Tive a infelicidade de ver cenas de um novo filme chamado “Lindinhas” que entrou na plataforma de vídeos online Netflix, o qual já causou enorme repercussão negativa nos Estados Unidos e agora no Brasil, devido ao conteúdo polêmico envolvendo meninas com cerca de 11 anos de idade.
Segundo a roteirista do filme, Maïmouna Doucouré, a ideia da produção é chamar atenção para o problema da sexualização infantil. Mas como alguém pensa em alertar sobre isso, usando justamente cenas que alimentam a fantasia de pedófilos?
É como produzir um filme contra o abuso de drogas entre adolescentes, mostrando cenas de jovens usando drogas de forma permissiva, como uma espécie de expressão de identidade e “liberdade”. Isso não combate nada, pelo contrário, induz ainda mais o consumo.
Outro exemplo que ilustra bem a contradição desses criadores de conteúdos é a série 13 Reasons Why, lembram dela? A proposta seria alertar sobre o problema do suicídio entre os jovens, mas o que eles fizeram? Romantizaram o suicídio! Transformaram o problema em algo cenográfico e psicologicamente relativo, o que também terminou gerando uma onda de críticas de especialistas em várias partes do mundo, inclusive minhas.
O filme Lindinhas não é diferente. Em vez de combater a erotização infantil, o que ele faz é promover de forma indireta a sexualização de crianças sob o pretexto da arte e dos problemas sociais. Qual é a necessidade de expor crianças de 11 anos em poses claramente sexuais através da dança?
Dança que insinua posições sexuais e o próprio ato sexual, em si, não deve ser vista como normal para o público infantil. No passado, adultos só encontravam esse tipo de coisa em casas noturnas, mas agora a situação ficou tão banalizada que vemos através de famosos a exibição debochada do corpo feminino na TV aberta, aos olhos de todos – de mau gosto!
Pedofilia começa no fetiche
A pedofilia não é um problema apenas pelo abuso sexual consumado. Ela também é pela produção de conteúdos que alimentam o fetiche do pedófilo. Antes de o abusador cometer seus crimes, tocando e violentando uma criança, ele primeiro se alimenta de conteúdos que estimulam as suas fantasias. É por isso que é comum encontrar material de pornografia infantil na posse desses criminosos.
É exatamente isso o que acontece quando vemos um filme exibindo crianças de 11 anos de forma sexualizada, fazendo poses provocantes que claramente denotam atos sexuais. É o tipo de material perfeito para pedófilos e não para quem deseja combater a exploração infantil.
É possível abordar o problema da erotização precoce de crianças e adolescentes de várias formas. Não há, por exemplo, a menor necessidade de expor até mesmo as partes íntimas (mesmo cobertas) das meninas para ilustrar isso. Quando vi as cenas, não tive dúvidas de que o nível de detalhamento no foco das imagens contradiz a proposta do filme, estimulando aquilo que diz querer combater. Haveria uma intenção oculta por trás disso? Não descarto essa possibilidade.
Tomei conhecimento de que nos Estados Unidos o Senador Ted Cruz pediu ao Departamento de Justiça que investigue a Netflix e os cineastas do filme Lindinhas para ver se eles infringiram alguma lei federal. Aqui no Brasil, a ministra Damares Alves também já se posicionou condenando o material. Tem o meu total apoio e me coloco à disposição, como psicóloga, para debater sobre o assunto se houver a necessidade.
Se queremos um Brasil livre da pedofilia, não podemos admitir que esse tipo de filme continue disponível em nosso país. Não se trata de mera classificação indicativa, mas sim de conteúdo criminoso por expor de forma imprópria a imagem de crianças, o que a meu ver viola o Art. 227 da Constituição Federal, o qual diz ser dever do Estado garantir a “dignidade” e o “respeito” à criança e ao adolescente.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Por Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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