesmas condições, já estaria contando os dias para celebrar a minha liberdade com uma grande festa! É o tipo de pensamento mais natural que podemos ter. O que é incomum é a ideia de desejarmos ser escravos sem que isto seja obrigado. Que conceito é este, abordado por Deus, de nos tornarmos escravos por amor?

Eu creio que isto é uma projeção simbólica do nosso relacionamento com Deus. A Palavra de Deus declara: “Tudo quanto foi escrito, para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4). O Senhor Jesus conquistou o direito legal de ser o nosso Dono, Amo e Senhor. Contudo, Ele prefere não usar deste direito como um conquistador de nossas vidas. Cristo prefere que, quando a liberdade nos é oferecida, nós escolhamos servi-Lo. O servo da orelha furada não permaneceria com o seu senhor por obrigação, e sim por amor, pois, diferentemente de Satanás, que oprime os seus escravos, Deus ama e respeita profundamente os que O servem!

A única razão para alguém permanecer escravo depois dos seis anos de servidão seria fazer isto por amor. O texto bíblico diz: “Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro.” Note que ainda que o fato de ele ter família (mulher e filhos, que não poderiam acompanhar o servo ao ser liberto) seja mencionado, a expressão “eu amo meu senhor” é o que vinha em primeiro lugar. A decisão partia de um sentimento que, acima de tudo, envolvia o senhor daquele servo.

Se aquele senhor oprimisse duramente ao seu escravo naqueles seis anos, é lógico que ele não desejaria continuar a seu serviço quando chegasse o tempo da sua liberdade. Mas vemos na Bíblia que alguns senhores tratavam os seus servos com muito respeito e dignidade. Veja, por exemplo, o caso de Abraão, o qual, antes de Isaque nascer, havia feito o seu servo Eliézer o seu herdeiro. Até mesmo na hora de buscar uma esposa para Isaque, Abraão fez com que o seu servo jurasse que não traria uma mulher que não fosse da parentela do seu senhor. Se Abraão o tratasse apenas como escravo, ele simplesmente teria dado uma ordem. Ao pedir um juramento, o Pai da Fé o tratou de forma diferenciada!

O padrão de sermos escravos por amor se estende à Nova Aliança e é encontrado no ensino dos apóstolos. Observe o que Paulo declarou sobre isto:

“Mas o que para mim era lucro passei a considerá-lo como perda por amor de Cristo; sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo.” (Filipenses 3.7,8)

Ele também nos mostrou que a nossa atitude de entrega a Deus também é baseada unicamente no amor:

“Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.” (Romanos 8.36)

Quando o senhor foi bondoso e generoso com o seu servo durante aqueles seis anos, e o escravo “estava bem” neste relacionamento, então era natural que ele quisesse permanecer como escravo. A decisão de ser escravo para sempre tornava-se compreensível quando o servo sabia que o seu padrão de vida como servo do seu senhor era muito superior ao que ele tinha quando era livre.

“Mas se ele te disser: Não sairei de junto de ti; porquanto te ama a ti e a tua casa, por estar bem contigo; então tomarás uma sovela, e lhe furarás a orelha contra a porta, e ele será teu servo para sempre; e também assim farás à tua serva.” (Deuteronômio 15.16,17)

O texto diz que a decisão de ele permanecer escravo era devida ao amor. Mas o que gera esta resposta de amor? O versículo acima usa a expressão “por estar bem contigo”. Qualquer bondade que o servo manifestasse para com o seu senhor não era mais do que obrigação. Por outro lado, o senhor não tinha nenhuma obrigação de tratar bem o seu servo, mas, quando assim o fazia, ele conquistava o coração do seu escravo.

Semelhantemente, o que nos leva a amarmos ao Senhor Jesus? É o entendimento do Seu amor por nós. Quando entendemos o quanto Ele nos ama, somos constrangidos a uma resposta de amor:

“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5.14,15)

Falarei mais sobre isso no Capítulo “Dívida de Gratidão”, mas cabe aqui lembrarmo-nos de que “nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). O servo da orelha furada decidia pela escravidão vitalícia como um ato de amor. E isto o levava a fazer duas coisas:

1. Renunciar a sua liberdade;

2. Viver para obedecer a seu senhor.

Vejamos como estes princípios estão relacionados com a caminhada cristã hoje:

Luciano P. Subirá   É o responsável pelo Orvalho.org - um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa. Escritor de livros como ''De Todo o Coração'' e ''Honrando ao Senhor com Nossos Bens'', ministra palestras, abordando temas como finanças, adoração e casamento.  

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