O Mar Vermelho abriu-se depois de uma situação extrema que os judeus viveram, pois eles haviam saído do Egito e o Faraó com seus seiscentos carros aparelhados veio para persegui-los. O que fazer numa situação destas? Moshe clama ao Eterno e Ele ordena aos filhos de Israel que marchem! Mas como isso pode ocorrer?
Então é necessária uma atitude da parte de Moshe. Então novamente o Eterno ordena: “E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco” (Êx 14:16). A palavra aqui traduzida por “vara” é matteh e significa “vara, bordão, haste, tribo”. A vara é um símbolo da liderança e da autoridade conferida a alguém! A vara de Moshe seria um instrumento físico através do qual ele demonstraria sua autoridade e sua liderança novamente ao povo de Israel. Isto seria novamente uma forma de provar também a obediência de Moshe que, ao fazer o que o Eterno havia ordenado veria a realização de mais um grande milagre! Ao levantar sua vara (autoridade) em direção ao mar, Moshe estaria então colocando à prova a palavra do Eterno. Notemos que a vara foi dada a Moshe a fim de mostrar a autoridade que lhe havia sido conferida. Ela deveria ser usada em circunstâncias chave da vida de Israel. E essa era justamente uma destas circunstâncias! Moshe não poderia abusar desta autoridade e nem usá-la de forma ilícita. Veremos mais adiante como custa caro uma atitude “na carne” tomada por Moshe.
Além de tudo, o Eterno ainda promete um novo livramento ao povo de Israel: “E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, e os egípcios saberão que eu sou o IHVH, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros” (Êx 14:17,18). O que está dito aqui pelo Senhor? Ele diz que haverá uma outra destruição contra os egípcios, e que agora, o mar, que para os israelitas serviria de rota de escape, para eles serviria de sepultura!
O livramento prometido viria de forma drástica e inesperada! A declaração a seguir nos mostra o cuidado do Senhor para com os seus: “E o mensageiro de Elohim, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles” (Êx 14:19). Este mensageiro aqui citado é especial, pois ele é malak Elohim o agente do Criador! Ele sai da vanguarda e vai para a retaguarda, juntamente com a coluna de nuvem, a fim de obstruir a passagem dos inimigos que se aproximam! Este fato acontece – do mensageiro e da nuvem irem para a retaguarda – para receberem e interceptarem as flechas e as catapultas que eram atiradas pelos egípcios contra Israel.
A tradição judaica nos informa ainda sobre isso:
“A Bíblia descreve então colunas de nuvens entre os hebreus. A palavra hebraica para nuvem é A V (letras ayin e beit). Como na língua hebraica as letras também representam números, esta palavra pode ser lida também como "72" (ayin = 70 e beit = 2). Descobriremos então que estas colunas eram, na verdade, os 72 nomes de D-us, poderosa ferramenta que, usada por alguém como Moshe, poderia fazer qualquer milagre neste mundo.
E foi assim que Moshe "'abriu o mar". A tradução literal deste episódio revela que Moshe abriu o "mar do fim" (Iam Suf), que em hebraico é similar a dizer que ele abriu o "mundo infinito" (Ein Sof). Portanto, ele abriu naquele momento um receptor para o mundo infinito e nesta dimensão qualquer milagre é possível.
Embora repleto de parábolas, o significado mais profundo por trás de toda a história da travessia dos hebreus do Egito até a Terra Prometida se refere a uma situação de escravidão, à qual a grande maioria dos seres humanos está submetida”.
O que podemos dizer então? O que aconteceria quando o Mar dos Juncos se abrisse? Segundo nossos sábios o Iam Suf – Mar dos Juncos – é também o “Mar do fim”, ou seja, ele é o limite que marca o fim de algo e o recomeço de uma nova etapa de vida. E foi isso que aconteceu com Israel, pois ao ultrapassarem o Mar dos Juncos eles estavam deixando para trás não somente o Egito como também os seus opressores!
