Marina Morena Costa
Categoria tem negociação marcada para segunda-feira. Em São Paulo, docentes estão indignados com proposta que não considera inflação
Os professores federais, em greve há mais de dois meses, devem rejeitar a proposta apresentada pelo governo federal na próxima segunda-feira, quando as duas partes têm uma reunião de negociação agendada. Em assembleias realizadas ao longo desta semana, os docentes analisaram a proposta e enviaram suas decisões para o sindicato nacional, a Andes, que durante o fim de semana irá elaborar uma contra-proposta. A expectativa do movimento é que a ampla maioria das 57 universidades em greve recuse a proposta.
A conclusão dos professores é de que os reajustes apresentados pelo governo federal não contemplam a inflação. De acordo com cálculos feitos pelos sindicatos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do ABC (UFABC), há perda salarial para a maioria dos profissionais. Na carreira dos docentes com doutorado e dedicação exclusiva, a melhor contemplada pelo governo, quatro dos nove níveis terão perdas e aumento real próximo a zero para outros dois níveis (veja tabela abaixo).
“Considerando que o governo não cometeria esses erros crassos de cálculo com professores, isso fica com uma feição de manobra da opinião pública contra o movimento, que já deixou de ser exclusivamente de docentes e envolve servidores e alunos”, diz Denilson Cordeiro, professor de Filosofia da Unifesp do câmpus de Diadema e membro do Comando de Greve local.
“A proposta foi apresentada como generosa, com 30% a 45% de aumento aos professores. Mas a gente fez os cálculos e viu que não é nada disso. O sentimento é de indignação”, aponta Giorgio Romano, do comando de greve dos professores da UFABC. Os números apresentados pelo governo somam os 4% de aumento negociados no ano passado e envolvem os anos de 2010 e 2015. “A inflação do período varia entre 31% a 35,5%”, alega o professor.
Os docentes discordam de outros pontos da proposta do governo e reclamam da não contemplação de reivindicações do movimento, como a garantia de investimentos em infraestrutura, a negociação com os funcionários técnico-administrativos, participação na elaboração do plano de carreira e nas decisões orçamentárias que envolvem as universidades federais.
“Corremos o risco de consolidar essa precariedade que existe hoje. Tanto em termos de infraestrutura, quando em relação a manter uma carreira que não atrai bons profissionais”, aponta Marcia Jacomini, professora de Educação da Unifesp.
Proposta mínima
Para os professores da Unifesp e da UFABC, o governo acertou em acatar o pedido de redução dos níveis da carreira de 17 para 13. Mas para saírem da greve, há outros pontos que precisam ser acordados:
- estepes fixos de 5% entre os níveis da carreira docente (aumento concedido ao salário-base, quando o profissional é promovido)
- incorporação das gratificações por títulos de mestre e doutor ao salário-base (as gratificações representam entre 60% a 70% e não são reajustadas nas negociações salariais, podendo inclusive serem extintas pelo governo)
- fim do limite de 20% para do corpo docente para o cargo mais alto da carreira
- garantia de melhorias na infraestrutura das unidades
- nenhum nível com perda salarial
- proposta consistem de carreira
- negociação sobre os limites da dedicação exclusiva
Carreiras de docentes com doutorado e dedicação exclusiva:
Cargo | Salário em 2010 | Proposta governo para 2015 |
Aumento no período |
Aumento médio anual no período |
Titular |
R$ 11.755,05 |
R$ 17.057,74 |
6,91% |
1,35% |
Associado 4 | R$ 11.424,45 | R$ 15.464,45 | -0,10% | -0,02% |
Associado 3 | R$ 11.089,65 | R$ 14.855,58 | -1,14% | -0,23% |
Associado 2 | R$ 10,877,97 | R$ 14.117,51 | -4,31% | -0,88% |
Associado 1 | R$ 10.703,55 | R$ 13.319,00 | -8,17% | -1,69% |
Adjunto 4 | R$ 7,913,30 | R$ 10.952,19 | 2,14% | 0,42% |
Adjunto 3 | R$ 7.714,90 | R$ 10.570,66 | 1,12% | 0,22% |
Adjunto 2 | R$ 7.521,73 | R$ 10.208,36 | 0,16% | 0,03% |
Adjunto 1 | R$ 7.333,67 | R$ 10.007,24 | 0,71% | 0,14% |
Índice de inflação no período de 35,5%, segundo índices do ICV DIEESE 2010-11 e a média de projeções do Banco Central e Relatório Focus
Fonte: Sindicato dos professores da UFABC.
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