“Isto é de D-us, o que é maravilhoso aos nossos olhos” (Sl 118:23). Lembro-me do dia durante o Chanukah um ano quando de repente me ocorreu inverter o versículo e torná-lo um corolário: Se algo não parece de D-us, então é somente porque parou de ser maravilhoso aos seus olhos. Restaure a maravilha e conserte sua visão espiritual.
Perceber esse lado do versículo foi como o sol nascendo em uma noite previamente escura, e resultou em uma abordagem sólida para ensinar as pessoas a ver D-us. Também se encaixou graciosamente com o conselho do Rambam (filósofo judeu também conhecido como Maimônides), sobre como alcançar o amor e o temor a D-us, e outras fontes importantes também. Isso foi há cerca de trinta anos, e nunca envelheceu. A ideia e a excitação permanecem as mesmas, o que diz muito sobre ambos.
Se eu tivesse sido inteligente, teria percebido então que os outros versículos naquele parágrafo poderiam possivelmente produzir corolários e percepções semelhantes, como eu fiz neste Chanukah (Festa da Dedicação).
Por exemplo, o versículo anterior ao mencionado acima diz: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Sl 118:22). David HaMelech (Rei Davi), que havia sido descartado por seu pai e irmãos, escreveu isso sobre si mesmo porque acabou se tornando o rei do povo judeu e ancestral de Mashiach Ben David. E tenho certeza de que ele também tinha Iosef HaTzaddik (José o Justo) em mente quando o compôs.
Este versículo tem sido minha própria pedra angular ao explicar as nuances mais cabalísticas da história judaica, especialmente para pessoas que esperam que ela seja reta como uma flecha. Também uso o versículo para me lembrar de vez em quando de não ser facilmente enganado pelas primeiras impressões de pessoas ou eventos. Pouco acaba sendo no final o que parecia ter sido no começo, e muitas vezes quando se trata de líderes judeus.
O que me levou a pensar no corolário: se você quer ser uma pedra angular, terá que ser desprezado pelos construtores, ou seja, as mesmas pessoas que aparentemente deveriam respeitá-lo.
Só para qualificar, essa ideia só é verdadeira se D-us não desprezar você também, o que significa que você está fazendo o certo por Ele. Você tem que fazer o seu melhor para agradar a D-us com o que você se tornou e com o que você faz. Então, por que os “construtores” não gostariam de você tanto quanto deveriam? Porque pessoas convencionais não gostam de pessoas não convencionais. Pessoas que fazem as coisas conforme o livro não gostam quando os outros não o fazem, mesmo que o resultado seja o mesmo, ou até melhor.
Elas não estão completamente erradas. Pelo contrário, a Torah mesorá (transmissão tradicional da Torah e das práticas judaicas ao longo das gerações) funcionou por causa da convenção e da aderência firme a regras e padrões. No entanto, em nosso zelo para preservar essas regras e padrões, muitas vezes esquecemos dos Iosefs, dos Pinchases e dos Davids da história – os líderes excepcionais que se destacaram porque eram não convencionais em seu serviço a D-us, sem nunca quebrar a Torah ou suas tradições de forma alguma.
Mas toda sociedade busca proteger a si mesma e seus membros. Os irmãos venderam Iosef (José) para evitar que o povo judeu seguisse seus caminhos e se desviasse para o errado. A preocupação deles era legítima, pois foi Yeravém (Jeroboão), um descendente de Iosef, quem mais tarde construiu os bezerros de ouro. No entanto, a abordagem deles em relação a Iosef e a preocupação que tinham acabaram sendo equivocadas.
A severidade direcionada aos não convencionais pode ser extremamente intimidadora para aqueles que preferem se encaixar e passar despercebidos. Ninguém quer ser um pária, e algumas pessoas preferem ignorar suas próprias qualidades distintas a fim de evitar ser castigadas por elas. Para essas pessoas, se encaixar representa uma adaptação mais segura do que realizar algo único e ser desprezado, ou, no mínimo, marginalizado.
Afinal, Iosef foi desprezado por muitas décadas antes de se tornar a pedra angular de D-us. David também passou por desafios semelhantes. Yiftach (Jefté) teve que deixar a sociedade dominante para construir sua própria vida antes que a sociedade o procurasse para ser seu herói. Quem sabe quantos outros, como eles, precisaram passar por algo semelhante ou sequer tiveram a chance de descobrir o quão especiais eram para D-us?
Por que tem que ser assim? Por várias razões, algumas das quais só podem ser compreendidas por D-us. Mas as razões mais óbvias incluem coisas como humildade, testes de fé em D-us e o desenvolvimento de resiliência, além de qualidades padrão de liderança. Sem dúvida, o caminho para a grandeza e a proeminência de alguns é direto e organizado, o que torna tudo mais fácil para todos.
Mas desde que Avraham (Abraão) se tornou Ish Ivri, "o homem do outro lado", ser grande e convencional nem sempre foi a melhor escolha. E, pelo que sabemos, o Mashiach (Messias) pode ser uma verdade difícil para muitos aceitarem quando se revelar e assumir seus deveres de redenção final. Quantos de nós acabaremos parados, em choque com a revelação, atordoados a ponto de ficar em silêncio, como os irmãos de Iosef na parashá desta semana?
Dado onde estamos na história neste momento e tudo o que está acontecendo atualmente, talvez seja importante refletir sobre esse ponto antes de virar a página para a parashá da próxima semana. Pelo que sabemos, a história deles na parashá desta semana serve para nos preparar melhor para o momento presente.
Tradução: Mário Moreno.
Mário Moreno é fundador e líder do Ministério Profético Shema Israel e da Congregação Judaico Messiânica Shema Israel na cidade de Votorantim. Escritor, autor de diversas obras, tradutor da Brit Hadasha – Novo Testamento e conferencista atuando na área de Restauração da Noiva.
*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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