A uniformidade é burra

A uniformidade é burra

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:26

No title A uniformidade é burra. O mundo seria muitíssimo monótono se conseguíssemos colocar um cabresto nas pessoas e forçá-las a se comportarem à nossa maneira, conformando-se aos nossos gostos. Pode parecer um clichê apenas, mas é necessário que se repita, a unidade na diversidade permanece sendo um enorme desafio.

C onviver num ambiente de teologias múltiplas, de filosofias múltiplas, sempre foi desafiador. A intolerância, a incapacidade de suportar o diferente, sempre foi o motivo precipitador de muitas tragédias na história da humanidade. Homens e nações inteiras se engalfinharam em conflitos mortais simplesmente por labutarem em campos diferentes de idéias e crenças. As páginas da história estão repletas de testemunhos a esse respeito; campos ficaram encharcados de sangue em razão das disputas alimentadas pelo afã ensandecido de impor sobre o outro os seus próprios termos.

P ara não citar os horrores do nazismo, tão abundantemente divulgados, passam despercebidos e muitas vezes caem no esquecimento, casos como a chamada noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), noite em que, por ordem de Catarina de Médici , rainha católica da França, as ruas de Paris ficaram ensopadas com o sangue de protestantes franceses, assassinados em massa. Cerca de 30 mil pessoas perderam suas vidas por causa da implacável intolerância católica aos huguenotes, designação comum aos protestantes Franceses.

fácil concluir, quando refletimos sobre tais coisas, que o homem é um ser em conflito. Sua relação é, consigo, com o próximo, com o Criador, uma relação, sobretudo, conflituosa. Esse desalinho observado em sua essência é a fonte de onde se originam todas as suas neuroses, esquizofrenias, psicoses e demais patologias determinantes dos comportamentos ora confusos, ora bizarros que conduzem o ser humano em sua marcha pelo tempo.

N ão temos o direito de obrigar os outros a se conformarem à nossa maneira de ser; mesmo que não concordemos com o diferente, temos que tolerá-lo, ainda que chegue às raias daquilo que consideramos como ultraje. Podemos sem dúvida pregar a nossa mensagem, mesmo porque esse é um direito conquistado, mas impô-la jamais. Toda e qualquer movimentação nessa direção poderá ser tida como doentia.

certo, entretanto, que todo grupo étnico, social ou religioso tem as suas próprias regras e a vida em sociedade nesse grupo só se faz possível mediante a observação dessas regras. Assim, a não submissão às regras vão conduzir à ejeção do individuo do mesmo. A sinagoga amaldiçoa e expulsa da comunidade o herege; a Igreja o excomunga, persegue e manda para o calabouço ou para as chamas; a família o deserda; a sociedade o execra, e por aí vai. A regra é inflexível. Exige que sejamos iguais, que leiamos todos na mesma cartilha, que nos deixemos amoldar aos códigos sociais. Na verdade essa regra é a garantia de manutenção do sistema, qualquer que seja ele.

Pergunta Erasmo de Roterdam (c. 1466-1536) em sua obra Elogio à Loucura:

"Que força pode obrigar os homens, naturalmente duros, selvagens e rústicos, a se agruparem em cidades, para viver em sociedade? A adulação".

Luiz C. Leite é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.

Confira o blog do escritor: http://luizvcc.wordpress.com/

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