Duas Palavras e Um Abismo

Duas Palavras e Um Abismo

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:28

A o ouvir uma entrevista do jovem Piquet dando esclarecimentos acerca do seu desempenho no grande picadeiro do circo da Fómula Um, uma palavrinha me chamou a atenção. Perguntado pelo entrevistador sobre o que gostaria de dizer para o público brasileiro, ele respondeu: "Gostaria de pedir desculpas..."

curioso como é fácil pedir desculpas... difícil mesmo é pedir perdão! São duas palavrinhas que se parecem tão próximas, mas ao mesmo tempo podem distar anos luz uma da outra. Um pedido formal de desculpa, como o do jovem piloto, é tão vazio e questionável quanto o choro sem lágrimas, uma vez que são estas que caracterizam aquele, ainda que nem sempre brotem sentidas na proporção exata do dano ou da fraude cometida.

P ara pedir desculpas não é necessário rasgar o coração; admite-se um erro, mas não se chora por ele... Um pedido de perdão, entretanto, não sai espontânea e suavemente dos lábios de ninguém; vem sempre através de um trabalho de parto difícil que envolve contrações e muita dor.

U m pedido de desculpa é comum no mundo dos homens civilizados; faz parte do protocolo das boas maneiras, mas não carrega em si dor alguma, lamento algum, e por essa mesma razão, ainda que sob o verniz da etiqueta social, não produz homens melhores.

H á um verdadeiro abismo entre os dois vocábulos. Se ao pedir desculpas eu reconheço um erro, ao pedir perdão eu reconheço um pecado. Um erro ocorre como resultado de imperícia, imprudência, desatenção... Pecados, por sua vez, são maquinados na mente, gestados no coração e por fim executados a partir de uma malignidade, negada, mas intrínseca a todos os homens.

N uma prece antiga da igreja romana conhecida como Confiteor (Eu confesso) os fiéis rezavam dizendo: "Confiteor Deo omnipotenti (...) quia peccavi nimis cogitatione verbo, et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa..." "Eu confesso Deus onipotente que tenho pecado em palavras e atos? Minha culpa, minha máxima culpa."

relativamente fácil pedir perdão a Deus. Difícil é pedir perdão ao próximo. Coisa mole é se humilhar diante de Deus numa prece chorosa; Dureza, entretanto, é humilhar-se diante do outro e conceder que ele está certo. Justificamos enquanto podemos, mesmo quando sabemos que delinquimos. Assim muitos vão vida a fora, qual delinquentes existenciais, reincidindo, incorrigíveis?

R econhecer que erramos não exige esforço demasiado; falseamos bem estas coisas. além do mais, como já ventilado, um erro pode ser atribuido a um acidente qualquer, de cálculo, seja aritmético, geométrico ou trigonométrico... Assim conclui-se o por que da ponte que caiu, do prédio que caiu, do avião que caiu?

A dmitir o pecado, todavia, é levantar o hábito da suposta santidade e expor-lhe as vergonhas. Por que o casamento caiu? Por que a parceria ruiu? Por que...? bem, nestes casos, não foi por conta de uma conta mal feita; Não cabe aí pedidos de desculpa. O elemento que faz ruir relacionamentos, que rompe alianças, que violenta a sociedade e defenestra as almas se chama pecado!

N ão há pedido de desculpas que possa expiar a culpa pelo pecado. Enquanto o jovem piloto, e todos nós com ele, não aprendermos esta lição, continuaremos sendo um fracasso, ainda que cobertos pelo falso brilho que inebria a tantos no grande picadeiro deste circo imenso.

Q ual seria o resultado se, ao invés de tentarmos esconder nossas vergonhas com as folhas de parreira da desculpa, viéssemos à público e confessássemos: "Tem misericórdia de mim porque pequei contra ti!"

Luiz Leite

Luiz C. Leite é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.

Confira o blog do escritor: http://luizvcc.wordpress.com/

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