Fala do coração

Em termos práticos, existem mandamentos do coração, existem aqueles que envolvem fala e existem aqueles que exigem ação.

Fonte: Guiame, Mário MorenoAtualizado: segunda-feira, 21 de outubro de 2024 às 17:43
(Foto: Pixabay/Ri Ya)
(Foto: Pixabay/Ri Ya)

Teshuva. Essa é a palavra da hora, e não há melhor momento para a Torah falar sobre isso do que na semana posterior a Rosh Hashaná. Significa “arrependimento”. Significa não apenas tomar coragem, mas até mesmo mudar de coração! E esta semana a Torah nos diz que os requisitos não são tão difíceis quanto se poderia perceber. “Não está no céu ou do outro lado do mar. Em vez disso, está muito perto de você – em sua boca e em seu coração – para executar” (Dt 30:12-15).

O Ibn Ezra comenta sobre os três aspectos do compromisso aos quais a Torah alude — a boca, o coração e a execução. Em termos práticos, existem mandamentos do coração, existem aqueles que envolvem fala e existem aqueles que exigem ação.

Mas em um nível simples, a Torah parece discutir um processo que envolve compromisso antes da ação. É preciso que o coração e a boca assumam o compromisso antes que a ação seja executada. Assim, a Torah nos diz: “Está muito perto de você – em sua boca e em seu coração – para executar”.

A sequência de eventos, no entanto, parece invertida. A Torah coloca a boca antes do coração. A Torah não deveria ter escrito: “Está muito perto de você – em seu coração e em sua boca – para executar”? Não é preciso ter sentimentos sinceros antes de fazer promessas verbais? Por que a Torah nos diria que está perto de sua boca e de seu coração?

Nos anos anteriores ao estabelecimento do Estado de Israel, o rabino Aryeh Levin, o Tzadik de Jerusalém, visitava os presos da prisão de Jerusalém controlada pelos britânicos em todo Shabat. Embora a maioria dos prisioneiros judeus não fosse observante, eles rapidamente vestiam kippot [ou kippah, um pequeno chapéu redondo usado por homens judeus como um sinal de respeito e reverência a Deus] antes que o reverenciado rabino os cumprimentasse. Então, eles se juntavam ao serviço de oração matinal de Shabat que Reb Aryeh organizava e liam junto com o rabino, como se fossem judeus observantes.

A cena inteira agitou um sujeito particularmente desagradável chamado Yaakov. Ele tentava de todas as maneiras irritar o gentil rabino. A cada Shabat, ele propositalmente acendia um cigarro no rosto de Reb Aryeh para perturbá-lo. Reb Aryeh nunca se intimidou. Em um Shabat, Yaakov invadiu a sinagoga improvisada e gritou com o velho rabino.

“Por que você perde seu tempo com esses mentirosos e impostores? Eles não são mais observantes do que eu. Eles só colocam a kipá na cabeça quando você vem aqui. Além disso, eles só fazem oração e abrem os lábios para D’us quando você está aqui. Caso contrário, eles não têm sentimento em seus corações!”

Reb Aryeh se virou para Yaakov e o repreendeu com uma voz firme, mas gentil. “Por que você calunia essas almas? Elas vêm orar toda semana. Eu não olho para suas cabeças, mas sim para seus corações. E quando ouço as orações saindo de seus lábios, sei que seus corações também estão seguindo.”

Não demorou muito para que Yaakov se tornasse um membro constante do grupo de oração.

A Torah pode estar sugerindo uma mensagem poderosa. Pode estar nos dizendo que, embora nossos corações ainda não tenham chegado, ainda é importante usar nossos lábios para comunicar os compromissos e orar as orações do povo judeu. A Torah não está longe. Está perto e acessível à sua boca. Os livros estão disponíveis. O sidur [livro de orações judaicas] é compreensível e traduzido. Está muito perto de seus lábios. Tudo o que você precisa fazer é falar – sinceramente. Em breve, você caminhará com a mesma sinceridade também.

Tradução: Mário Moreno

 

Mário Moreno é fundador e líder do Ministério Profético Shema Israel e da Congregação Judaico Messiânica Shema Israel na cidade de Votorantim. Escritor, autor de diversas obras, tradutor da Brit Hadasha – Novo Testamento e conferencista atuando na área de Restauração da Noiva.

*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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