Uma notícia circulou com euforia cristã pelas redes. Jesus de repente apareceu no intervalo do Super Bowl, o festejado campeonato de futebol americano nos Estados Unidos. Mensagens cristãs foram mencionadas no momento, como essa: “Jesus didn't want us to act like adults” (“Jesus não queria que nós agíssemos como adultos”). Na sequência: “He gets us, all of us” (“Ele está conosco, com todos nós”). O fato, claro, deve ter sido bastante festejado, como se aplaudido de pé.
Claro, Jesus aparecer nem que seja por imagem para duas ou mais almas é um acontecimento maravilhoso. Todavia, nem sempre é bom quando Jesus aparece como uma “sarça” num mundo em que jaz um secularismo ressentido, de aproveitadores, zombadores, interesseiros, políticos em geral querendo desviar uma alminha pelo menos dos caminhos do Céu. Se Jesus aparecesse como a sarça mesmo, assim de repente como fez Deus na conhecida passagem bíblica, seria o caso de levantar as mãos aos ceús e glorificar pelo feito. Mas não foi a mesma coisa.
“Não sou fã” é um mínimo que afirmo num título, mas na verdade confesso que temo por completo propagandas ou divulgações do senhorio de Jesus, sejam elas distintas e moderadas, sejam escancaradas e ousadas. Escancaradas e ousadas? Piores ainda.
Propagandas de Jesus fatalmente seriam confundidas com a mercantilização secular e, em vez de passarem um Jesus simples, individual, concreto e “de intimidade”, passarão um Jesus político, coletivo, um nativo deste mundo, próprio de massas e sujeito então à vulgarização ou banalização.
Então, o que deve fazer o cristão? Por que não adianta só orar? Se não adianta pedir ajuda aos céus, então qual a ação necessária aqui na Terra por parte dos conservadores ou reacionários? Se eu falar “nenhuma” estarei mentindo e exagerando. Se eu falar “todas”, “tudo o que for possível”, também não escaparei de condenação. Deus é como um pai que não pode ensinar ao filho o que é certo e errado lendo um manual de como ser honesto. Tem que ser naturalmente.
Absurdos e até crimes de gente muito mal intencionada, ou nem tanto, acontecem. Já vi propagandas de Jesus em copo de cerveja alertando sobre o verdadeiro sentido do Natal. Já vi paródia ridicularizando Jesus e o Natal. Já vi encenação de Jesus no carnaval. Não confundir propaganda de Jesus com manifestações cristãs. Estas são dignas, um direito e um ato de fé. A política é pela causa, não diretamente por Jesus. Jesus precisa que acreditem nele e o adorem, não que ele seja o Rei secular.
Em política não há certezas. Quem sabe, a mente imprudente e ansiosa tenha acarretado a perda de chances. Talvez a mesma imprudência que tenha levado bolsonaristas a perderam a eleição e estarem presos hoje por meras manifestações políticas e cívicas. Talvez a mesma ousadia e intrepidez de Bolsonaro que o levaram a ganhar a primeira eleição sendo sincero demais. Talvez a mesma desorganização e o mesmo desconhecimento “de causa” da “direita”, das suas razões, a mesma ignorância histórico-cultural e política imprescindível para estratégias contra o avanço da “esquerda”, a mesma ansiedade, a mesma euforia da “direita” por conquistas de alguns atos isolados num contexto todo que é cultural e espiritual e que, por isso mesmo, necessita de mais espiritualidade e cultura.
Porque a “direita” erra tanto? Arrisco um palpite. Talvez ela precise de mais alimento sólido. O tempo do leitinho já se foi. E alimento sólido é estudar a Bíblia e mais sobre guerra cultural, o que ela é, onde situam os cristãos, o que eles devem e o que não devem fazer, agir, esperar, enfim, conhecer mais assuntos deste tipo, tendo ciência da verdade, e acima de tudo ter paciência e prudência.
A política do conservadorismo não é política de verdade, essa mesma de congressos quase carnais por cargos e conquistas materiais, interesseiras e mesquinhas. A política conservadora é a política da prudência, uma política só para quem está no nível do alimento sólido. De repente, ser prudente é não agir, deixar de tomar certas atitudes que, por má interpretação e aplicação pelo ser humano pecador, possam colocar tudo a perder. Atos que podem ser considerados políticos, e intenção política é o que se tem que evitar ao falar de Jesus.
Jesus não queria ser visto como político e não veio para este mundo com esta finalidade. Ele evitava ao máximo que fosse falado que ele era o Rei dos Judeus. A intenção de Cristo era e é mesmo salvar individualmente cada alma que o procure e nele deposite total confiança e obediência.
Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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