Anticoncepcional engorda mesmo?

Anticoncepcional engorda mesmo?

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:27

Quarenta anos depois da invenção da pílula, muitas mulheres ainda se queixam de ganhar peso e inchar ao fazer uso do medicamento. Vamos esclarecer de uma vez: afinal

Você notou que as suas roupas ficaram apertadas depois de iniciar a primeira cartela de pílula? Sua irmã, prima, colega de trabalho ou amiga da amiga algum dia comentou sobre esse efeito indesejável ou outro, como aumento de apetite? A probabilidade de ter ouvido queixas - ou as sentido na própria pele - sobre o método, tão popular quanto controverso, é bastante alta. Mas, como os dois lados de uma moeda, a verdade em relação ao anticoncepcional é relativa. Pílula engorda? Sim e não, muito pelo contrário. Não, não é loucura.

Depende de inúmeros fatores, alguns relativos às formulações, outros ao organismo, à forma de ministrar o comprimido pelo médico e, até mesmo, o modo como ele é tomado.

"Em medicina, um mais um não é igual a dois. Isso quer dizer que um tipo pode ser perfeito para uma paciente e péssimo para outra", afirma a ginecologista e obstetra Vera Lúcia Delascio Lopes, da Pro-Matre Paulista e membro da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo.

Avanços reais

Desde que foi descoberta, nos anos 60, a pílula evoluiu muito, para alívio de todas nós. Das superdoses de hormônios, que produziam uma grande lista de efeitos colaterais - sem falar nos riscos de complicações circulatórias e doenças cardiovasculares - até a nova geração de pílulas, que reduziu a quantidade dos hormônios para 10%, o dia-a-dia das usuárias do método melhorou muitíssimo. "Com a microdosagem da nova geração de contraceptivos, efeitos como edema, náusea e dor de cabeça diminuíram muito", atesta a ginecologista Ceci Mendes Carvalho Lopes, chefe do Setor de Planejamento Familiar da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

"Substâncias sintéticas, como a ciprosterona e a drospirenona (semelhante à progesterona produzida pelo organismo da mulher), presentes nas fórmulas de uma nova geração de anticoncepcionais aliviam os sintomas da TPM, regulam a oleosidade da pele, melhoram a textura e o brilho dos cabelos", acrescenta. Já o desogestrel, progestogênio, garante ação contraceptiva, ainda que seja tomada com até 12 horas de atraso, contra as três horas garantidas pelas fórmulas convencionais.

A drospirenona também tem leve efeito diurético; assim, ajuda na eliminação do sal e provoca menos retenção de líquidos. Vale dizer que, do ponto de vista da contracepção, essas verdadeiras pílulas da beleza equivalem às outras disponíveis.    

O complô do sobrepeso

Mesmo com as conquistas alcançadas nos tubos de ensaio, os anticoncepcionais não atingiram a perfeição. As reações adversas do consumo de todas as marcas são semelhantes e incluem, em diferentes graus, dor de cabeça, dores nos seios, enjôo e dor abdominal. Além disso, a maioria das pílulas causa alguma retenção de líquido. "Ainda há dificuldade de controlar certas reações", reconhece a médica Ceci Mendes. Mas o fato de você engordar tomando pílula se deve a um conjunto de fatores. Um deles é o aumento de apetite, comum na segunda metade da cartela. "O ciclo do anticoncepcional é dividido em duas etapas: do 1º ao 15º dia é a fase estrogênica; e do 16º em diante, a fase progesterônica, cujos hormônios se assemelham aos da gravidez. Daí a vontade acentuada de comer doce, como acontece com as gestantes", descreve a ginecologista.

Também é na segunda metade da cartela que ocorre a retenção hídrica. "A situação é agravada para mulheres que têm a resistência à insulina aumentada, pois atingem facilmente o pico da glicemia e, quando a taxa cai, vem a necessidade de comer doce. Algumas pacientes engordam de 1 kg a 1,5 kg. Depois da menstruação, e ao retomar a pílula, esse processo tende a melhorar," diz Ceci Mendes.

Conforme a formulação, os sintomas indesejáveis podem diminuir. "Hoje as pílulas com menor dosagem hormonal são as mais usadas, por minimizarem efeitos colaterais. A palavra final, de qualquer forma, deve ser a do médico", conclui a ginecologista Vera Delascio.

Escolha consciente

A máxima "cada caso é um caso" aqui cabe muito bem. Exemplo? Se você tem propensão à enxaqueca, não deve tomar drospirenona - a substância tende a causar dores de cabeça.

É possível que mulheres com histórico de hipertensão e diabetes, problemas circulatórios ou cardiopatias tenham o desenvolvimento de doenças acelerado com o uso de pílula. E há certos tipos que podem aumentar feridas preexistentes no colo do útero. O melhor a fazer, portanto,    

é conversar com o ginecologista. Ele analisá o seu perfil, considerando idade, hábitos de vida, hereditariedade e solicitará exames, como Papanicola u e dosagem hormonal. Eles servirão para detectar possíveis defeitos de coagulação e prevenir complicações, como tromboses e embolias. Ao final, a chance de conviver em paz com a cartela (e com a balança) aumentará.

Relógio hormonal

Todos nós, mulheres e homens, temos implantado no nosso corpo uma espécie de relógio natural, conhecido como ritmo circadiano. Ele é regido pelo hipotálamo, que controla algumas das atividades mais importantes do organismo, entre elas o sono, a temperatura corporal e a função celular. No nosso caso, o relógio que define a produção de hormônios, ou o ritmo circadiano hormonal, tem funcionamento vespertino, entre 5 h e 7 h da noite (período de mais produção hormonal).

Partindo do princípio que o anticoncepcional oral copia o modelo de funcionamento dos ovários, a forma de ingerir a pílula deve respeitar esse conjunto harmonioso de reações. Ou seja, se você tomála ainda na parte da manhã, por exemplo, está invertendo o ritmo, o que certamente contribui negativamente para o bem-estar geral do seu organismo.

Por: Inês Pereira

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