Seletividade e preconceito

Seletividade e preconceito

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:03
exclusãoClassificamos as pessoas. Parece não haver jeito. Não precisamos, contudo, nos deixar tomar por grande culpa por causa dessa tendência. É verdade que em alguns tal tendência é bastante acentuada. Esses tais deveriam se preocupar pois, todo exagero conduz ao erro, e todo erro tem seu preço. Por quê classificamos as pessoas? Este é um expediente necessário. De certo modo, e em certo grau, em um nível mais profundo, está relacionado aos mecanismos de defesa utilizados para autopreservação e sobrevivência. Inconscientes às vezes, tais procedimentos são executados instintivamente, levando-nos a abrir ou não os canais que proporcionem aproximação deste, e travar as portas para garantir o afastamento daquele.
 
Sim, somos seletivos. Vivemos pressionados a fazer escolhas. Experimentamos, muitas vezes, e de modo frequente, muita ansiedade por causa disso, afinal nem sempre sabemos se estamos fazendo a escolha certa. No campo dos relacionamentos quase sempre selecionamos as pessoas. Não damos o código de acesso à nossa intimidade a qualquer um, e fazemos bem. As senhas que distribuímos determinam as áreas à serem acessadas. A algumas pessoas permitimos que entrem na sala de estar, a outras, na cozinha… Há pessoas, entretanto, que só recebemos “à porta”, quando recebemos. Quais os critérios que utilizamos para decidir quem entra e quem fica de fora? Quem tem nosso apreço ou desprezo?
 
Geralmente os critérios utilizados são formados a partir do próprio material que essas pessoas fornecem! O material é produzido diariamente, composto de ações, reações, palavras, atitudes, sinais que são emitidos ininterruptamente… No decurso do tempo, traçamos o perfil e, uma vez concluída a construção deste perfil, teremos determinado dentro de nós os valores que vão situar a pessoa naquela escala invisível que cada um desenvolve para si. Esta escala vai orientar nossas relações e escolhas. Quem não passar por aquele filtro ficará à margem. Somos implacáveis, às vezes, pois, uma vez traídos, lesados, vendidos, não importa o grau do prejuízo sofrido, desenvolvemos o trauma causado por esses registros dolorosos e nos tornamos mais e mais desconfiados.
 
Que somos seletivos, portanto, é fato. O problema é o preconceito, o prejulgamento… O preconceito é execrável. O prejulgamento é desonesto! Classificar as pessoas por meio dos critérios doentes do preconceito (sim, o preconceito assenta-se sobre as premissas de um psiquismo enviesado), e julgá-las, sem antes conhecer todas as faces do seu drama (coisa que só Deus pode fazer) é assinar atestado de uma destemperança medonha, de insensibilidade sem fim e sem fundo… “Quem é você para julgar o servo alheio?” (Rm 14.4)  O próprio Jesus Cristo era seletivo, sem contudo ser preconceituoso. João diz que “Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia.” (Jo 2.24)
 
Seletivos sim, preconceituosos, pelo amor, não! Dá para entender a diferença entre uma coisa e outra?
 
 
- Luiz Leite
 

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