Busca por artigos usados é tendência contra desperdício e mesmice

Busca por artigos usados é tendência contra desperdício e mesmice

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:35

Não é por falta de dinheiro que muitas pessoas são apaixonadas brechós, sebos e mesmo sites de classificados virtuais. É a expectativa de topar com um achado, seja ele uma peça vintage como um conjunto da Chanel, uma bicicleta top de linha seminova ou um móvel de antiquário que vai dar uma cara única a sala de jantar. E também por discordar do consumismo que trata tudo como se fosse descartável e onde o último lançamento é sempre a primeira necessidade. A economia vem no pacote, já que as peças geralmente têm um preço mais em conta.

Para Maira Begalli, gestora ambiental e participante dos coletivos MetaReciclagem e Ecologia Urbana, nem todos estão interessados em itens praticamente descartáveis. “Há uma engrenagem delineada para que exista um desejo pelo novo no inconsciente coletivo. A indústria responde lançando um produto que supre essa necessidade.” Segundo ela, o processo acontece em todos os setores, de comidas semiprontas ao fast fashion, com roupas feitas para não durar. “Mas existe um movimento inverso de gente que prefere uma peça boa que dure e possa ser repetida do que várias de baixa qualidade. Isso é uma tendência, e reflete um interesse pelo valor cultural e conhecimentos associados aos bens materiais.”

Famosos Celebridades como a atriz Alicia Silverstone são adeptas de peças de segunda mão. “Eu tenho alguns princípios no que diz respeito a roupas, ou qualquer outra peça, na verdade”, disse recentemente à Vogue americana. Ela busca os itens usados, para não estimular a produção de novos e, quando não encontra o que procura, ela busca uma versão em materiais ecologicamente corretos.

No Brasil, a ex-modelo e apresentadora Carla Lamarca aposta na ideia também. Chegou a ser sócia do Super Cool Market, loja que mescla peças novas com usadas. “Às vezes ficamos todos iguais, vestimos sempre as mesmas marcas, ficamos padronados”, critica. “Peças com história diferenciam, são únicas, especiais.” Para ela, peças clássicas são compra sem erro, mas as que têm características de época precisam de sensibilidade para cair bem numa produção. 

“O bacana é que, por um bom preço, achamos peças que estão na moda e temos a chance de ter o original, e não o fabricado hoje.” Bazares de trocas entre amigos são uma opção a mais para quem está começando e tem receio de comprar itens de desconhecidos, e tem se multiplicado em cidades como São Paulo, Nova York e Paris.

Brechó chique

Muita gente evita objetos de segunda-mão, especialmente Mos de uso pessoal, por acreditar que com eles venham as "energias" de quem usou antes. Não é o caso de Adélia Lundberg, 33 anos, que já comprou roupas usadas até para os filhos. Morando na França desde 2005, ela descobriu a cultura de usados por lá. “Apesar de Brasil as pessoas acharem que a Europa é ‘chique’, as pessoas têm um estilo de vida mais simples. São menos consumistas e, em geral, não ligam de usar roupas e objetos de segunda-mão em bom estado. Existe menos desperdício”, afirma. 

A lista de itens usados que Adélia já comprou inclui brinquedos, a cama e até fraldas de pano para o filho, um snowboard para o marido e uma geladeira para a casa. O próximo item será um sofá. “No Brasil, eu não tinha o reflexo de procurar algo usado quando precisava de alguma coisa. Sempre comprava novo. Mas fiz o teste aqui na Europa e não parei mais.”

De olho na clientela com esse perfil, Jussara Griesang criou em Brasília há três anos o empório infantil Era meu, agora é seu. A organização lembra mais uma loja infantil. “Muitos nem percebem que entraram em um brechó. Não pego nenhum item que eu mesma não usaria.”, afirma Jussara. Os critérios são rigorosos, justamente para fazer um filtro de qualidade nas peças. Em itens como carrinhos e bebê-conforto, a economia é de cerca de 50%. Em roupinhas, chega a 70%.

A comerciante Oraides Goulart, 38 anos, é mãe de uma menina de 3 anos e meio e, esperando há 5 meses a chegada de mais um bebê, montou parte do enxoval dos pequenos com peças de segunda mão. “Roupas de criança são de pouco uso”, afirma. “Comprei bastante coisa para ela: protetor de berço, acessórios, enfeites”, diz a mãe, que também garimpa peças em antiquários. “Tenho hábito de coisas de segunda mão, gosto muito de peças antigas. Eu me encanto por peças assim: são bonitas, mais bem trabalhadas, saem do comum.”

Entre livros e bicicletas Conhecimento é fundamental para quem não quer levar gato por lebre. “Não precisa ser um expert, mas é bom conhecer um pouco e contar com a ajuda de algum amigo que saiba um pouco mais”, afirma o professor universitário Odir Züge Junior, 40 anos, que tem sete bicicletas, para diferentes usos, todas de segunda mão. “Fui criado numa cultura que valoriza a conservação: quem compra tudo novo é porque não sabe cuidar do que tem. No caso das bicicletas, muitas vezes é muito melhor ter uma boa usada, barata, a uma bicicleta nova, mas de qualidade muito inferior”, afirma.

Odir dá dicas também para evitar dor de cabeça. “Para qualquer item, é preciso garimpar. Sites de classificados, brasileiros e estrangeiros, também podem fornecer boas pechinchas”, afirma. Móveis de madeira, por exemplo, podem ter encontrados em bazares beneficientes por preços melhores do que nos antiquários, assim como equipamentos esportivos podem ser encontrados em fórums específicos para os praticantes de cada esporte.

Frequentador contumaz de sebos, o professor Luís Mauro Sá Martino começou por um motivo comum e que dispensa teorias: falta de dinheiro. “Acho que desenvolvi imunidade contra ácaros”, brinca. “A melhor coisa é encontrar o livro que se está procurando com um preço ótimo - geralmente, metade do de uma livraria normal - e em bom estado. Vou aos sebos como vou às livrarias. Não vejo muita diferença nas duas situações.”     

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