Isso significa que a passagem pelo Iam Suf – Mar do fim – foi um marco físico e espiritual para o povo de Israel que daquele dia em diante não mais foi incomodado pelos antigos opressores, os egípcios. Se tomarmos esta palavra literalmente, após a celebração de Pessach todos passamos pelo “Mar do fim”, onde os nossos inimigos e opressores ficam para trás e nada mais há que ser feito, senão aguardar pelo juízo e depois recolher os despojos da vitória!
Um outro aspecto desta travessia é que além de ler-se “Iam Suf” estas palavras podem ser lidas como “Ein Sof” que significa “mundo infinito”. Então podemos afirmar que na passagem do Mar dos Juncos o que ocorreu na verdade é que o “mundo infinito” abriu-se diante dos judeus! As ocorrências sobrenaturais se multiplicaram e eles caminharam a pés secos numa travessia que os levaria para o outro lado da praia, ou seja, eles estariam longo dos egípcios e já a caminho de Canaan! O mundo infinito se abriu diante deles para que soubessem também que eles estavam sob as ordens do Todo-Poderoso de Ia´aqov, o D-us de Israel!
Estes dois fatores ocorreram também num outro momento da história de Israel e logo após a celebração de Pessach. “E Ieshua, havendo bradado outra vez com grande voz, entregou o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras. E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos” Mt 27.50-53. Estes versos nos mostram que houve no momento da morte de Ieshua uma “divisão” entre o antes e o depois, pois a sua morte mexeu com as estruturas físicas – da natureza – e também com as espirituais, gerando acontecimentos que nunca haviam ocorrido daquela forma. Detalhe: os mortos entraram na Cidade Santa – Jerusalém, assim como aqueles que morreram em Ieshua entrarão numa cidade que é a “Capital” dos céus e que tem uma filial na terra: a cidade se chama “Hadasha Ierushalaim”, mais conhecida como “Nova Jerusalém”.
Quando o véu do Templo se rasga de alto a baixo isso está conectado com a abertura do “mundo infinito” que agora, com a morte e ressurreição de Ieshua passa a poder ser acessado a cada instante que desejarmos e não SOMENTE em épocas especiais! A ressurreição dos mortos é uma das características que apontam para a chamada “Era Messiânica” e quando Ieshua morre e depois ressuscita isso passa a ser uma marca registrada na vida dos judeus crentes n´Ele. Sha´ul faz uma declaração intensa sobre isso quando diz: “Pois porquanto a morte veio por um homem, bem a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem por Adam, assim também todos serão vivificados no Ungido. Mas cada um por sua própria ordem: o Ungido é o primeiro; depois, os que são do Ungido, na sua vinda. Depois virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Elohim pai, e quando ele houver posto abaixo todo império, e toda potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os seus inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E, quando todas as coisas lhe forem sujeitas, então, também o mesmo filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Elohim seja tudo em todos” I Co 15.21-28.
Sha´ul declara que Ieshua aniquilou o poder da morte através de sua ressurreição; Ele então abriu o caminho para o Ein sof – mundo infinito – e assim nos deu acesso aquilo que somente os mortos ou os seres celestiais poderiam ver e vivenciar: a eternidade.
Em quantas partes o mar se diviviu?
A Torah, em sua porção Beshalach diz o seguinte sobre os momentos que antecederam isso:
Percebemos que o que funcionava para israelitas como proteção e direção, para os egípcios era juízo e confusão. “E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era trevas para aqueles, e para estes clareava a noite; de maneira que em toda a noite não se aproximou um do outro” (Êx 14:20). Então chega o grande momento de mais um milagre: o mar se abrir! Creio que naquele momento havia uma grande expectativa no mundo espiritual pelo que haveria de ocorrer! De um lado os mensageiros do Eterno lutando para que Israel fosse protegido, guardado, ajudado e liberto definitivamente dos egípcios. De outro, os demônios furiosos tentam alcançar ao povo, e isso por terem perdido várias batalhas. Eles agora clamam por sua vingança contra o povo escolhido do Senhor! Mas finalmente algo acontece: “Então Moshe estendeu a sua mão sobre o mar, e o IHVH fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êx 14:21). A atitude de Moshe desencadeia no mundo espiritual algo grandioso: este vento que o Eterno usa para que o mar se retire foi o próprio Espírito o Santo! Convenhamos que este “vento” não era um vento qualquer, pois é ele quem realiza o trabalho de fender o mar e levantar “muros” laterais a fim de que o povo passe por um caminho que estava inclusive seco! E tudo isso no meio do mar! Este “vento oriental” é o vento que o Eterno usa para punir os malvados. As Escrituras nos dizem:
- “Com vento oriental os espalharei diante do inimigo; mostrar-lhes-ei as costas e não o rosto, no dia da sua perdição” (Jr 18.17);
- “Ainda que ele dê fruto entre os irmãos, virá o vento leste, vento do IHVH, subindo do deserto, e secar-se-á a sua nascente, e secar-se-á a sua fonte; ele saqueará o tesouro de todos os vasos desejáveis” (Os 13.15);
- “Com medida contendeste com ela, quando a rejeitaste, quando a tirou com o seu vento forte, no tempo do vento leste” (Is 27.8).
