A importância dos avós

A importância dos avós

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:33

A mulher nasce com cerca de dois milhões de óvulos, no início da puberdade são 400 mil, e apenas uma pequena parte é usada nas ovulações ao longo da vida adulta. A maior parte degenera-se com o tempo e quando os remanescentes passam a ser insuficientes para produzir estrogênio suficiente para manter ativo o sistema ovário-cérebro, a mulher não mais menstrua. Diferente das mulheres, a grande maioria das fêmeas no mundo animal continua fértil até o fim da vida e não sabe o que é menopausa. Duas exceções conhecidas são algumas espécies de baleias e elefantes.  

Elegantes linhas de pesquisa têm compreendido a menopausa nas mulheres como uma vantagem, ou seja, ela aumentaria as chances da espécie errar descendentes, perpetuando assim seus genes. A menopausa serviria como um fator de proteção tanto para as mães,como para os filhos. Mas de que maneira?  

As mulheres contemporâneas vivem uma condição muito recente na sua história que é o grande número de ciclos ovulatórios ao longo da vida, pois começam a ter seus filhos tardiamente - e são poucos filhos. Essa freqüência maior de ovulações faz com que a mulher seja muito mais exposta às elevações periódicas de estrogênio, o que aumenta o risco de doenças como o câncer de mama. A menopausa pode ser vista como uma resposta adaptativa, evitando que a mulher chegue aos 80 anos de idade com o mesmo nível de exposição ao estrogênio.  

Outra vantagem das mulheres não continuarem férteis em idades mais avançadas é a de que os filhos poderão contar com suas mães vivas nos seus primeiros anos de vida e pesquisas nos confirmam que isso aumenta a chance de uma criança chegar à idade adulta. Além disso, os óvulos de mulheres mais maduras têm mais chances de serem defeituosos e, caso fossem fertilizados, haveria maior risco de gerar anormalidades cromossômicas e recém-nascidos de baixo peso ou prematuros.  

Por essas e outras razões, há uma grande propósito em fazer com que as mulheres, a partir de certa idade, fossem mais úteis à perpetuação da espécie ao investir energia para a sobrevivência de filhos que não precisassem gerar: seus próprios netos. Esse conceito é bem conhecido pela ciência como "Hipótese Avó", na qual a avó colabora não só com conhecimento, mas também colocando a mão na massa, aumentando a chance de seus netos sobreviverem. Além de suporte aos netos, a "Hipótese Avó" contempla também a menopausa como fator que evita a competição reprodutiva entre gerações na espécie humana.  

Um dos estudos mais importantes sobre o tema foi publicado na respeitada revista científica Nature, em 2004. Os pesquisadores avaliaram dados históricos demográficos de populações canadenses e finlandesas do século XIX e evidenciaram que tanto mulheres como homens que tinham mães que viveram após os 50 anos de idade tiveram seus filhos mais precocemente e uma maior chance de que eles chegassem à idade adulta. Além disso, as mulheres que moravam longe das mães tinham menos filhos quando comparadas àquelas que moravam na mesma casa, no mesmo bairro, na mesma vila. O efeito positivo da avó foi mais pronunciado ainda quando a avó tinha menos de 60 anos de idade quando do nascimento de seu neto. Um dos resultados mais importantes do estudo foi o de que a presença da avó foi relevante na sobrevida dos netos entre os três e cinco anos de idade. E os resultados não foram diferentes entre as duas populações estudadas: canadenses e finlandeses.  

O que dizer sobre as avós no século XXI? Nas últimas décadas podemos perceber uma mudança no papel das avós em nossa sociedade, muitos delas passando a desempenhar o papel de mães. Podemos identificar um crescimento no número de lares em que três gerações convivem: avós, pais e netos. Cresce também o número de lares em que os avós cuidam plenamente de seus netos com os pais morando em outro domicílio. Esses modelos de organização familiar podem estar associados a benefícios, mas também a dificuldades. As avós podem se sentir realizadas, menos sós e com maior auto-estima por assumirem a responsabilidade dos netos, mas por outro lado podem estar sendo submetidas a uma sobrecarga de funções que em alguns casos não são mais compatíveis com os estados de saúde física e financeira comuns entre muitos idosos.  

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