Por isso o Eterno usou este “vento” desta forma, pois para os judeus ele abriria o caminho da vida, mas para os egípcios ele prepararia o local de seu sepultamento. Enquanto os judeus atravessavam o caminho estava limpo e seco, mas quando os egípcios chegavam este mesmo caminho estava lamacento e todo irregular! Quem “aplaina” o caminho para Israel e divide o mar para que eles alcançassem a vida foi o “vento do Eterno”.
A tradição cristã e até mesmo os produtores mundiais de filmes, documentários e afins dizem que o Mar se dividiu em uma passagem pela qual o povo avançou rumo a Canaan.
Porém a divisão do Mar dos Juncos, que está descrita também no livro de Salmos diz que o Mar se dividiu em doze partes! Mas como pode ser isso?
O Salmo 136.13 nos diz o seguinte: “Aquele que dividiu o Mar Vermelho em doze partes; porque a sua benignidade é para sempre”. Tradução literal do hebraico. O texto em hebraico diz:
"le gozer iam suf ligezarim ki leolam chasdo"
A palavra “ligezarim” significa “em 12 divisões”, pois a letra “lamed” equivale ao número doze. A palavra “gezer” significa “parte, divisão”. Por que não foi em “duas partes”? Por que o número dois em hebraico é “shtaim” e essa palavra não aparece no texto hebraico.
Mas onde está a conexão entre estas doze passagens no restante das Escrituras? Em primeiro lugar os judeus já estavam divididos em doze tribos e cada uma delas herdaria a terra de Canaan. Em segundo lugar, quando fazemos a conexão deste evento que foi a passagem definitiva para o “mundo infinito” ligamos então aos versos que estão em Apocalipse e dizem: “E veio a mim um dos sete anjos, que tiveram as sete taças cheias das derradeiras sete pragas, e falou comigo, dizendo: Vem, e mostrar-te-ei a Esposa, a mulher do Cordeiro. E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Elohim descendia dos céus. E tinha a glória de Elohim: e a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, ao modo de cristal resplandecente. E tinha um grande e alto muro com doze portas, e, nas portas doze anjos, e nomes escritos nelas, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel” Ap 21.9-12.
Descobrimos que nesta cidade – a Nova Jerusalém – cada um entra por seu próprio portão, ou seja, pelo portão que designa a sua tribo! Assim como os judeus passaram pelo Mar dos Juncos e foram rumo a Canaan e se estabeleceram cada tribo numa porção de terra os crentes em Ieshua entrarão na Cidade Santa cada um pelo portão de sua tribo, pois eles são os descendentes de Avraham que o Eterno tem juntado dentro de um organismo chamado “igreja”.
Que o Eterno nos abençoe em nome de Ieshua e que possamos a cada dia mais vivenciar a Sua Palavra, obedecendo-a fielmente para que tenhamos o direito de entrar na cidade pelas portas!
Baruch há Shem!
Por Rav. Mário Moreno, fundador e líder do Ministério Profético Shema Israel e da Congregação Judaico Messiânica Shema Israel na cidade de Votorantim. Escritor, autor de diversas obras, tradutor da Brit Hadasha – Novo Testamento e conferencista atuando na área de Restauração da Noiva.
*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições